Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/836667-filho-de-glauber-rocha-estreia-com-personalidade.shtml
Eryk Rocha, 32 anos, carrega a sina de ser filho de Glauber Rocha (1939-1981), porta-voz do Cinema Novo, referência recorrente da produção nacional, nome carregado de significados.
Fingir que, sendo ele cineasta, a influência paterna não existe, seria impossível. Ficar escravo dela, seria arriscado --fatal até.
Pois ao comparecer ao Festival de Cinema Brasília para apresentar sua primeira ficção, "Transeunte", Eryk demonstrou que conseguiu aproveitar da herança o que podia ser aproveitado, sem se deixar encolher por ela.
O diretor, autor dos documentários "Rocha que Voa" e "Pachamana", uniu, na ficção, as obsessões estéticas do pai a uma delicadeza que é totalmente sua.
O filme, produzido pela Video Filmes, de Walter Salles, procura, como define o próprio diretor, "a experiência da ficção amalgamada com a do documentário".
"O centro do Rio é um personagem do filme. A gente não fechou nem uma rua, nem um bar para as filmagens", explicou o cineasta à Folha. "O acaso foi transformando a história", diz o cineasta, que escreveu o roteiro com Manuela Dias.
"Transeunte", filmado em Super-16 e fotografado em preto-e-branco, segue pelas ruas do Rio de Janeiro o aposentado Expedito, vivido pelo ator Fernando Bezerra, alma do filme. Expedito é apenas um entre os incontáveis solitários que qualquer cidade grande anonimamente acolhe.
O tempo do filme é o tempo da vida que passa lenta, esgarçada pelas pessoas que morreram e pela rotina de poucos afazeres. Expedito não fala com quase ninguém. Ouve programas de rádio e vai a serestas. São as canções de amor da seresta, elas também intepretadas por anônimos, que alinhavam essa narrativa que procura estabelecer, com o espectador, uma relação de intimidade.
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