Por Tiago Bacelar
No Japão existe cerca de 120 editoras de mangás, divididas em pequeno, médio e grande porte. As médias são responsáveis por mangás mais refinados e selecionados para um leitor mais exigente. Para enfrentarem a competição entre as concorrentes no mercado editorial de mangás, as pequenas priorizam a quantidade sobre a qualidade, seguindo a regra de quanto mais títulos à editora tiver melhor será para ela.
Apesar de as editoras de pequeno e médio porte serem em grande número, é as grandes editoras que determinam os caminhos a seres seguidos pelo mercado editorial, em virtude de suas tiragens astronômicas, dignas de inveja por qualquer grande empresa do gênero no ocidente. Dentre as três maiores estão a Kodansha, a Shueisha e a Shogakukan. Além dessas, existem cerca de dez outras editoras que ficam em segundo lugar, incluindo nelas a Akita Shoten, a Kadokawa Shouten, a Square Enix, a Futabasha, a Shounen Gahosha, a Tokuma Shoten, a Seishinsha, a Shodensha e a Hakusensha. Isto sem mencionar as incontáveis editoras de fundo de quintal.
As grandes editoras também publicam revistas e livros não relacionados aos mangás. Estima-se que existam cerca de seis mil artistas profissionais de mangá no Japão. Dos quais, todos têm publicado pelo menos um volume de mangá. A maioria deles tem que trabalhar no dia a dia como assistentes de mangakas famosos ou são obrigados a complementarem sua renda com outras atividades. Apenas 600 deles ou dez por cento do total, conseguem fazer um salário acima da média vivendo apenas do seu trabalho como desenhista de mangá. Existe ainda uma grande quantidade de amadores que produzem pequenas revistas concebidas para circulação privadas, chamadas de Dojinshi[1]. No Japão, os mangakas possuem uma certa independência e desenvolvem os seus trabalhos através de projetos realizados em editoras e empresas jornalísticas, onde estão ligados diretamente. Nesse caso, não há uma obrigação deles estarem também vinculados a algo parecido como os syndicates norte-americanos[2]. A editora Kodansha é uma das mais importantes editoras de mangás no Japão, que por consecutivas gerações é comandada pela família Noma. Seiji Noma fundou a editora em 1909, ano da publicação da primeira revista, a Yuben. Em 1911, foi à vez do lançamento da Kodan Club, uma coletânea mensal de histórias tradicionais da cultura japonesa.
O sucesso da Kodan Club assegurou o futuro da editora. Em 1914, lança a Shonen-kurabu, publicada mensalmente, em 1923, a semanal Shoujo club, e em 1926, a mensal Younen Club. Estas publicações foram, de certo modo, o protótipo dos enormes mangás que são publicados hoje em dia no Japão, especializados de acordo com a faixa etária e o sexo do leitor. Nos anos 30, a Kodansha tinha alcançado a liderança no mercado com a publicação de nove revistas. A publicação de mangás para valer só começou no final dos anos 50, quando Sawako Noma assumiu a presidência da editora.
A Kodansha tem hoje um capital de giro de 300 milhões de yens[3] e uma venda anual de 189,4 bilhões de yens[4]. A Shonen Magazine, lançada no dia 17 de Março de 1959 foi à primeira revista da Kodansha, do estilo Shonen[5], e é hoje uma das mais importantes do Japão com circulação de mais de 4,5 milhões de exemplares por semana. Nas páginas da Shonen Magazine, já passaram séries renomadas como: Get Backers, de Yuka Aoki e Rando Ayamine, Samurai Deeper Kyo, de Kamijyo Akimine, Groove Adventure Rave, de Majima Hiro e Air Gear, de “Oh! Great!”, mesmo autor do grande sucesso Himiko-den. Além de Hajime No Ippo, de Morikawa Jouj, Tsubasa: Reservoir Chronicle, do Clamp, Tantei Gakuen Q[6], de Amagi Seimaru e Satou Humiya, Magister Negi Magi e o sucesso Love Hina, de Ken Akamatsu, e várias outros que não caberiam aqui. Vale-se ressaltar que no caso da revista Shonen Magazine, são publicados capítulos de cerca de 40 títulos diferentes, desenhados por autores diferentes.
Em média, cada um é publicado com cerca de 20 páginas, o que daria em torno de 800 páginas por edição semanal. Além da Shonen Magazine, da Kodan Club e da Yuben, a Kodansha publica outros títulos na área de mangás como: a Shukan Shonen Magazine, de publicação semanal; a Magazine Special, mensal; a Gekkan Shonen Magazine, mensal; a Young Magazine, mensal; a Young Magazine Uppers, quinzenal, a Magazine Z, mensal, a Comic Bon-Bon, mensal; e a Morning, semanal. Juntas todas as revistas vendem aproximadamente 45 milhões de exemplares por mês, o que mostra o quanto o mangá está consolidado no Japão como hábito de leitura. No estilo Shoujo[7], o destaque fica para a Nakayoshi[8], revista mensal, criada em Dezembro de 1954, com uma média 700 páginas por edição. Vários mangás se tornaram famosos nessa publicação. Dentre eles estão: Bishoujo Senshi Sailor Moon[9], de Naoko Takeuchi e Card Captor Sakura, do Clamp. Surgida em 1962, a Afternoon, da editora Kodansha, é uma revista mensal, com média de 1000 páginas por edição. Em média, vende cerca de três milhões de cópias por semana. Nas suas páginas, saíram sucessos como Mahou Kishi Rayearth, dentre outros.
As outras revistas femininas da Kodansha são: a Afternoon Season Zokan, bimestral; a Evening, mensal; a Bessatsu Friend[10], mensal; a Kiss, quinzenal, a Be Love, quinzenal; a Be Love Parfait, mensal; a Dessert, mensal; a The Dessert, bimensal; a Juliet, bimensal; a One more Kiss, bimensal; e a Vanilla, mensal. Todas elas têm uma tiragem de aproximadamente 22 milhões de exemplares por mês[11]. A Kodansha publica ainda edições no estilo Shogaku[12] que são elas: a Tanoshii Yochien[13], mensal; a Otomodachi, mensal; a Genki, mensal; a TV Magazine, mensal; e a NHK-no Okasanto Issho[14], mensal. Essas revistas, que não são os carros-chefes da Kodansha, possuem uma tiragem de quatro milhões de exemplares por mês.
Mesmo assim tem o seu público garantido a cada edição publicada. A Shogakukan é uma das três maiores editoras do Japão. Ela foi fundada, em 1922, por Takeo Aiga. Acabou se especializando em livros voltados para o público infantil, juvenil e outros na área da educação. Na publicação de mangás, posso citar a Shonen Sunday, para jovens do sexo masculino, a Big Comic para o público adulto e a Shoujo Comic para as garotas.
A Shogakukan foi fundada inicialmente como uma editora para publicação de livros escolares. Nessa época, foram lançadas revistas, voltadas para estudantes de escolas de nível básico, como também, publicações mensais para os professores dessas instituições japonesas. O objetivo inicial era criar, no mercado editorial nipônico, uma imagem bastante positiva perante as classes mais conservadoras. Dessa forma, a editora Shogakukan teria a imagem de uma empresa “preocupada” com qualidade de ensino das crianças no Japão. Essa variedade de publicações foi expandida, através do lançamento de revistas para crianças em idade pré-escolar, livros de pintura, dicionários, livros ilustrados para consulta e enciclopédias.
Em 17 de março de 1959, lança a sua primeira revista semanal de mangá, a Shonen Sunday, voltada para os garotos. Vários mangás se tornaram populares nessa revista. Dentre eles estão: Osomatsukun, de Fujio Akatsuka, e Ranma ½, de Rumiko Takahashi. Atualmente, Meitantei Conan[15] está sendo publicado na revista, onde estreou em 1996, e é um dos mais vendidos do Japão. A Shonen Sunday tem uma média de 500 páginas e uma publicação de quatro milhões de exemplares por edição. A Big Comic é publicada pela Shogakukan desde abril de 1968.
Quando os leitores de mangás passaram pela universidade, e, começaram a trabalhar, surpreendentemente, eles continuaram acompanhando as histórias lançadas pelas editoras japonesas. Pensando em atingir esse público, a Shogakukan decidiu lançar uma nova revista de mangá voltada para o público adulto, no estilo geki-ga, o mesmo que falei anteriormente, que no início se apropriou das inovações propostas por Osamu Tezuka, após a Segunda Guerra Mundial. No seu começo, ela era mensal, e hoje é semanal. O mais famoso mangá publicado pela Big Comic foi Golgo 13, uma história de espionagem e ação, do mangaka Takao Saito. Foi por essa razão, que Golgo 13 foi lançado por 30 anos, com grande sucesso. Hoje a Shogakukan publica 19 revistas de mangás e vende cerca de 200 milhões de mangás por ano.
Em 1925, a Shueisha foi criada pela editora Shogakukan com a finalidade de publicar revistas de entretenimento. Em agosto de 1926, a Shueisha, segundo Poitras[16], “tornou-se uma companhia independente”. Em 1949, a editora Shueisha foi criada. Desde então, tem continuado a publicar revistas populares uma depois da outra e se tornou uma das líderes da vendagem de mangás no Japão.
A Shonen Jump[17] , revista semanal no estilo Shonen, tem uma média de 600 a 700 páginas por edição. É uma revista de mangás bastante popular entre os jovens do sexo masculino no Japão. Criada em 1956, acabou se tornando uma das publicações mais importantes do Japão. Na sua época de ouro, a Shonen Jump chegou a vender sete milhões de cópias por edição. Tudo isso, graças a Akira Toriyama com a obra Dragon Ball e a Motoei Shinzawa com o Colégio Kimengumi. Recentemente, por causa do aumento de títulos populares, lançados por outras editoras, sua circulação foi reduzida para cinco milhões de cópias, sendo ainda bastante alta se comparada com os padrões japoneses.
Ainda existe a edição semanal, Shukan Shonen Jump e a mensal Gekkan Shonen Jump. Muitos dos mangás da Shueisha conseguiram romper todas as barreiras culturais e fizeram sucesso em outros países da Ásia, Europa e na América. Criada em 1959, com a finalidade de atingir o público juvenil feminino, a Margaret tem sua importância histórica no que se refere ao mangá Shoujo. Isso deve a escassez desses tipos de mangás, nessa época no Japão, pois eles não eram ainda muito populares. Publicada semanalmente, com uma média de 500 páginas, a Margaret conquistou o público, e nela saíram séries como Hana Yori Dango, Ichigatsu ni wa Christmas, POPS e Nurse Angel Ririka S.O.S., de Ikeno Koi. A Shueisha também publica uma variedade de revistas voltadas para o público juvenil e adulto. Os lançamentos da Shueisha não se limitam aos mangás, também são editados livros infantis, romances, dicionários, livros artísticos. Tudo isso tornou a Shueisha uma das três maiores editoras do Japão, juntamente com a Shogakukan e a Kodansha. No Japão, os mangakas não só vivem de desenhar, como são ricos, muito famosos e conhecidos do público. Não é raro, vê-los cercados por otakus para darem autógrafos, são constantemente convidados a programas especiais de televisão, fazem comerciais de produtos, mesmo não relacionados com o mangá, são objeto de artigos em jornais, revistas, biografias e, se o sucesso é muito grande, segundo Sharer[18], “ficam prisioneiros da própria fama”.
Um exemplo disso é o caso do mangaka Akira Toriyama, que em virtude do sucesso de Dragon Ball, que chegou a vender 270 milhões de cópias no Japão, foi proibido de viajar de avião pela editora Shueisha. Isso aconteceu, por incrível que possa parecer, pois eles poderiam perder Toriyama em algum acidente, o responsável pela mina de ouro, que rendia milhares de dólares a editora Shueisha. É por isso que muitos mangakas iniciantes preferem trabalhar por conta própria com receio de perder a sua liberdade como artista e pessoal. Além disso, a meu ver, há outros fatores que explicam a condição diferenciada do mangaka em relação à de desenhistas de outros países.
Em primeiro lugar, não existe nenhuma concorrência estrangeira no mercado editorial japonês, o que possibilita o surgimento de várias oportunidades de trabalho para os mangakas nesse campo de atuação. A produção é praticamente 100% nacional, com raríssimas traduções de quadrinhos estrangeiros. A razão para isso seria que as histórias ocidentais não são populares entre os japoneses, pois têm pouca penetração. Apesar de deixarem de ser conhecidas através de merchandising.
A leitura e o conhecimento, por exemplo, dos comics americanos e europeus restringe-se apenas aos intelectuais e os próprios mangakas. As pessoas têm simpatia pelos personagens estrangeiros estampados em diversos produtos de merchandising, como artigos de papelaria e confecções. Mas, essa identificação acaba quando são colocados no contexto de uma história ou na seqüência periódica de uma revista.
[1] Fanzines.
[2] São instituições que empregam principalmente desenhistas, jornalistas, críticos e cronistas. Elas têm uma função parecida com a de uma agência de notícias, que vendem o seu produto para jornais e revistas.
[3] Aproximadamente três milhões de dólares.
[4] Aproximadamente um bilhão e 640 milhões de dólares.
[5] Voltada para o público adolescente masculino.
[6] Detetive Escolar Q.
[7] Voltado para o público adolescente feminino.
[8] Ser amigo.
[9] A bonita guerreira Sailor Moon.
[10] Suplemento amigo.
[11] Excluem-se desse número as que são bimestrais.
[12] Voltada para o público infantil.
[13] Histórias alegres e agradáveis.
[14] Acompanhados e unidos na firme terra da NHK.
[15] Detetive Conan.
[16] POITRAS, Gilles. Manga and Anime: Everything a Fan Needs to Know, Stone Bridge Press. Estados Unidos. 2000. p. 96.
[17] Salto Jovem.
[18] SHARER, Liana, A History of Manga, Page Wise, Los Angeles, Estados Unidos. 2000.p. 89.
Um exemplo disso é o caso do mangaka Akira Toriyama, que em virtude do sucesso de Dragon Ball, que chegou a vender 270 milhões de cópias no Japão, foi proibido de viajar de avião pela editora Shueisha. Isso aconteceu, por incrível que possa parecer, pois eles poderiam perder Toriyama em algum acidente, o responsável pela mina de ouro, que rendia milhares de dólares a editora Shueisha. É por isso que muitos mangakas iniciantes preferem trabalhar por conta própria com receio de perder a sua liberdade como artista e pessoal. Além disso, a meu ver, há outros fatores que explicam a condição diferenciada do mangaka em relação à de desenhistas de outros países.
Em primeiro lugar, não existe nenhuma concorrência estrangeira no mercado editorial japonês, o que possibilita o surgimento de várias oportunidades de trabalho para os mangakas nesse campo de atuação. A produção é praticamente 100% nacional, com raríssimas traduções de quadrinhos estrangeiros. A razão para isso seria que as histórias ocidentais não são populares entre os japoneses, pois têm pouca penetração. Apesar de deixarem de ser conhecidas através de merchandising.
A leitura e o conhecimento, por exemplo, dos comics americanos e europeus restringe-se apenas aos intelectuais e os próprios mangakas. As pessoas têm simpatia pelos personagens estrangeiros estampados em diversos produtos de merchandising, como artigos de papelaria e confecções. Mas, essa identificação acaba quando são colocados no contexto de uma história ou na seqüência periódica de uma revista.
[1] Fanzines.
[2] São instituições que empregam principalmente desenhistas, jornalistas, críticos e cronistas. Elas têm uma função parecida com a de uma agência de notícias, que vendem o seu produto para jornais e revistas.
[3] Aproximadamente três milhões de dólares.
[4] Aproximadamente um bilhão e 640 milhões de dólares.
[5] Voltada para o público adolescente masculino.
[6] Detetive Escolar Q.
[7] Voltado para o público adolescente feminino.
[8] Ser amigo.
[9] A bonita guerreira Sailor Moon.
[10] Suplemento amigo.
[11] Excluem-se desse número as que são bimestrais.
[12] Voltada para o público infantil.
[13] Histórias alegres e agradáveis.
[14] Acompanhados e unidos na firme terra da NHK.
[15] Detetive Conan.
[16] POITRAS, Gilles. Manga and Anime: Everything a Fan Needs to Know, Stone Bridge Press. Estados Unidos. 2000. p. 96.
[17] Salto Jovem.
[18] SHARER, Liana, A History of Manga, Page Wise, Los Angeles, Estados Unidos. 2000.p. 89.