Nos anos 1960, a França viveu um momento mágico de ruptura com o cinema clássico hollywoodiano com o movimento da Nouvelle Vague e do auge da revista Cahiers Du cinema. Nessa nova onda surfaram cineastas como Jean-Luc Godard, Alan Resnais, François Truffaut e Eric Rohmer.
A Nouvelle Vague mudou a forma de construção do tempo da narrativa diegética e através de um Jump Cut voamos para 1992, ano de produção do filme Conto de Inverno. Adaptado da peça “The Winter’s Tale”, do inglês William Shakespeare, esta produção cinematográfica foi dirigida pelo mestre dos diálogos, Eric Rohmer.
No cinema, nós temos duas formas de conduzir uma história. A primeira é pelo tempo enquanto experiência estética narrativa. Na segunda, o espectador é guiado para o espaço psicanalítico do personagem. Nós entramos em seu subconsciente, sabemos suas angústias, seus medos, seus pensamentos, se identificando com ele.
Em Conto de Inverno, os personagens são levados dentro da diegese pela força do texto e não pela interpretação ou pela música. A montagem é marcada por planos autônomos e pelo domínio da gramática cinematográfica dos anos 70 e 80. O filme reverbera uma trama extremamente datada, indo de 14 a 31 de dezembro, de um assunto típico do cotidiano, pessoas indo de um lugar para o outro.
Os personagens falam sem titubear, guiando-se pelo texto. Eles ultrapassam as curvas dramáticas desenhadas por Eric Rohmer, chegando a um clímax sem a dramaticidade típica da cinematografia clássica hollywoodiana. Filosoficamente falando, Conto de Inverno traz muito do conceito de Deleuze de Imagem-Tempo e Imagem-Movimento e inúmeras referências a outros autores.
Em questionamentos sobre o sobrenatural, o religioso, a reencarnação e o moralismo, Rohmer explora a dualidade sobre o corpo e o espírito abordados pelo autor de Os Miseráveis, Victor Hugo. Através do texto, o diretor usa a personagem Felície, por sua confusão mental de nunca conseguir se estabelecer num relacionamento fixo, para explicitar a fraqueza da alma dela, apesar da aparência bela externamente.
Isso traz a tona à problemática do descompromisso em relação ao belo e sublime de Kant. A falta de consciência e perda de uma identidade própria por Felície faz renascer o pensamento de reencarnação de Platão. Remetendo a Grécia Clássica, Charles entra na mitologia do mito no tempo diegético de Conto de Inverno.
Em busca do dilema de Hamlet, Ser ou Não, eis a questão, Felície encarna a Julieta em busca do seu amor perdido. Ao abdicar do seu amor por Felície, o cabeleireiro Maxence assume o papel do velho rei ao largar o trono em Rei Lear. Löic seria o Peregrino Apaixonado de Shakespeare, pois não sabe o que fazer na história com sua paixão por Felície. Ele viaja no filme sem direção numa névoa platônica.
Todas essas intertextualidades são muito bem construídas por Eric Rohmer em Conto de Inverno. É uma experiência estética em que nós espectadores somos levados para dentro da diegese por um texto bem amarrado, sem pontos falhos. Fica claro o quanto o diretor tenta nos guiar dentro do universo romântico e tragicômico dos Contos das Quatro Estações, de William Shakespeare.
Existem outros três filmes de Eric Rohmer, explorando o Verão, a Primavera e o Outono. Apesar de em Conto de Inverno possamos ver a dualidade entre Verão e Inverno. O Verão é o porto seguro de Felície, banhando por uma trilha de piano, amor, contemplação da natureza, felicidade e pelo nascimento de sua filha Elise com Charles.
No Inverno encontramos a cidade, o caos urbano, pressa, frio, desconfiança, trabalho de cabeleireira e confusão mental de Felície em meio a múltiplos relacionamentos e vários amores. A protagonista não sabe para onde ir. Está sempre indo e vindo para um lugar qualquer, um lugar nenhum.
Não há o porto seguro do Verão. Nós surfamos na nova onda de Eric Rohmer na sua belíssima construção temporal e espacial de uma história diegética em que esperamos ansiosamente para o surgimento do acaso, o reaparecimento do mito desaparecido e sempre relembrado, e o retorno ao tempo de paz suprindo o caos.
A Nouvelle Vague mudou a forma de construção do tempo da narrativa diegética e através de um Jump Cut voamos para 1992, ano de produção do filme Conto de Inverno. Adaptado da peça “The Winter’s Tale”, do inglês William Shakespeare, esta produção cinematográfica foi dirigida pelo mestre dos diálogos, Eric Rohmer.
No cinema, nós temos duas formas de conduzir uma história. A primeira é pelo tempo enquanto experiência estética narrativa. Na segunda, o espectador é guiado para o espaço psicanalítico do personagem. Nós entramos em seu subconsciente, sabemos suas angústias, seus medos, seus pensamentos, se identificando com ele.
Em Conto de Inverno, os personagens são levados dentro da diegese pela força do texto e não pela interpretação ou pela música. A montagem é marcada por planos autônomos e pelo domínio da gramática cinematográfica dos anos 70 e 80. O filme reverbera uma trama extremamente datada, indo de 14 a 31 de dezembro, de um assunto típico do cotidiano, pessoas indo de um lugar para o outro.
Os personagens falam sem titubear, guiando-se pelo texto. Eles ultrapassam as curvas dramáticas desenhadas por Eric Rohmer, chegando a um clímax sem a dramaticidade típica da cinematografia clássica hollywoodiana. Filosoficamente falando, Conto de Inverno traz muito do conceito de Deleuze de Imagem-Tempo e Imagem-Movimento e inúmeras referências a outros autores.
Em questionamentos sobre o sobrenatural, o religioso, a reencarnação e o moralismo, Rohmer explora a dualidade sobre o corpo e o espírito abordados pelo autor de Os Miseráveis, Victor Hugo. Através do texto, o diretor usa a personagem Felície, por sua confusão mental de nunca conseguir se estabelecer num relacionamento fixo, para explicitar a fraqueza da alma dela, apesar da aparência bela externamente.
Isso traz a tona à problemática do descompromisso em relação ao belo e sublime de Kant. A falta de consciência e perda de uma identidade própria por Felície faz renascer o pensamento de reencarnação de Platão. Remetendo a Grécia Clássica, Charles entra na mitologia do mito no tempo diegético de Conto de Inverno.
Em busca do dilema de Hamlet, Ser ou Não, eis a questão, Felície encarna a Julieta em busca do seu amor perdido. Ao abdicar do seu amor por Felície, o cabeleireiro Maxence assume o papel do velho rei ao largar o trono em Rei Lear. Löic seria o Peregrino Apaixonado de Shakespeare, pois não sabe o que fazer na história com sua paixão por Felície. Ele viaja no filme sem direção numa névoa platônica.
Todas essas intertextualidades são muito bem construídas por Eric Rohmer em Conto de Inverno. É uma experiência estética em que nós espectadores somos levados para dentro da diegese por um texto bem amarrado, sem pontos falhos. Fica claro o quanto o diretor tenta nos guiar dentro do universo romântico e tragicômico dos Contos das Quatro Estações, de William Shakespeare.
Existem outros três filmes de Eric Rohmer, explorando o Verão, a Primavera e o Outono. Apesar de em Conto de Inverno possamos ver a dualidade entre Verão e Inverno. O Verão é o porto seguro de Felície, banhando por uma trilha de piano, amor, contemplação da natureza, felicidade e pelo nascimento de sua filha Elise com Charles.
No Inverno encontramos a cidade, o caos urbano, pressa, frio, desconfiança, trabalho de cabeleireira e confusão mental de Felície em meio a múltiplos relacionamentos e vários amores. A protagonista não sabe para onde ir. Está sempre indo e vindo para um lugar qualquer, um lugar nenhum.
Não há o porto seguro do Verão. Nós surfamos na nova onda de Eric Rohmer na sua belíssima construção temporal e espacial de uma história diegética em que esperamos ansiosamente para o surgimento do acaso, o reaparecimento do mito desaparecido e sempre relembrado, e o retorno ao tempo de paz suprindo o caos.