sábado, 30 de junho de 2007

Entrevista

Texto por Tiago Bacelar (autor desse blog)
Publicado originalmente em:
Nos dias atuais, a televisão brasileira, especialmente a paga, vive um boom de desenhos japoneses, conhecidos como animês. No Japão, a cada ano são produzidas mais de 200 séries voltadas para a TV, DVD e cinema. Muitas acabam se tornando populares na Europa e Américas como Dragon Ball, Candy-Candy, Devilman, Astro Boy, Mazinger Z, Gundam e Sailor Moon. Para realizar essa tarefa de criar esses sucessos, existem, de acordo com o Ministério da Economia, Indústria e Comércio do Japão, mais de 400 companhias.
Desses estúdios, cerca de 60% estão alojados na cidade de Tóquio. É um gigantesco mercado, que supera até mesmo o mercado norte-americano e francês, sendo responsável por quase 60% de todas as animações exibidas anualmente nas TVs e cinemas do mundo inteiro. Segundo a Associação de Animações Japonesas, formada por 40 estúdios, os fãs dessas produções nipônicas têm crescido principalmente entre jovens, tornando termos como animê, mangá cosplay e J-pop, muito populares entre eles.
Em 2005, os Estados Unidos reuniu em pouco mais de 20 eventos pelo país quase 100 mil fãs, sendo a maioria deles na Animê Expo e Otakon. De acordo com o estudo feito pela Organização de Comércio Exterior do Japão, Jetro, as vendas de animês nos Estados Unidos, em 2002, incluindo produtos relacionados a essas séries, passaram dos 4,7 bilhões de dólares. Na China, mais da metade dos personagens mais populares são japoneses. Pokémon já foi exibido em mais de 70 países e Crayon Shin-chan em 50.
Hoje, apesar da língua, religião e diferenças culturais, o animê tem o poder para influenciar e em até muitos casos manipular pessoas, através de séries de cunho político-cultural. O mercado de animês no Japão, incluindo filmes, séries para TV, músicas, licenciamento de personagens e DVDs, chegou recentemente a marca de 27 bilhões de dólares. Levando-se para o lado global, o Centro de pesquisas japonês Stanford, estima que os animês rendem por ano aos japoneses a impressionante cifra de 100 bilhões de dólares.
A história dos seriados japoneses no Brasil teve seu início com a inauguração em 18 de setembro de 1950, pelo jornalista Francisco de Assis Chateaubriand, da TV Tupi de São Paulo, a primeira emissora do Brasil e da América Latina.
O começo dela foi marcado por estúdios pequenos e equipamentos precários. Com os problemas para preencher toda a programação, atrações de outros países tiveram que ser importadas para resolver a situação crítica. Curiosamente, o primeiro desenho animado exibido no Brasil foi Pica-Pau, pela emissora de Chateaubriand, dublado em inglês. Isso aconteceu, pois a dublagem nacional só surgiria em 1957, com o filme “O Drama de Nora Hale”, exibido na Sessão Ford na TV, programa da TV Tupi. Nesse meio tempo surgiu a Gravasom, primeiro estúdio de dublagem de São Paulo. Com o crescimento da dublagem, personagens clássicos da Hanna-Barbera como Manda-Chuva e Wally-Gator ganhariam suas vozes no Brasil pelo ator Lima Duarte. Aos poucos, os programas ganharam forma: o primeiro telejornal, a primeira novela e a primeira série japonesa.
Em 1962, surge na Tupi à primeira produção vinda do oriente, o seriado Nacional Kid. O herói, vindo da galáxia de Andrômeda, tinha como missão defender o mundo dos incas venusianos. No total, Nacional Kid protagonizou 39 episódios. Em 1964, a série sai da Tupi e vai para a TV Record, onde fica até o final de 1967. A Rede Globo veiculou Nacional Kid de 1968 a 1969. Esses episódios, que marcaram toda uma geração, foram perdidos, em sua totalidade, num incêndio ocorrido na TV Globo de São Paulo, em 1969. Depois desse acidente, passaram-se muitas e muitas décadas, e, chegamos ao ano de 1993.
Nesse período, a série Nacional Kid foi adquirida junto aos japoneses para o mercado de vídeo pela Sato Company, através do seu dono Nelson Sato, com uma nova dublagem feita na Emérson Camargo, em São Paulo. “A redublagem de Nacional Kid foi complicada, pois a versão original tinha sido perdida. Por sorte, encontrei o Emérson Camargo, que me ajudou bastante, principalmente, por ter aceitado voltar a dublar especialmente para essa série, revivendo a voz de Nacional Kid feita por ele que ecoou e marcou toda uma geração nos anos 60 no Brasil. Melhor do que isso foi a volta de Nacional Kid a TV aberta no Brasil com a sua ida para a TV Manchete, em 1996. Pena que esse fenômeno não durou tanto tempo”, contou Nelson Sato.
Nacional Kid marcou toda uma geração de brasileiros com suas histórias repletas de situações mirabolantes e foi responsável pela vinda de vários animês nesse período. Ela foi fundamental para chamar a atenção do público brasileiro para essas séries desconhecidas até então. Conta-se a lenda que em 1997, foi encontrado, em um sótão, na cidade de Porto Alegre, todos os episódios de Nacional Kid com a dublagem original, feita na Aic, em São Paulo. Até hoje, essa história não foi confirmada.
De lá para cá passaram-se vários anos, muitas séries vieram para o Brasil, e chegamos ao ano de 2005...
BATE-PAPO
O dia 31 de julho de 2005 marcou a chegada do Canal Animax, um dos mais famosos da televisão japonesa, no Brasil. O canal Animax pertence ao grupo nipônico Sony, dono de canais como a HBO, a Sony Entertainment Television e a Warner Channel na América Latina. Com programação dedicada 24 horas por dia à animação japonesa, o canal manteve grande crescimento durante os últimos anos em todos os países onde é exibido.
Numa parceria inédita no Brasil com a Editora JBC, que publica uma série de mangás traduzidos no Brasil, e a Álamo, a Sony visa atingir um público alvo entre 12 a 30 anos. Todas essas séries do Animax estão sendo exibidas com dublagem em português, feita no estúdio Álamo, depois de tradução feita pela Editora JBC. Séries renomadas como Burst Angel, Fullmetal Alchemist, Getbackers, Vandread, Crayon Shin-Chan, Noir, Loki, Samurai 7, Initial D, Gantz e Prince of Tennis são os destaques do canal.
Com a vinda do Animax, a tendência é que aumente a briga entre as emissoras de TV paga. O mercado de anime tende a se consolidar com a vinda de mais e mais séries oficiais para o Brasil, reduzindo assim o comércio pirata existente no país. Para uma análise mais aprofundada do Animax e do mercado de animes no Brasil, conversei com a gerente de marketing do ANIMAX no Brasil, Stefania Granito.
Tiago Bacelar - Por que a Sony, uma empresa que investe tradicionalmente em séries e filmes americanos, decidiu criar um canal como o Animax com 24 horas de pura animação japonesa? Afinal, no próprio Japão, isso não é muito comum, em virtude de existirem vários canais como TV Tokyo e YTV, que exibem muitos animês, mas não ocupam toda a grade.
Stefania Granito - Antes de tudo a Sony é uma empresa voltada ao entretenimento e não a séries e filmes americanos. A proposta da empresa é levar aos telespectadores uma programação de qualidade. Para isso tomamos como base as tendências de mercado para montarmos as grades de programação dos canais e até mesmo de novos canais. Nos EUA não existe um canal exclusivamente dedicado a séries, reality shows e premiação.
TB - Como a Sony analisa o bilionário mercado de animês no Japão?
SG - Como uma grande oportunidade, por isso a decisão de investir num canal focado nesse gênero.
TB - Quando e por que a Sony decidiu que era hora de lançar o Animax em outros países? Em quais países o Animax é exibido?
SG - O Animax nasceu em 1998 e devido ao seu grande êxito neste país e ao potencial do mercado global a Sony resolveu abrir novos sinais para novas regiões. Hoje o Animax é exibido no Japão, Hong Kong, Singapura, Tailândia, Índia e em outros países do sudoeste asiático. No continente americano estamos na Argentina, México, Brasil, Venezuela, Panamá, República Dominicana, Costa Rica, Bolívia, Paraguai, Honduras, El Salvador, Colômbia e Peru.
TB - Por que a Sony decidiu lançar o Animax na América Latina?
SG - Justamente por conta da popularidade do animê que continua crescendo no mundo todo.
TB - No Brasil, o mercado de animês na TV sempre viveu altos e baixos. Iniciou-se na finada TV Tupi e teve febres momentâneas na Rede Globo e TV Record. A partir da década de 80, o domínio ficou por conta do SBT, Rede Globo, TV Record e Rede Manchete. Por sua vez, nos anos 90, houve o domínio da TV Manchete, principalmente com a exibição de Cavaleiros do Zodíaco, transmitido de 94 a 98 e chegou a ter picos no ibope de 25 pontos. A partir do fim da Manchete, os animês se voltaram para TV paga com a Fox Kids (hoje Jetix), a extinta Locomotion e o Cartoon Network, sendo intercalados pela febre de Pokémon na TV Record e Dragon Ball Z na Bandeirantes/TV Globo. Tendo iniciado suas exibições desde o final de julho de 2005, como o Animax analisa o mercado de animês no Brasil e quais são as suas perspectivas de crescimento?
SG - O animê anos atrás estava posicionado dentro dos programas infantis, (ou pelo menos no horário em que as crianças eram o principal foco das redes de TV) junto com um milhão de outros desenhos animados. Era simplesmente uma atração daquele horário. O que vemos hoje é uma legião de cultuadores do animê, que definitivamente não são crianças assistindo a qualquer coisa à tarde só porque é divertido, mas sim um pessoal que assiste ao que gosta e tem motivos fortes para tanto. Isso reflete diretamente no mercado, os animês não são mais uma atração qualquer de criança e sim uma grande fonte de lazer e prazer para muita gente. TB - Quais foram os critérios utilizados para a compra dos direitos das séries exibidas no Brasil?
SG - Qualidade, qualidade, qualidade e também, obviamente, a disponibilidade de direitos de transmissão para o mercado em questão. Não é raro nos interessarmos bastante por um determinado animê, e por mais que exista o desejo de transmiti-lo, muitas vezes, ele ainda não está disponível contratualmente para ser exibido fora do seu país de origem.
TB - Séries como Full Metal Alchemist e Getbackers estão repercutindo de forma muito positiva nos Estados Unidos. Quais são os animês do Animax que estão fazendo mais sucesso nesses seis meses desde a estréia? E como esses números estão sendo medidos, por que tipo de pesquisas?
SG - Nossos animês exibidos dentro do horário nobre, certamente, são os mais festejados pelos fãs do canal. Medimos nossas performances por meio do IBOPE.
TB - Por que o Animax, ao chegar a América Latina, decidiu substituir o Locomotion, em vez de usar um outro sinal?
SG - Por uma simples questão de estrutura instalada.
TB - O que aconteceu com os direitos dos animês, exibidos pela Locomotion? Venceram ou vocês os compraram junto com o canal? Digo isso, pois animês da Locomotion acabaram sendo aproveitados no Animax como Lain, Arjuna, Saber Marionette J e Saber Marionette J to X.
SG - A programação do Locomotion foi analisada pela equipe do canal e diante disso alguns foram mantidos outros foram deixados de lado.
TB - Tendo um público mundial de 21 milhões de assinantes, sendo 350 mil no Brasil, como o Animax pretende ampliar esse número no Brasil?
SG - Através do crescimento da sua base de assinantes.
TB - Por que o Animax escolheu a Editora JBC para traduzir suas séries e o Estúdio Álamo de São Paulo para dublá-las? Como o Animax analisa o trabalho delas até então?
SG - Foram escolhidos por serem parceiros de confiança da área de produção do canal.
TB - Para finalizar, que trabalho de divulgação o Animax está fazendo para aumentar o número de assinantes e de fãs de animês no Brasil e conseqüentemente reduzir o número de piratas no país com a vinda de mais produtos.
SG - Para a divulgação do Animax, trabalhamos com diversos veículos: anunciamos em mangás; criamos um sistema de animês legendados que levam mensagem de um internauta para outro http://www.animêssenger.com.br/; criamos postais que hoje em dia até estão sendo vendidos em sites de leilão; trabalhamos com blitz em locais onde o público se concentra; anúncios em revistas; flipbooks em revistas; estivemos em feiras e patrocinamos campeonatos de cosplay... neste ano de 2006, voltaremos com uma nova campanha para a divulgação do canal.

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