Texto por Tiago Bacelar (autor deste blog)
Publicado em 2005 na extinta revista de cultura on-line Entre Palavras E-zine
Cada vez mais populares no Brasil, as convenções de quadrinhos e desenhos japoneses não param de ganhar adeptos. Em São Paulo, o Animefriends de 2005 conseguiu atrair para a sua terceira edição, realizada neste ano, 42 mil pessoas, em apenas quatro dias, tornando-se o maior evento do gênero da América Latina. No Recife, depois do Omake, atrair quase três mil pessoas, em sua quinta edição, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os recifenses tiveram a oportunidade de acompanhar o segundo Superherocon, realizado no Teatro do Parque.
“O Superhercon virou realidade em 2004. Por gostar dessas produções desde criança, sempre tive vontade de juntar os fãs de Recife num evento profissional, que atraísse a atenção dos patrocinadores para os quadrinhos como cultura, desde a Secretaria de Cultura do Governo do Estado até um veículo de comunicação, e isso fosse divulgado em jornais, em rádios e na TV. A possibilidade de trazer convidados de fora foi a cereja que faltava ao sorvete”, explicou o organizador Fabbio Vila.
A história desses eventos em Recife é bem recente. No período de 1994 a 96, os fãs de Recife tinham muita dificuldade em se encontrar. Muitos nem sabiam se existia algum clube que os representasse. Um dos primeiros grupos da Veneza Pernambucana foi o Animangue, criado no final de 1997, por Paulo Krono. Desde a sua criação, o Animangue procurou promover eventos, no intuito de disponibilizar séries inéditas, por aqui no Brasil, para os fãs pernambucanos.
Isso era necessário para suprir a falta de conhecimento da maioria dos fãs tinham de como obter mais informações das séries lançadas no Japão, seja pelo pouco acesso a internet, seja pela falta de revistas informativas de qualidade na época. "Esse clube surgiu para criar algo que fosse especializado na divulgação do anime e mangá como forma de expressão. Era a maior festa quando eu encontrava com um otaku (fã de anime) perdido por aqui. Ele me apresentava os seus amigos, e, ficava aquela comunidade reservada, uma coisa muito limitada. Como conhecia muita gente que tinha um grande conhecimento a respeito e gostava do tema, eu decidi que era chegada à hora de ter algo descente por aqui", contou um dos fundadores do Animangue, Paulo Krono.
Quando tinha apenas nove anos, Paulo ficou impressionado e fascinado com o anime Akira. Desde então, ele passou a ter interesse em conhecer outras obras parecidas com aquela. "Mesmo novo, aquilo ali para mim era incrível. Quando fui atrás, vi que era muito difícil de conseguir. Dessa forma, eu passei a querer disponibilizar algo novo para os fãs de anime que eu conhecia. Eu fico feliz em ver a satisfação das pessoas ao conhecerem um anime que não conheciam. É legal quando alguém passa a gostar mais ainda de desenho japonês depois de visto a minha exibição. Afinal, os fãs de Recife são como se fosse uma grande família, uma comunidade com um interesse em comum, nesse estilo único que é a animação japonesa", explicou Krono. Em 1997, o Animangue realizou o Mercado Animangue, na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, no Recife.
"Nós exibimos vários animes. Foi improvisado, mas foi uma experiência muito legal. Todo mundo que participou, viu que aquilo tinha sido feito de fã para fã. Mesmo não tendo experiência profissional na organização de eventos, a gente se esforçou para divulgar o anime, disponibilizar séries novas e conhecer o máximo de pessoas que pudessem ajudar naquilo ali. Porque a idéia mesmo era criar alguma coisa grande, e, tínhamos potencial para isso", relembrou Paulo. O Animangue foi um dos responsáveis pela ampliação do número de eventos em Recife, sendo um referencial no Nordeste.
A Cooperativa de Anime e Mangá de Pernambuco, Campe, foi fundada em 1999 por Pedro Augusto, atual presidente do grupo, que, no ano seguinte, conseguiu realizar seu primeiro evento, sendo sediado numa escola pública com direito a exibição de animes e concurso de cosplay. Atualmente, o clube tem 24 integrantes. Esses passos iniciais dos eventos de anime e mangá, em Recife, abriram espaço para o surgimento da primeira convenção de grande porte, o Omake, iniciado em 2001. “Eu e Cláudio, principalmente, a gente conversou muito em fevereiro daquele ano. Nós nos perguntamos por que aqui não tinha nenhum evento regular. Antes, tivemos muita coisa mal divulgada, eventos menores mais de bairro e outros que tiveram alguns complicadores para dar errado. Nosso objetivo, ao levar adiante o Omake, foi ter alguma coisa de anime por aqui, reunir os fãs de anime e popularizar entre o pessoal que não conhece ainda”, explicou o presidente do Omake, Rodrigo Ishizaka.
Com a consolidação do evento em 2001, o Omake permaneceu por mais um ano na Fundação Gilberto Freyre, depois foi para a Fundação Joaquim Nabuco, a Faculdade de Administração da Universidade de Pernambuco (UPE), indo finalmente para a sua derradeira sede no Centro de Convenções da UFPE. O sucesso dessas convenções trouxe como conseqüência a vinda de convidados de outros estados, a exemplo da Superherocon, que em sua segunda edição, contou com a presença dos dubladores de animes, Marcelo Campos e Gilberto Barolli. “Eu comecei na dublagem em 1957. Como curiosidade, na série japonesa “a Princesa e o Cavaleiro” exibida por aqui pela TV Tupi, os primeiros 35 episódios da série foram dublados pela Cinecastro, de São Paulo. Os 17 restantes foram parar em minhas mãos sem áudio e roteiro das falas. Dessa forma, tive que assistir o material da Cinecastro, e a partir daí, construir as falas dos outros. Foi muito trabalhoso, mas o pessoal acabou adorando”, contou Barolli.
Para Marcelo, “a dublagem de um anime exige um trabalho de muita responsabilidade por parte do diretor, em virtude de existir um público muito exigente do lado de fora do estúdio, que quer um trabalho descente de adaptação, desde os nomes dos personagens até as falas. Depois de fazer trabalhos como o Shurato, o Trunks, o Yugi, e agora o Edward no Fullmetal Alchemist, vejo o quanto os fãs foram importantes para os dubladores brasileiros, pois eles deixaram de ser meras vozes para ganhar um rosto e um nome real. Esse reconhecimento me deixa muito gratificante de continuar trabalhando como dublador, ficando cada vez mais forte nesses eventos de anime”.
Outra presença forte em Recife foi à vinda da pesquisadora e autora do livro “Mangá o Poder dos Quadrinhos Japoneses”, Sônia Bibe Luyten, em 2004, durante o Festival Internacional de Quadrinhos, que ocorre todos os anos na Torre Malakoff, centro do Recife. “A arte de contar as histórias por meio de desenhos no Japão começou há muito tempo com Katsushita Hokusai no século XIX, através da série de 15 volumes da arte em madeira do ukiyo-ê, chamada de Hokusai Manga. Até hoje, o mangá é usado para fazer campanhas políticas, ensinar a praticar esportes e até mesmo dar noções básicas de matemática para as crianças. Eles podem abordar também temas polêmicos como a pornografia, o complexo de lolita, a religião, o homossexualismo, as drogas, a violência urbana, o esoterismo, e principalmente a vida cotidiana do povo japonês. Poder-se-ia dizer, que tudo vira mangá. A diversidade de assuntos é bem vasta se comparada com a dos quadrinhos ocidentais, além da própria linguagem universal, visual e cinematográfica voltada para todos os gostos e idades”, explicou Sônia Luyten.
O dublador Marcelo Campos acha que a dublagem brasileira “é, hoje, um produto como qualquer outro. Todos buscam o menor custo sacrificando a qualidade. Os responsáveis por isso são todos os envolvidos no processo: da distribuidora de filmes ao profissional que oferece seu trabalho a um preço ridículo. A dublagem deveria ser tão bem cuidada quanto à tradução de um livro. Aí, sim, ela seria mais valorizada, e, consequentemente, respeitada”. Marcelo finaliza dizendo que “as pessoas que dominam o inglês e rejeitam um filme dublado não fazem o mesmo com um livro que foi traduzido; às vezes até preferem assim. Se a dublagem brasileira fosse fiel à obra original em todos os sentidos eu poderia chamar de estúpida a pessoa que, sem dominar o idioma estrangeiro, preferisse assistir a um filme legendado. No momento, não. Por enquanto essa pessoa tem o direito de escolher se prefere ser privada de uma boa fotografia ou de uma boa interpretação. Salvo raríssimos casos de dublagem bem feita”.
Hoje, Marcelo continua na área de dublagem. “A dublagem nacional vive um período que merece ser repensada. A quantidade de trabalhos caiu. Com isso, os dubladores iniciantes sentem-se excluídos do sistema. Dessa forma, eles passam a aceitar trabalhos em qualquer lugar e por qualquer preço. Esses profissionais acabam indo para estúdios, onde os donos só pensam em ganhar dinheiro fácil e não dão a mínima para a dublagem. Além disso, existe a pressa em dublar. Eu, como tradutor, não aceito isso. Quero no mínimo uns quatro dias para fazer a adaptação. Como tem gente que aceita, o trabalho acaba saindo um lixo. Tudo isso prejudica o prestigio da dublagem brasileira junto ao público”, analisou o dublador Gilberto Barolli.
No quesito animes e mangás, Recife já teve muitas visitas no mínimo curiosas. Alguém já viu um brasileiro fazer parte de uma banda no Japão? Cantando em japonês? Não? Pois, ele se chama Ricardo Cruz, é jornalista e já fez a tradução de mangás publicados no Brasil pelas editoras Conrad e JBC.
“Minha vida mudou em 2003, quando o vocalista da banda nipônica Jam Project, Hironobu Kageyama, veio ao Brasil, pela primeira vez, como convidado da Anime Friends. Nessa época, eu já cantava em eventos de São Paulo como a Animecon. Depois de nos conhecermos, ele foi embora e passei a trocar conversas via telefone e e-mail até a sua volta ao Brasil no ano seguinte. Desta vez, ele me pediu uma fita demo, pois no Japão estava tendo um concurso para eleger o sétimo integrante da Jam Project. Passado um tempo, ele me ligou, dizendo que eu tinha vencido e era para embarcar para o Japão. Lá, fui recebido muito bem pelo Kageyama e já gravei duas músicas. Uma delas foi para um anime baseado em uma linha de jogos da Banpresto”, contou Ricardo.
No Show, realizado, durante o Superherocon de 2005, Ricardo Cruz dedicou boa parte ao repertório do Jam Project, bem conhecido no Brasil, cantando as músicas temas originais de Jiraya, Changeman, Jaspion, Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z. O Superherocon, assim como outros eventos realizados em Recife, promovem todos os anos o tradicional concurso de cosplay, onde os fãs se vestem e interpretam seus personagens favoritos. “Para mim, o cosplay é a alma das convenções. Hoje, eu vim como o Jiraya, do anime Naruto. Ao me vestir de Cosplay, eu busco sempre me superar, tentando levar para os outros fãs, os meus gostos pessoas, e a identificação sentida por mim nesses personagens de alguém que conheço, de um amigo meu. É essa forte relação entre mangá e leitor, anime e telespectador, que me faz gostar mais e mais de interpretar um cosplay numa convenção”, desabafou o fã Maurício Vanderlei Martins.
As Lojas especializadas em mangás sempre estão presentes nesses tipos de eventos. Pela primeira vez, em Recife, Luís Abreu, dono da SANA de Fortaleza, conta que “os mangás assumiram a liderança do mercado de quadrinhos no Brasil em tão pouco tempo, pois houve uma saturação dos super-heróis americanos e uma tendência natural de renovação dos gostos do leitor por histórias que se identificassem mais. A explosão das convenções no Brasil foi crucial para isso”.
Desde a chegada do anime Visitantes no Espaço, na TV Tupi, em 1967, que o Brasil não vê uma mudança tão grande no comportamento de jovens cada vez mais apaixonados pelos olhos grandes desses personagens vindos do oriente. Somente no ano passado, os japoneses lucraram com os seus animes uma ordem 100 bilhões de dólares e venderam só no Japão nada mais menos que 2,5 bilhões de edições de mangás durante apenas um ano. A vinda do canal Animax para o Brasil, dedicado exclusivamente a essas produções, é a prova de que essa febre tende a crescer cada vez mais.
Publicado em 2005 na extinta revista de cultura on-line Entre Palavras E-zine
Cada vez mais populares no Brasil, as convenções de quadrinhos e desenhos japoneses não param de ganhar adeptos. Em São Paulo, o Animefriends de 2005 conseguiu atrair para a sua terceira edição, realizada neste ano, 42 mil pessoas, em apenas quatro dias, tornando-se o maior evento do gênero da América Latina. No Recife, depois do Omake, atrair quase três mil pessoas, em sua quinta edição, no Centro de Convenções da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os recifenses tiveram a oportunidade de acompanhar o segundo Superherocon, realizado no Teatro do Parque.
“O Superhercon virou realidade em 2004. Por gostar dessas produções desde criança, sempre tive vontade de juntar os fãs de Recife num evento profissional, que atraísse a atenção dos patrocinadores para os quadrinhos como cultura, desde a Secretaria de Cultura do Governo do Estado até um veículo de comunicação, e isso fosse divulgado em jornais, em rádios e na TV. A possibilidade de trazer convidados de fora foi a cereja que faltava ao sorvete”, explicou o organizador Fabbio Vila.
A história desses eventos em Recife é bem recente. No período de 1994 a 96, os fãs de Recife tinham muita dificuldade em se encontrar. Muitos nem sabiam se existia algum clube que os representasse. Um dos primeiros grupos da Veneza Pernambucana foi o Animangue, criado no final de 1997, por Paulo Krono. Desde a sua criação, o Animangue procurou promover eventos, no intuito de disponibilizar séries inéditas, por aqui no Brasil, para os fãs pernambucanos.
Isso era necessário para suprir a falta de conhecimento da maioria dos fãs tinham de como obter mais informações das séries lançadas no Japão, seja pelo pouco acesso a internet, seja pela falta de revistas informativas de qualidade na época. "Esse clube surgiu para criar algo que fosse especializado na divulgação do anime e mangá como forma de expressão. Era a maior festa quando eu encontrava com um otaku (fã de anime) perdido por aqui. Ele me apresentava os seus amigos, e, ficava aquela comunidade reservada, uma coisa muito limitada. Como conhecia muita gente que tinha um grande conhecimento a respeito e gostava do tema, eu decidi que era chegada à hora de ter algo descente por aqui", contou um dos fundadores do Animangue, Paulo Krono.
Quando tinha apenas nove anos, Paulo ficou impressionado e fascinado com o anime Akira. Desde então, ele passou a ter interesse em conhecer outras obras parecidas com aquela. "Mesmo novo, aquilo ali para mim era incrível. Quando fui atrás, vi que era muito difícil de conseguir. Dessa forma, eu passei a querer disponibilizar algo novo para os fãs de anime que eu conhecia. Eu fico feliz em ver a satisfação das pessoas ao conhecerem um anime que não conheciam. É legal quando alguém passa a gostar mais ainda de desenho japonês depois de visto a minha exibição. Afinal, os fãs de Recife são como se fosse uma grande família, uma comunidade com um interesse em comum, nesse estilo único que é a animação japonesa", explicou Krono. Em 1997, o Animangue realizou o Mercado Animangue, na Fundação Gilberto Freyre, em Apipucos, no Recife.
"Nós exibimos vários animes. Foi improvisado, mas foi uma experiência muito legal. Todo mundo que participou, viu que aquilo tinha sido feito de fã para fã. Mesmo não tendo experiência profissional na organização de eventos, a gente se esforçou para divulgar o anime, disponibilizar séries novas e conhecer o máximo de pessoas que pudessem ajudar naquilo ali. Porque a idéia mesmo era criar alguma coisa grande, e, tínhamos potencial para isso", relembrou Paulo. O Animangue foi um dos responsáveis pela ampliação do número de eventos em Recife, sendo um referencial no Nordeste.
A Cooperativa de Anime e Mangá de Pernambuco, Campe, foi fundada em 1999 por Pedro Augusto, atual presidente do grupo, que, no ano seguinte, conseguiu realizar seu primeiro evento, sendo sediado numa escola pública com direito a exibição de animes e concurso de cosplay. Atualmente, o clube tem 24 integrantes. Esses passos iniciais dos eventos de anime e mangá, em Recife, abriram espaço para o surgimento da primeira convenção de grande porte, o Omake, iniciado em 2001. “Eu e Cláudio, principalmente, a gente conversou muito em fevereiro daquele ano. Nós nos perguntamos por que aqui não tinha nenhum evento regular. Antes, tivemos muita coisa mal divulgada, eventos menores mais de bairro e outros que tiveram alguns complicadores para dar errado. Nosso objetivo, ao levar adiante o Omake, foi ter alguma coisa de anime por aqui, reunir os fãs de anime e popularizar entre o pessoal que não conhece ainda”, explicou o presidente do Omake, Rodrigo Ishizaka.
Com a consolidação do evento em 2001, o Omake permaneceu por mais um ano na Fundação Gilberto Freyre, depois foi para a Fundação Joaquim Nabuco, a Faculdade de Administração da Universidade de Pernambuco (UPE), indo finalmente para a sua derradeira sede no Centro de Convenções da UFPE. O sucesso dessas convenções trouxe como conseqüência a vinda de convidados de outros estados, a exemplo da Superherocon, que em sua segunda edição, contou com a presença dos dubladores de animes, Marcelo Campos e Gilberto Barolli. “Eu comecei na dublagem em 1957. Como curiosidade, na série japonesa “a Princesa e o Cavaleiro” exibida por aqui pela TV Tupi, os primeiros 35 episódios da série foram dublados pela Cinecastro, de São Paulo. Os 17 restantes foram parar em minhas mãos sem áudio e roteiro das falas. Dessa forma, tive que assistir o material da Cinecastro, e a partir daí, construir as falas dos outros. Foi muito trabalhoso, mas o pessoal acabou adorando”, contou Barolli.
Para Marcelo, “a dublagem de um anime exige um trabalho de muita responsabilidade por parte do diretor, em virtude de existir um público muito exigente do lado de fora do estúdio, que quer um trabalho descente de adaptação, desde os nomes dos personagens até as falas. Depois de fazer trabalhos como o Shurato, o Trunks, o Yugi, e agora o Edward no Fullmetal Alchemist, vejo o quanto os fãs foram importantes para os dubladores brasileiros, pois eles deixaram de ser meras vozes para ganhar um rosto e um nome real. Esse reconhecimento me deixa muito gratificante de continuar trabalhando como dublador, ficando cada vez mais forte nesses eventos de anime”.
Outra presença forte em Recife foi à vinda da pesquisadora e autora do livro “Mangá o Poder dos Quadrinhos Japoneses”, Sônia Bibe Luyten, em 2004, durante o Festival Internacional de Quadrinhos, que ocorre todos os anos na Torre Malakoff, centro do Recife. “A arte de contar as histórias por meio de desenhos no Japão começou há muito tempo com Katsushita Hokusai no século XIX, através da série de 15 volumes da arte em madeira do ukiyo-ê, chamada de Hokusai Manga. Até hoje, o mangá é usado para fazer campanhas políticas, ensinar a praticar esportes e até mesmo dar noções básicas de matemática para as crianças. Eles podem abordar também temas polêmicos como a pornografia, o complexo de lolita, a religião, o homossexualismo, as drogas, a violência urbana, o esoterismo, e principalmente a vida cotidiana do povo japonês. Poder-se-ia dizer, que tudo vira mangá. A diversidade de assuntos é bem vasta se comparada com a dos quadrinhos ocidentais, além da própria linguagem universal, visual e cinematográfica voltada para todos os gostos e idades”, explicou Sônia Luyten.
O dublador Marcelo Campos acha que a dublagem brasileira “é, hoje, um produto como qualquer outro. Todos buscam o menor custo sacrificando a qualidade. Os responsáveis por isso são todos os envolvidos no processo: da distribuidora de filmes ao profissional que oferece seu trabalho a um preço ridículo. A dublagem deveria ser tão bem cuidada quanto à tradução de um livro. Aí, sim, ela seria mais valorizada, e, consequentemente, respeitada”. Marcelo finaliza dizendo que “as pessoas que dominam o inglês e rejeitam um filme dublado não fazem o mesmo com um livro que foi traduzido; às vezes até preferem assim. Se a dublagem brasileira fosse fiel à obra original em todos os sentidos eu poderia chamar de estúpida a pessoa que, sem dominar o idioma estrangeiro, preferisse assistir a um filme legendado. No momento, não. Por enquanto essa pessoa tem o direito de escolher se prefere ser privada de uma boa fotografia ou de uma boa interpretação. Salvo raríssimos casos de dublagem bem feita”.
Hoje, Marcelo continua na área de dublagem. “A dublagem nacional vive um período que merece ser repensada. A quantidade de trabalhos caiu. Com isso, os dubladores iniciantes sentem-se excluídos do sistema. Dessa forma, eles passam a aceitar trabalhos em qualquer lugar e por qualquer preço. Esses profissionais acabam indo para estúdios, onde os donos só pensam em ganhar dinheiro fácil e não dão a mínima para a dublagem. Além disso, existe a pressa em dublar. Eu, como tradutor, não aceito isso. Quero no mínimo uns quatro dias para fazer a adaptação. Como tem gente que aceita, o trabalho acaba saindo um lixo. Tudo isso prejudica o prestigio da dublagem brasileira junto ao público”, analisou o dublador Gilberto Barolli.
No quesito animes e mangás, Recife já teve muitas visitas no mínimo curiosas. Alguém já viu um brasileiro fazer parte de uma banda no Japão? Cantando em japonês? Não? Pois, ele se chama Ricardo Cruz, é jornalista e já fez a tradução de mangás publicados no Brasil pelas editoras Conrad e JBC.
“Minha vida mudou em 2003, quando o vocalista da banda nipônica Jam Project, Hironobu Kageyama, veio ao Brasil, pela primeira vez, como convidado da Anime Friends. Nessa época, eu já cantava em eventos de São Paulo como a Animecon. Depois de nos conhecermos, ele foi embora e passei a trocar conversas via telefone e e-mail até a sua volta ao Brasil no ano seguinte. Desta vez, ele me pediu uma fita demo, pois no Japão estava tendo um concurso para eleger o sétimo integrante da Jam Project. Passado um tempo, ele me ligou, dizendo que eu tinha vencido e era para embarcar para o Japão. Lá, fui recebido muito bem pelo Kageyama e já gravei duas músicas. Uma delas foi para um anime baseado em uma linha de jogos da Banpresto”, contou Ricardo.
No Show, realizado, durante o Superherocon de 2005, Ricardo Cruz dedicou boa parte ao repertório do Jam Project, bem conhecido no Brasil, cantando as músicas temas originais de Jiraya, Changeman, Jaspion, Cavaleiros do Zodíaco e Dragon Ball Z. O Superherocon, assim como outros eventos realizados em Recife, promovem todos os anos o tradicional concurso de cosplay, onde os fãs se vestem e interpretam seus personagens favoritos. “Para mim, o cosplay é a alma das convenções. Hoje, eu vim como o Jiraya, do anime Naruto. Ao me vestir de Cosplay, eu busco sempre me superar, tentando levar para os outros fãs, os meus gostos pessoas, e a identificação sentida por mim nesses personagens de alguém que conheço, de um amigo meu. É essa forte relação entre mangá e leitor, anime e telespectador, que me faz gostar mais e mais de interpretar um cosplay numa convenção”, desabafou o fã Maurício Vanderlei Martins.
As Lojas especializadas em mangás sempre estão presentes nesses tipos de eventos. Pela primeira vez, em Recife, Luís Abreu, dono da SANA de Fortaleza, conta que “os mangás assumiram a liderança do mercado de quadrinhos no Brasil em tão pouco tempo, pois houve uma saturação dos super-heróis americanos e uma tendência natural de renovação dos gostos do leitor por histórias que se identificassem mais. A explosão das convenções no Brasil foi crucial para isso”.
Desde a chegada do anime Visitantes no Espaço, na TV Tupi, em 1967, que o Brasil não vê uma mudança tão grande no comportamento de jovens cada vez mais apaixonados pelos olhos grandes desses personagens vindos do oriente. Somente no ano passado, os japoneses lucraram com os seus animes uma ordem 100 bilhões de dólares e venderam só no Japão nada mais menos que 2,5 bilhões de edições de mangás durante apenas um ano. A vinda do canal Animax para o Brasil, dedicado exclusivamente a essas produções, é a prova de que essa febre tende a crescer cada vez mais.
BOX EXPLICATIVO – MANGÁS E ANIMES.
Conhecidos como mangás, eles surgiram no Japão no século XIX pelas mãos de Katsushita Hokusai. Na Segunda Guerra Mundial, os artistas foram pressionados pelo imperador Hiroito a transformarem os mangás em agentes multiplicadores do conflito. Ao seu fim, Osamu Tezuka reviveu os mangás lhe dando uma linguagem visual de poucas palavras que ganharia o mundo.
A palavra Anime nasceu da abreviatura do termo da lingua inglesa Animation. No Japão, os Animes surgiram em 1917 e ganharam ares de mega produções com a chegada dos grandes estúdios como a Toei Animation de Dragon Ball, a Gainax de Evangelion, a Sunrise de Gundam, a Madhouse de Sakura Card Captors e o Ghibli da Viagem de Chihiro, vencedor do Oscar de Melhor Animação. Diferentemente dos desenhos ocidentais, os animes possuem, da mesma forma que os mangás, uma segmentação de públicos, voltados desde uma criança até um alto executivo no Japão. Exibidos em capítulos semanais em seus país de origem, os animes podem ser comparados as novelas brasileiras, em termos de fama e também pela continuidade da trama que tem início, meio e fim.
Conhecidos como mangás, eles surgiram no Japão no século XIX pelas mãos de Katsushita Hokusai. Na Segunda Guerra Mundial, os artistas foram pressionados pelo imperador Hiroito a transformarem os mangás em agentes multiplicadores do conflito. Ao seu fim, Osamu Tezuka reviveu os mangás lhe dando uma linguagem visual de poucas palavras que ganharia o mundo.
A palavra Anime nasceu da abreviatura do termo da lingua inglesa Animation. No Japão, os Animes surgiram em 1917 e ganharam ares de mega produções com a chegada dos grandes estúdios como a Toei Animation de Dragon Ball, a Gainax de Evangelion, a Sunrise de Gundam, a Madhouse de Sakura Card Captors e o Ghibli da Viagem de Chihiro, vencedor do Oscar de Melhor Animação. Diferentemente dos desenhos ocidentais, os animes possuem, da mesma forma que os mangás, uma segmentação de públicos, voltados desde uma criança até um alto executivo no Japão. Exibidos em capítulos semanais em seus país de origem, os animes podem ser comparados as novelas brasileiras, em termos de fama e também pela continuidade da trama que tem início, meio e fim.
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