Texto por Tiago Bacelar (autor deste blog)
RECIFE – Em plena Veneza Pernambucana, encontramos o Centro Profissionalizante de Criatividade Musical (CPCMR), iniciado na gestão do então Governador Roberto Magalhães e fundado em março de 1987 no governo de Gustavo Krause. Localizado na rua da Aurora de número 439, o CPCMR forma 1500 jovens por ano com a ajuda de diversos professores, dentre eles, o músico de Fagote e Contra-fagote da Orquestra Sinfônica do Recife, Manuel Nascimento Neto, que dar aulas de harmonia, de composição, de contraponto, de fuga e de orquestração. Nas horas vagas, arruma tempo ainda para construir instrumentos de percussão como a Marimba e o Xilofone e repassar o que sabe para os alunos do CPCMR, onde conversei com esse personagem que luta para fortalecer a música erudita no Brasil.
Tiago Bacelar – Professor Manuel Neto, quando começou o seu interesse pela música?
Manuel Neto – Foi desde criança, eu já nasci assim...Tem a minha família que era de origem de músicos e eu segui essa mesma carreira. E estou aqui fazendo o que mais gosto.
TB – Como surgiu a idéia de produzir instrumentos?
MN – Em 1978, eu fui estudar na França, no Conservatório Nacional de Paris...E lá, eu observei esses instrumentos todos....Alguns exóticos como o Contra-Fagote. No caso, eu fui para lá estudar o Fagote e o Contra-Fagote. Quando eu cheguei lá, eu vi a Marimba, o Xilofone, que eram instrumentos que nessa época não existiam aqui no Brasil. Eu só tinha visto através de livros. E fiz essa parte de luteria lá e estudei, mas, quando eu cheguei aqui em Recife, o professor Barreto da Orquestra Sinfônica me lançou um desafio porque eu tinha estudado mecânica.
TB – E qual a importância da mecânica na fabricação de instrumentos?
MN - Mecânica é a base de todos os instrumentos da forma que a Física Acústica. Então, já tinha tido experiência com a fabricação do Fagote, com bocais de trombone, de tudo, através do Professor Flávio Fernandes. E olhei aquilo, achei que era fácil de se fazer. Aí eu disse – Não eu faço!!! Aí eu comecei a fazer. Mas, existem segredos de fabricação que só os grandes Mestres sabem. Passei cinco anos, pesquisando, até descobrir a maneira de como fazer junto com a Equipe de Engenharia Mecânica da Escola Técnica Federal daqui de Pernambuco. Foram eles que me deram apoio nesse meu projeto, pois só foi através desses estudos e professores que eu consegui chegar com a mesma qualidade do europeu.
TB – Por que esse instrumento tem uma qualidade tão boa?
MN - Então, veja meu rapaz, o Xilofone que eu fabrico tem a mesma qualidade que o importado, talvez até melhor, pois a madeira é brasileira. Em minha vida, eu tive que estudar a madeira, fibra de madeira, tive que ter aula com vários professores, dentre eles o que mais me ajudou foi o Professor João Batista, que é Lutier. Ele foi um verdadeiro mestre para mim e vou agradecer eternamente a ele. E agradeço também ao meu grande mestre que me ensinou tudo de mecânica, de tornearia, de técnica de fabricação de instrumentos, que foi o professor Abinael Manso, que está falecido. Mas, que eu rendo essa homenagem a ele.
TB – Como é o processo de fabricação do Fagote e do Contra-Fagote?
Bem, em parte, ele é artesanal, mas a gente usa máquinas apropriadas para isso como o torno mecânico, que tem o todo computadorizado e o manual. Que a gente programa, e o torno mesmo faz com ferramentas especiais, com uma madeira especial também, você tem que conhecer bem de madeira. Se você não conhecer bem de maderia não funciona e a madeira tem estar bem aclimatada. No caso do Brasil, não tem nenhum problema. O torno mecânico é uma máquina extremamente versátil utilizada na confecção ou acabamento em peças dos mais diversos tipos e formas. Esta máquina ferramenta permite a usinagem de qualquer componente mecânico que possa ser utilizado pelo ser humano. Um torno mecânico possibilita a transformação do ferro bruto por exemplo, em peças que podem ter seções circulares, e quaisquer combinações destas seções. Através deste instrumento de transformação é possível confeccionar eixos, polias, pinos, qualquer tipo possível e imaginável de roscas, peças cilíndricas internas e externas, além de cones, esferas e os mais diversos e estranhos formatos.
TB – quais são as peças usadas na fabricação do fagote?
Basicamente, se usa a madeira. Mas, as peças em si são segredos industriais, que eu não posso estar falando assim. Mas, são ferramentas que se usa normalmente. Isso são coisas que passa de pai para filho. E ele não passa para ninguém. Há não ser que você encontre um professor aposentado, que já trabalhou lá, que não tem mais nenhuma ligação com a empresa. Aí eles te ajudam, paga eles e eles te ensinam como foi o meu caso. Eu dei a sorte de encontrar um professor dessa maneira.
TB – Qual a origem da Marimba?
MN – Alguns teóricos dizem que a origem primitiva da Marimba é africana, mas também existem versões que ela teria vindo com incas lá na Guatemala, na América Central. Ela apareceu na Europa no século XIV e foi se desenvolvendo até chegar aos grandes fabricantes como a Kolberg, a Begerout e a Busser.
TB – E o Xilofone?
MN – Tem a mesma origem que a Marimba porque na realidade o Xilofone é como se fosse uma Marimba pequena, tem as teclas menores. É a mesma técnica de fabricação da Marimba.
TB – Qual a importância da Marimba e do Xilofone numa Orquestra como a Sinfônica do Recife, que você faz parte?
MN – É a base de toda instrumentação no que diz respeito a percussão. Posso citar Ravel, Debussy, Stravinsky, todos eles usaram Xilofone e Marimba em suas obras. Aqui em Recife, o ponto de referência na produção desses instrumentos é a Escola Técnica Federal, o Cefet. E quando uma Orquestra vai a tocar a peça de um compositor desse, que exija Marimba e Xilofone, e não os utiliza, a execução fica nula, fica um buraco, fica neutra, porque o compositor quis daquela maneira. Então, toda a Orquestra tem que ter o Xilofone, a Marimba e outros tão importantes como o Glockenspiel, o vibrafone, a Celesta, enfim todos os instrumentos de percussão. Se não tiver, não é Orquestra de verdade.
TB – Como foi que iniciou a compôr trilhas sonoras para cinema?
MN – Primeiramente, posso afirmar que sou um dos únicos músicos eruditos no Brasil a fazer isso. Eu estudei na França com Michelle Legrand e com Charles Henri. Tentei fazer esse projeto em Recife, não me apoiaram, acabei fazendo no Rio Grande do Norte. Toda semana eu vou para lá na Fundação José Augusto, fazer esse projeto de Trilha Sonora, que é o mais importante para o cinema.
TB – Por que a trilha sonora é tão fundamental assim?
MN - Os cineastras brasileiros ainda não compreenderam isso. O cinema brasileiro, apesar de estar se desenvolvendo, é apenas um grande show de cantor. Cinema de verdade, como é o cinema americano, o cinema francês, que se usa para a trilha sonora uma Orquestra Sinfônica. Não é pegar um cantorzinho com um violão cantando e ir lá e falar que isso é trilha sonora. Isso é uma grande piada, simplesmente uma grande piada. Se eles não mudam a cabeça, o Brasil nunca vai ser nada, não vai ganhar nada, em termos de Oscar, em termos de cinema não vai desenvolver. Eu mesmo comecei a me dedicar a isso, antes mesmo de ir para a França, em 1975, na época da enchente de Recife, fiz a trilha sonora de um dos programas do Globo Repórter daquele ano.
TB – E como você foi chamado para compôr para o Globo Repórter?
MN – Naquele tempo, tinha um cineasta que eu conhecia, o Roberto Menezes, que na época era também um dos diretores da Rede Globo. E que certo dia, me viu eu compondo e me encomendou que fizesse a trilha sonora. Fiz e o pessoal acabou gostando. Aí viajei para a França, e depois musiquei vários filmes como os de Geneton Morais Neto, que foi uma das pessoas que mais me incentivou a seguir carrreira nessa área, a estudar trilha sonora para cinema. Há uns três ou quatros anos, produzi uma trilha sonora de um especial da BBC de Londres sobre Francisco Brennand, o escultor, cuja direção era de Guel Arraes e Geneton Morais Neto. Eles me encomendaram e eu fiz.
TB – E você sente algum problema em compor para cinema?
MN - A dificuldade que eu sinto é estar isolado aqui no Nordeste. O cineasta não tem a mentalidade de entender o quanto a trilha sonora é importante para o cinema. Eles são tapados. Então, eu estou pegando no deserto, o que pode acabar no futuro me cansando disto tudo. Talvez, só quando eu ganhar um oscar pela trilha sonora é que esse pessoal vai compreender que eu tinha razão. Eu passei 20 anos tentando colocar na cabeça das pessoas que fabricar instrumentos no Brasil era importante. Ninguém deu importância a isso. Tive que gastar do meu bolso para pesquisar. Fui por necessidade ao Centro de Pesquisa da Bahia e na época me ameaçaram de perder o lugar que tinha na Orquestra Sinfônica aqui do Recife.
TB – E o senhor chegou a ser demitido?
MN - Só não perdi, porque uma grande figura, o Deputado Estadual Gilberto Marques Paulo, me defendeu. Foi lá na Prefeitura, fez de tudo para que eu não perdesse o meu emprego. Me ameaçaram de demissão porque eu estava indo pesquisar uma coisa que era importante para o futuro do Brasil. Como esta aí provado nos Xilofones, nas Marimbas, nas Flautas, que eu fabrico, tudo de alta qualidade. Inclusive agora eu vou exportar para a Rússia. Tão comprando o que faço. Todos os instrumentos da Orquestra Sinfônica daqui como os de metais - Trombones, Trompas, Tumbas - e outros de percussão. Todos estão tocando com o meu sistema. Abandonaram o sistema americano porque o meu é o melhor. Agora se eu não tivesse ido para a Bahia pesquisar ou tivesse sido demitido e aí. E agora o que é que seria. Tem que ter consciência que essas pessoas no governo só estão ali para atrapalhar. Eu não, eu vim aqui, eu sou um cara sério. Estou aqui para trabalhar e mostrar o meu trabalho. E fazer com que esses instrumentos custem a metade do preço para ajudar os músicos brasileiros. E as pessoas não entenderam isso ainda.
TB – Como funciona o Centro de Criatividade Musical?
MN – Ele abrange toda a Rede Estadual de Ensino e os alunos vem aqui estudar de graça. Acho um absurdo esse abandono do governo conosco. Faltam professores de diversas áreas como de trombone, de trompete e de clarineta. Eles deviam deixar essa imbecilidade de lado e ver que a única coisa que recupera com mais facilidade as pessoas é a música. Porque ela funciona como um mantra. Se você está aqui estudando seu instrumento por quatro ou cinco horas, para tocar, você tem que ter uma condição boa de saúde, de respiração, livre de doenças, porque se não você não aguenta. E o que acontece, esses jovens passam esse tempo se concentrando, então eles acabam esquecendo drogas, isso tudo. Você está tirando ele da rua, está dando uma profissão. E esse governo não faz nada, está arrasando com essa escola, acabando com essa escola que forma 1500 jovens por ano. Esses garotos são super inteligentes. A gente está dando uma vida digna para eles e o governo quer tirar eles daqui, jogar eles na rua, para que virem marginais. O governo deveria olhar para o próprio umbigo e investir mais nesse centro que é importante para a renovação da música erudita em Pernambuco e por que não do Brasil.
Tiago Bacelar – Professor Manuel Neto, quando começou o seu interesse pela música?
Manuel Neto – Foi desde criança, eu já nasci assim...Tem a minha família que era de origem de músicos e eu segui essa mesma carreira. E estou aqui fazendo o que mais gosto.
TB – Como surgiu a idéia de produzir instrumentos?
MN – Em 1978, eu fui estudar na França, no Conservatório Nacional de Paris...E lá, eu observei esses instrumentos todos....Alguns exóticos como o Contra-Fagote. No caso, eu fui para lá estudar o Fagote e o Contra-Fagote. Quando eu cheguei lá, eu vi a Marimba, o Xilofone, que eram instrumentos que nessa época não existiam aqui no Brasil. Eu só tinha visto através de livros. E fiz essa parte de luteria lá e estudei, mas, quando eu cheguei aqui em Recife, o professor Barreto da Orquestra Sinfônica me lançou um desafio porque eu tinha estudado mecânica.
TB – E qual a importância da mecânica na fabricação de instrumentos?
MN - Mecânica é a base de todos os instrumentos da forma que a Física Acústica. Então, já tinha tido experiência com a fabricação do Fagote, com bocais de trombone, de tudo, através do Professor Flávio Fernandes. E olhei aquilo, achei que era fácil de se fazer. Aí eu disse – Não eu faço!!! Aí eu comecei a fazer. Mas, existem segredos de fabricação que só os grandes Mestres sabem. Passei cinco anos, pesquisando, até descobrir a maneira de como fazer junto com a Equipe de Engenharia Mecânica da Escola Técnica Federal daqui de Pernambuco. Foram eles que me deram apoio nesse meu projeto, pois só foi através desses estudos e professores que eu consegui chegar com a mesma qualidade do europeu.
TB – Por que esse instrumento tem uma qualidade tão boa?
MN - Então, veja meu rapaz, o Xilofone que eu fabrico tem a mesma qualidade que o importado, talvez até melhor, pois a madeira é brasileira. Em minha vida, eu tive que estudar a madeira, fibra de madeira, tive que ter aula com vários professores, dentre eles o que mais me ajudou foi o Professor João Batista, que é Lutier. Ele foi um verdadeiro mestre para mim e vou agradecer eternamente a ele. E agradeço também ao meu grande mestre que me ensinou tudo de mecânica, de tornearia, de técnica de fabricação de instrumentos, que foi o professor Abinael Manso, que está falecido. Mas, que eu rendo essa homenagem a ele.
TB – Como é o processo de fabricação do Fagote e do Contra-Fagote?
Bem, em parte, ele é artesanal, mas a gente usa máquinas apropriadas para isso como o torno mecânico, que tem o todo computadorizado e o manual. Que a gente programa, e o torno mesmo faz com ferramentas especiais, com uma madeira especial também, você tem que conhecer bem de madeira. Se você não conhecer bem de maderia não funciona e a madeira tem estar bem aclimatada. No caso do Brasil, não tem nenhum problema. O torno mecânico é uma máquina extremamente versátil utilizada na confecção ou acabamento em peças dos mais diversos tipos e formas. Esta máquina ferramenta permite a usinagem de qualquer componente mecânico que possa ser utilizado pelo ser humano. Um torno mecânico possibilita a transformação do ferro bruto por exemplo, em peças que podem ter seções circulares, e quaisquer combinações destas seções. Através deste instrumento de transformação é possível confeccionar eixos, polias, pinos, qualquer tipo possível e imaginável de roscas, peças cilíndricas internas e externas, além de cones, esferas e os mais diversos e estranhos formatos.
TB – quais são as peças usadas na fabricação do fagote?
Basicamente, se usa a madeira. Mas, as peças em si são segredos industriais, que eu não posso estar falando assim. Mas, são ferramentas que se usa normalmente. Isso são coisas que passa de pai para filho. E ele não passa para ninguém. Há não ser que você encontre um professor aposentado, que já trabalhou lá, que não tem mais nenhuma ligação com a empresa. Aí eles te ajudam, paga eles e eles te ensinam como foi o meu caso. Eu dei a sorte de encontrar um professor dessa maneira.
TB – Qual a origem da Marimba?
MN – Alguns teóricos dizem que a origem primitiva da Marimba é africana, mas também existem versões que ela teria vindo com incas lá na Guatemala, na América Central. Ela apareceu na Europa no século XIV e foi se desenvolvendo até chegar aos grandes fabricantes como a Kolberg, a Begerout e a Busser.
TB – E o Xilofone?
MN – Tem a mesma origem que a Marimba porque na realidade o Xilofone é como se fosse uma Marimba pequena, tem as teclas menores. É a mesma técnica de fabricação da Marimba.
TB – Qual a importância da Marimba e do Xilofone numa Orquestra como a Sinfônica do Recife, que você faz parte?
MN – É a base de toda instrumentação no que diz respeito a percussão. Posso citar Ravel, Debussy, Stravinsky, todos eles usaram Xilofone e Marimba em suas obras. Aqui em Recife, o ponto de referência na produção desses instrumentos é a Escola Técnica Federal, o Cefet. E quando uma Orquestra vai a tocar a peça de um compositor desse, que exija Marimba e Xilofone, e não os utiliza, a execução fica nula, fica um buraco, fica neutra, porque o compositor quis daquela maneira. Então, toda a Orquestra tem que ter o Xilofone, a Marimba e outros tão importantes como o Glockenspiel, o vibrafone, a Celesta, enfim todos os instrumentos de percussão. Se não tiver, não é Orquestra de verdade.
TB – Como foi que iniciou a compôr trilhas sonoras para cinema?
MN – Primeiramente, posso afirmar que sou um dos únicos músicos eruditos no Brasil a fazer isso. Eu estudei na França com Michelle Legrand e com Charles Henri. Tentei fazer esse projeto em Recife, não me apoiaram, acabei fazendo no Rio Grande do Norte. Toda semana eu vou para lá na Fundação José Augusto, fazer esse projeto de Trilha Sonora, que é o mais importante para o cinema.
TB – Por que a trilha sonora é tão fundamental assim?
MN - Os cineastras brasileiros ainda não compreenderam isso. O cinema brasileiro, apesar de estar se desenvolvendo, é apenas um grande show de cantor. Cinema de verdade, como é o cinema americano, o cinema francês, que se usa para a trilha sonora uma Orquestra Sinfônica. Não é pegar um cantorzinho com um violão cantando e ir lá e falar que isso é trilha sonora. Isso é uma grande piada, simplesmente uma grande piada. Se eles não mudam a cabeça, o Brasil nunca vai ser nada, não vai ganhar nada, em termos de Oscar, em termos de cinema não vai desenvolver. Eu mesmo comecei a me dedicar a isso, antes mesmo de ir para a França, em 1975, na época da enchente de Recife, fiz a trilha sonora de um dos programas do Globo Repórter daquele ano.
TB – E como você foi chamado para compôr para o Globo Repórter?
MN – Naquele tempo, tinha um cineasta que eu conhecia, o Roberto Menezes, que na época era também um dos diretores da Rede Globo. E que certo dia, me viu eu compondo e me encomendou que fizesse a trilha sonora. Fiz e o pessoal acabou gostando. Aí viajei para a França, e depois musiquei vários filmes como os de Geneton Morais Neto, que foi uma das pessoas que mais me incentivou a seguir carrreira nessa área, a estudar trilha sonora para cinema. Há uns três ou quatros anos, produzi uma trilha sonora de um especial da BBC de Londres sobre Francisco Brennand, o escultor, cuja direção era de Guel Arraes e Geneton Morais Neto. Eles me encomendaram e eu fiz.
TB – E você sente algum problema em compor para cinema?
MN - A dificuldade que eu sinto é estar isolado aqui no Nordeste. O cineasta não tem a mentalidade de entender o quanto a trilha sonora é importante para o cinema. Eles são tapados. Então, eu estou pegando no deserto, o que pode acabar no futuro me cansando disto tudo. Talvez, só quando eu ganhar um oscar pela trilha sonora é que esse pessoal vai compreender que eu tinha razão. Eu passei 20 anos tentando colocar na cabeça das pessoas que fabricar instrumentos no Brasil era importante. Ninguém deu importância a isso. Tive que gastar do meu bolso para pesquisar. Fui por necessidade ao Centro de Pesquisa da Bahia e na época me ameaçaram de perder o lugar que tinha na Orquestra Sinfônica aqui do Recife.
TB – E o senhor chegou a ser demitido?
MN - Só não perdi, porque uma grande figura, o Deputado Estadual Gilberto Marques Paulo, me defendeu. Foi lá na Prefeitura, fez de tudo para que eu não perdesse o meu emprego. Me ameaçaram de demissão porque eu estava indo pesquisar uma coisa que era importante para o futuro do Brasil. Como esta aí provado nos Xilofones, nas Marimbas, nas Flautas, que eu fabrico, tudo de alta qualidade. Inclusive agora eu vou exportar para a Rússia. Tão comprando o que faço. Todos os instrumentos da Orquestra Sinfônica daqui como os de metais - Trombones, Trompas, Tumbas - e outros de percussão. Todos estão tocando com o meu sistema. Abandonaram o sistema americano porque o meu é o melhor. Agora se eu não tivesse ido para a Bahia pesquisar ou tivesse sido demitido e aí. E agora o que é que seria. Tem que ter consciência que essas pessoas no governo só estão ali para atrapalhar. Eu não, eu vim aqui, eu sou um cara sério. Estou aqui para trabalhar e mostrar o meu trabalho. E fazer com que esses instrumentos custem a metade do preço para ajudar os músicos brasileiros. E as pessoas não entenderam isso ainda.
TB – Como funciona o Centro de Criatividade Musical?
MN – Ele abrange toda a Rede Estadual de Ensino e os alunos vem aqui estudar de graça. Acho um absurdo esse abandono do governo conosco. Faltam professores de diversas áreas como de trombone, de trompete e de clarineta. Eles deviam deixar essa imbecilidade de lado e ver que a única coisa que recupera com mais facilidade as pessoas é a música. Porque ela funciona como um mantra. Se você está aqui estudando seu instrumento por quatro ou cinco horas, para tocar, você tem que ter uma condição boa de saúde, de respiração, livre de doenças, porque se não você não aguenta. E o que acontece, esses jovens passam esse tempo se concentrando, então eles acabam esquecendo drogas, isso tudo. Você está tirando ele da rua, está dando uma profissão. E esse governo não faz nada, está arrasando com essa escola, acabando com essa escola que forma 1500 jovens por ano. Esses garotos são super inteligentes. A gente está dando uma vida digna para eles e o governo quer tirar eles daqui, jogar eles na rua, para que virem marginais. O governo deveria olhar para o próprio umbigo e investir mais nesse centro que é importante para a renovação da música erudita em Pernambuco e por que não do Brasil.
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