sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Ampliação do parque exibidor é tema da Fiicav

A ampliação do parque exibidor brasileiro, o cinema digital e a nova tecnologia 3D foram os temas de destaque da quarta edição da Fiicav – Seminário Internacional de Negócios da Indústria do Cinema e Audiovisual, que se realizou nos dias 26 e 27 de agosto no Centro de Exposições Imigrantes, em São Paulo. 
A abertura contou com a presença de André Sturm, representando o secretário de Cultura do Estado de São Paulo, e Manoel Rangel, diretor-presidente da Ancine. Ambos destacaram a importância de políticas públicas voltadas para o consumo de cinema, como o Vale-Cultura e o programa Vá ao Cinema.
Gasto da classe C em cultura pode chegar a R$ 14 bilhões por ano, diz Rangel
Em sua exposição na mesa “Os cinemas populares”, Rangel apresentou números do IBGE que indicam o crescimento de participação da classe C no consumo de cultura e lazer, estimando em R$ 14 bilhões anuais o potencial do volume de gastos deste setor da população na área cultural. “O governo está disposto a induzir o desenvolvimento do setor de exibição”, afirmou Rangel, “o que resta saber é quem serão os agentes privados que terão a ousadia de investir”. 
A Ancine e o BNDES montaram um grupo de estudos para analisar os melhores caminhos para a expansão do parque exibidor em áreas carentes de cinemas e com potencial econômico, com vistas à elaboração de um programa oficial para a ampliação do número de salas. Um foco importante seria a redução das desigualdades regionais, destacou Luciane Gorgulho, chefe do departamento de economia da cultura do BNDES. A executiva citou o Funcine e o Procult como instrumentos interessantes na composição do futuro programa, que deve contar com uma linha de investimentos do Fundo Setorial do Audiovisual, que terá o próprio BNDES como agente financeiro.

Adhemar Oliveira, do Grupo Espaço de Cinema, cobrou ações e urgência da parte do governo: “Temos diagnósticos e temos novos remédios, mas eles têm que ser administrados antes que o doente morra”. Segundo Oliveira, iniciativas como os Funcines, o FSA e medidas visando a redução da carga tributária são fundamentais para o projeto de expansão, uma vez que o retorno das novas salas não será igual aos resultados de cinemas instalados em áreas nobres. Thierry Perrone, do Investimage, duvida que o Funcine seja o modelo adequado para o investimento em exibição: “O prazo não corresponde ao ciclo de um fundo”, afirmou.
Distribuidoras garantem cópias para novas salas
Rodrigo Saturnino Braga, diretor geral da Sony/Disney, afirmou o compromisso de sua companhia com o projeto e disse que não vão faltar cópias para as novas salas – um detalhe reafirmado por José Carlos Oliveira, diretor geral da Warner no Brasil. Por outro lado, segundo Rodrigo, “o plano deveria focar na digitalização”, em função dos custos cada vez mais altos das cópias em película. Ele citou ainda uma pesquisa, elaborada pelo SDRJ, que indica que 80% dos que serão beneficiados com o Vale-Cultura têm como prioridade o cinema. 
A digitalização das salas foi o tema da segunda mesa de debates do evento. Ricardo Difini Leite, presidente da Feneec, levantou a questão dos custos de implantação dos novos equipamentos, qualificando o processo de digitalização como inevitável. Luciane Gorgulho, do BNDES, confirmou que a Christie e um parceiro brasileiro sondaram o banco sobre a possibilidade de instalarem uma fábrica de projetores digitais DCI no país. Gorgulho confirmou que os novos equipamentos podem ser financiados pelo Procult, e citou o VPF (Virtual Print Fee) como uma garantia considerada boa pelo banco.
“3D valoriza complexo em que é instalado”, diz Araújo
Patrícia Kamitsuji , diretora geral da Fox, responsável pelo lançamento de A era do gelo 3, apresentou os resultados superlativos da animação, que fez 3,5 milhões de espectadores apenas na versão tridimensional, para destacar a importância do 3D no circuito hoje. “Se algum exibidor tinha dúvida se deve ou não investir, os números estão aí para comprovar”, disse Patrícia, que prepara o lançamento de Avatar para dezembro, esperando um circuito de pelo menos 100 salas. 
Um dos exibidores nacionais que mais apostaram no novo formato, Marcos Araújo, da Cinematográfica Araújo, falou um pouco de sua experiência e afirmou que o 3D “valoriza todo o complexo onde é instalado”. Ele pretende ampliar o número de salas 3D de sua rede para o lançamento de Avatar. Marcelo Bertini, presidente da Cinemark, afirmou que o país ainda não conta com um modelo de negócios definido para o digital, e que a falta de uma estrutura de financiamento torna as coisas mais difíceis. Em sua apresentação na mesa “Implantação para o cinema digital”, Bertini citou o premium – adicional cobrado sobre o valor do ingresso padrão nas salas 3D – praticado no Brasil como o menor da América Latina. 
Segundo o representante da Cinemark, a nova tecnologia traz desafios no aspecto operacional (como um aumento no tempo médio das salas paradas para manutenção) e exige investimento também em qualificação, mas pode, no fim, representar um aumento de até 300% em market share num determinado complexo. Um dado curioso é o que o executivo chamou de “canibalização do 35mm”, ou seja, muitos espectadores, diante das salas 3D lotadas, preferiam voltar no dia seguinte em vez de assistir a A era do gelo 3 em película. 
O primeiro dia da Fiicav contou ainda com uma mesa dedicada aos diferentes modelos de produção em voga no país. Mariza Leão fez uma defesa das novas modalidades do FSA, pedindo paciência para que se possa analisar seus resultados; a produtora também chamou a atenção para a necessidade de se renovar o Artigo 1º da Lei do Audiovisual, que expira em 2011. Eliana Soarez, da Conspiração Filmes, apresentou um estudo sobre a distribuição de recursos em toda a cadeia de comercialização de um filme, incluindo todas as janelas. A apresentação ilustrava com clareza o impacto da alta carga tributária que atinge o setor. Fabiano Gullane, da Gullane Filmes, e Paulo Schmidt, da Academia de Filmes, trataram de experiências de coprodução – internacional e com a TV.
Lazer em shoppings centers cresceu 38%
Os resultados superlativos do mercado de cinema no primeiro semestre também foram tema do seminário, em mesa que reuniu exibidores como Bertini e Francisco Pinto, do Grupo Severiano Ribeiro, e José Carlos Oliveira, da Warner, além de Melanie Schroot, da Nielsen EDI, e Antonio Almeida, da Globo Filmes. Entre os dados apresentados, o destaque ficou com os números do cinema nacional em 2009 que, puxados por blockbusters como Se eu fosse você 2, A mulher invisível e Divã, contribuíram para o bom momento do mercado. A alta concentração de público em poucos títulos e a relação entre captação de recursos e resultados de bilheteria foram examinadas em detalhes na apresentação da Globo Filmes e da Nielsen. 
Bertini destacou a contribuição da crise financeira para o setor de lazer e entretenimento. De acordo com o presidente da Cinemark, o recuo de crédito para bens de consumo levou a uma revisão dos hábitos dos consumidores, o que se refletiu na queda de vendas das megalojas e no crescimento de 38% do segmento de lazer nos shopping centers. Em suas apresentações, Francisco Pinto e José Carlos Oliveira destacaram a importância do produto nacional para o mercado como um todo.

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