sexta-feira, 4 de setembro de 2009

A redenção de um derrotado no Vietnã Por Tiago Bacelar








Há 33 anos, os Estados Unidos ainda estavam se recuperando da derrota no Vietnã e da renúncia do presidente Richard Nixon em meio ao escândalo Watergate. O Rei do Rock Elvis Presley estava afundado na drogas em plena decadência e morreria um ano após o lançamento do filme Taxi Driver, em 1976, de Martin Scorcese. É neste contexto que encontramos Travis, um veterano da Guerra do Vietnã e motorista de Táxi nas ruas noturnas de Nova York.
A interpretação de Robert De Niro como Travis é marcada pelo método de Stanislaviski, em que o ator, antes do filme ter suas filmagens iniciadas, encarna por meses a profissão do personagem para que fique o mais próximo possível da realidade. Partindo desse aspecto, fica evidente em Taxi Driver o direcionamento do roteiro de Paul Schrader para a construção de uma história vista sob o olhar do personagem de Robert De Niro.
Essa marca do roteiro é vista logo de cara pelo espectador nos créditos iniciais, aonde os nomes da equipe de produção surgem sobre um super close nos olhos do taxista Travis. Além disso, Robert De Niro, durante o filme, narra em OFF, revelando ao público detalhes sobre seus pensamentos, suas angústias e seus sentimentos. A montagem em conjunto com a direção de câmera realça o olhar de Travis para a decadente e conturbada cidade de Nova York.
Esse olhar é criado com metáforas visuais e planos detalhes, muitos deles distorcidos e embaçados, de faróis de carros, de luzes de semáforos, de gases borbulhando num copo de refrigerante, do taxímetro e do próprio táxi. O espectador forma sua visão naquele mundo diegético dos anos de 1970 de Nova York por uma câmera subjetiva do taxista, através do pára-brisa do Táxi. O espectador vê o que o está sendo visto pelos olhos de Robert De Niro.
Quando vemos De Niro e seu táxi, só eles aparecem, todo o redor, fica distorcido. Ele está numa espécie de mundo paralelo, em que só existe a solidão e nada mais. A aparição de Martin Scorcese como o psicopata que vai matar a mulher no táxi de Robert De Niro marca a reviravolta da história de Taxi Driver. Scorcese usou um artifício muito utilizado por Hitchcock que aparecia em todos os seus filmes, incluindo Psicose, cujo Score (Trilha Sonora) foi composto por Bernard Hermann, o mesmo de Taxi Driver.
Dentre essas coincidências entre Scorcese e Hitchcock, está o uso da música como instrumento da construção da trama cinematográfica. Na primeira parte de Taxi Driver, a melancolia do protagonista é mostrada por instrumentos de sopro, como o saxofone, em ritmos de Blues e Jazz, típicos do subúrbio nova-iorquino dos anos 1970. Com o despertar da fúria e da revolta do protagonista, a trilha muda para instrumentos mais pesados, como os de percussão, juntamente com o figurino e o cabelo para um estilo punk. Ao matar os bandidos que mantinham a personagem de Jodie Foster, Iris, na prostituição, Scorcese deu redenção para o taxista, que de derrotado no Vietnã, passou a ser aceito pelos americanos como herói.

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