segunda-feira, 28 de setembro de 2009

O subconsciente de dois gênios Por Tiago Bacelar

Tom Cruise e Nicole Kidman

Stanley Kubrick
Stanley Kubrick nas filmagens de 2001 - Uma Odisséia no Espaço
Arthur SchnitzlerUma das formas de se contar uma história no cinema é construir o tempo diegético do filme pelo psicológico dos personagens. Nesse tipo de produção, nós espectadores somos levados para dentro do subconsciente do personagem, nos identificamos com ele, sabemos seus desejos, suas angústias, seus pensamentos e seus medos. Como ótimo exemplo desse tipo de abordagem, temos o filme “De Olhos Bem Fechados”, produzido em 1999, por Stanley Kubrick, baseado no conto “Traumnovelle (História de um Sonho)”, de Arthur Schnitzler.
Stanley Kubrick roteirizou e dirigiu filmes magníficos como Laranja Mecânica, 2001 – Uma Odisséia no Espaço e O Iluminado, morrendo em 1999. Arthur Schnitzler foi um renomado médico, psiquiatra e psicanalista austríaco, escritor de dezenas de dramas e novelas, abordando em suas tramas o monólogo interior e o subconsciente dos seus personagens. As obras Schnitzler influenciaram Freud. Ele faleceu em 1931, na cidade de Viena.
Em 1926 houve a publicação do conto “Traumnovelle” sobre as alucinações de um médico, após a revelação de infidelidade da esposa, na decadente Viena, ainda traumatizada pelo fim do Império Austro-Húngaro. Dessa forma, o filme firma-se como uma perfeita adaptação da obra de Schnitzler, levando o universo diegético de Viena para um retrato fidedigno da sociedade americana contemporânea.
Ao iniciarmos a sessão do filme, nós espectadores somos levados a submergir profundamente no subconsciente do médico Bill Harford (Tom Cruise) e de sua esposa Alice (Nicole Kidman). A crise instaurada pela revelação da traição da esposa reverbera magnificamente nas interpretações de Cruise e Kidman problemas que igualam a sociedade diegética do filme com o mundo real, tais como: álcool, drogas, feminismo, prostituição, problemas de relacionamento e violência.
De Olhos bem fechados é guiado pela bela e tensa música do piano do amigo de faculdade de Bill, Nick Nightingale, atuando como elo dramático do protagonista e do ritmo narrativo nos momentos de tensão. Ainda nesse aspecto, no filme, o jazz atua como elemento da traição, o pop do amor e a ópera da angustia e do medo.
É também o pianista responsável pelo início do surto psicótico de Tom Cruise, aonde vemos em seu subconsciente alucinações da traição da esposa. A cena genial, macabra e tensa do ritual mascarado de orgia e sexo revela ao espectador a questão das máscaras que cada ser humano utiliza para jogar com verdade, mentira, e se adaptar a determinada situação e regras da sociedade. Em meio a esse local de poder e sedução, o protagonista despeja sua melancolia na tentativa de descobrir seu monólogo interior e encontrar uma forma de salvar seu casamento. Nessa busca do eu e do ego, Kubrick foi embora desta vida, deixando para o público esse último e belo resultado do seu subconsciente.

Nenhum comentário: