sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Anticristo: Polêmica ou Falácia? Por Tiago Bacelar

A polêmica estréia do novo filme do diretor dinamarquês Lars Von Trier, diretor de filmes como Dogville e Dançando no Escuro, aconteceu em dois lugares totalmente distintos: o Multiplex Recife e a Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Ao contrário de muitos críticos e cinéfilos prefeririam, fui ver Anticristo, dito por eles como “cabeça” e “autoral”, num espaço considerado “atípico” para assistir tal obra, o Multiplex Recife.
Antes de iniciar o filme, teve a tradicional animação da Allianz com personagens bonitinhos e engraçados, como Charles Chaplin, em 3D, explicando as normas de segurança da sala de exibição. Tudo a ver com a sandice que se esperava ver após essa propaganda e os trailers dos filmes a estrearem ainda. Durante a exibição de Anticristo, tive a certeza de ter escolhido o lugar certo, ao ver ali, na telona, uma trama, com muitas características, semelhantes dos tradicionais e bons suspenses hollywoodianos, exibidos pela TV Globo no Supercine.
É o caso, por exemplo, da história, que se trata de um casal, cuja mulher com traços de psicopatia, ao saber que o marido quer largá-la, decide torturá-lo psicologicamente e fisicamente, para depois matá-lo. O final seria a morte da psicopata. Como em Lars Von Trier, nada é tão simples assim, o espectador é levado para um suspense diferente, autodidático e carregados de metáforas visuais. O filme Anticristo é intenso, mas não chega a ser algo considerado extremamente “polêmico” ou “cabeça”.
Por ser um suspense não tradicional, foi legitimado pela crítica internacional para ser exibido em Cannes e em salas de filmes “cabeça” como o cinema da Fundaj. O próprio Lars Von Trier disse em uma entrevista não ter usado nessa produção nem “50% do seu intelecto”. Anticristo é dividido em seis capítulos: Prólogo, Luto, Dor, Desespero, Três Mendigos e Epílogo. Obviamente, o número seis é uma referência a besta, ao satanás, a filha do demônio, genialmente bem representada pela atriz Charlotte Gainsbourg, vencedora da Palma de Ouro em Cannes por este papel. Lars Von Trier inicia seu prólogo com uma seqüência belíssima super lenta, aonde mínimos detalhes são mostrados.
Vemos no mesmo momento, com o tempo andando suavemente, o casal em cenas de sexo explícito intercalado com planos do filho deles saindo do berço; a garrafa com bebida sendo derrubada; o filho indo em direção a janela; a garrafa caindo e a bebida sendo expelida; o filho segurando um urso de pelúcia atravessa a janela, a garrafa continua caindo; o menino cai; a garrafa chega ao chão, o menino também e o casal atinge o clímax. Tudo isso ao som de Lascia Ch’io Pianga, de Händel, com vocal da soprano norueguesa Tuva Semmingsen.
A partir do capítulo dois, Von Trier apresenta os três mendigos, importantes para a conclusão da história. No Luto, surge o veado, representando o marido (Willem Dafoe) acuado pelo início do surto psicótico da esposa. Na dor, aparece à raposa se auto-flagelando, aonde as mutilações reverberam tanto no corpo do marido como na esposa. No desespero, o corvo revela-se para comer a carniça. É o momento em que tortura, sexo explícito e morte se revelam íntimas. A psicopatia da mulher chega a um nível extremo de loucura e perversidade.
Após ver William Dafoe, numa magistral atuação, sendo violentado sexualmente, torturado psicologicamente, castrado, parafusado na perna, e apunhalado nas costas, o espectador tem a revelação no epílogo por uma metáfora de que o marido seria o próprio Cristo. Anticristo é um ótimo suspense que a vale a pena ser visto, seja no Supercine, no Multiplex, na Fundaj ou no Festival de Cinema, em Cannes.

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