Texto por Tiago Bacelar (autor deste blog)
Desde o final da Revolução Industrial na Inglaterra, a evolução tecnológica virou uma espécie de sina a ser seguida pela humanidade. Com o advento das polêmicas teorias pós-modernistas de Fredric Jameson, Jürgen Habermas e François Lyotard, os cientistas e filósofos passaram a se voltar contra os ideais iluministas da modernidade e as antigas verdades absolutas do marxismo, que não tinham previsto como o capitalismo iria influenciar a cultura de modo geral, no século XX, em pleno período pós-colonialista. A partir de então, a crença na verdade, alcançável pela razão, e na linearidade histórica rumo ao progresso, deixaram de ser considerados válidos pelos novos pensadores.
Tentando superar o modernismo, através do pensamento, da ciência e da tecnologia, Isaac Asimov (1920-1992), nascido na Rússia, formulou as três leis da robótica, em 1950, em decorrência da produção do filme Eu, Robô que narrava a investigação de um policial, em um futuro caótico, para desvendar um crime cometido por um robô (1- Os robôs não devem machucar os humanos; 2- O robô deve obedecer todas as regras dos humanos, com a exceção de não contrariar a primeira lei, o que permitia a sua transgressão; 3- O robô deve garantir sua integridade, sem que inflija às duas primeiras regras). Essa “legislação” de Asimov passou a ser seguida, principalmente pelo cinema e pela televisão, como uma espécie de regra para esse complexo relacionamento entre máquinas e humanos.
Apesar de ter trazido um novo conceito para o elo entre a humanidade e a tecnologia no pós-moderno, Asimov não foi o precursor desse ideal. Para esse posto, quem mais se encaixaria é Fritz Lang (1890-1976), nascido em Viena, na Áustria, e, diretor de filmes renomados como: “O Testamento do Doutor Mabuse”, de 1932, que ficou famoso por descrever a filosofia nazista de forma grosseira, a velha moda do pastiche. Devido à tamanha ousadia e jogo com o tema, o longa-metragem de Lang foi proibido, em março de 1933, pelo chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels, dois meses depois de o partido nacional-socialista ter tomado o poder na Alemanha.
Em 1936, ao fazer o filme “Fúria”, Fritz buscou tratar da questão do linchamento público de um criminoso, questionando qual seria o posicionamento do Centro hegemônico e dominante em relação a um ato de barbárie cometido pela sociedade periférica “alienada”. O diretor austríaco dirigiu 30 filmes, produzidos na Alemanha e nos Estados Unidos, dos quais, dentre eles, está o longa “Só vivemos uma vez”, de 1937, e, Metropólis, de 1927, sua produção mais famosa, surgida no auge do cinema mudo, a qual seria regravada, anos mais tarde, com áudio na Alemanha. Baseado na obra da esposa de Fritz, Thea Von Harbou, Metropólis mostra como a elite massacra os operários da cidade de mesmo nome da produção, através do uso de robôs e máquinas.
A história se passa no ano de 2026, onde há um cenário evidente de luta de classes, objetivando discutir os modos de produção, criados pela Revolução Industrial, e, de que forma, esse sistema vai determinar o futuro incerto da humanidade. Fritz faz uma espécie de pastiche das teorias marxistas de Karl Marx, presentes na obra “O Capital”. Dessa forma, podemos encontrar, em Metropólis, duas classes bem definidas: a elite poderosa e dominante, que desfruta das belezas da cidade, e, os operários, habitantes de um mundo sombrio e subterrâneo, abaixo do nível das máquinas.
Essas pessoas são responsáveis pelo funcionamento e sobrevivência de toda a estrutura de Metropólis. Nessa parte, Fritz faz questão de banalizar o cotidiano desses trabalhadores, ao mostrá-los como pobres coitados dessa rotina tão degradante. A cidade de Metropólis é governada por Joh Fredersen, o qual simplesmente ignora a existência dos operários, deixando-os a própria sorte. Eles seriam representações simbólicas e pós-estruturalistas dos escravos de um Faraó do Egito Antigo.
Ao criar o Mestre de Metropólis, Fritz fez também uma espécie de sátira à elite capitalista, a “cobra” sempre pronta a dar o primeiro bote a qualquer manifestação por parte dos “coelhinhos indefesos”, os operários. Essa questão pode ser vista no filme, quando Joh passa a achar que os operários estão tramando algo, após encontrar bilhetes aparentemente indecifráveis entre eles. Nesse longa-metragem, há ainda a presença do típico “filhinho de papai”, representado pelo herdeiro de Joh, Freder Fredersen, interpretado no filme pelo ator Gustav Froehlich.
Da mesma forma que seu pai, Freder, em sua vida diária, gosta de aproveitar as belezas e as maravilhas de Metropólis, sem dar a mínima importância para o que acontece nas áreas mais pobres. Porém, certo dia, o destino lhe prega uma peça, em seu lugar favorito, o “Jardim dos Prazeres". Fredersen acaba se apaixonando por Maria, uma operária, que tinha levado os filhos de seus companheiros de trabalho para conhecer a morada capitalista. Em virtude disso, ele decide largar o centro, e, vai para a periferia desconhecida, em sua busca, e, termina por se chocar com a precária condição em que viviam os operários. Revoltado com tudo aquilo, o filho tentar armar um movimento de rebelião para acabar com a repressão de Joh, através das máquinas.
A partir dessa parte, o filme, que aparentemente iria trazer uma série de clichês, aprofunda ainda mais as relações entre humanos e robôs. Isso acontece, quando o cientista Rotwang cria, a pedido de Joh, um robô em forma de mulher, uma operária perfeita, que já mais faria qualquer tipo de movimento contra as suas condições de trabalho. Essa nova máquina tinha “alma” e “aparência humana”.
Dessa forma, Fritz adianta as demissões que iriam acontecer, nos dias atuais, nas fábricas, com o advento de novas tecnologias para o crescimento da produção industrial. No final desse revolucionário longa-metragem, com a morte de Rotwang e a destruição de sua criação “perversa” e “demoníaca”, os operários podem finalmente descobrir que o “salvador”, profetizado por Maria, era Freder, o herói romântico e idealista. O protagonista seria uma espécie de elo entre a elite de Metropólis e a classe operária, sendo uma clara alusão ao Ricardo III, de William Shakespeare, e, a Adolf Hitler, que, na época, ainda estava ganhando força na Alemanha.
Aproveitando-se dessa prerrogativa de Fritz, Osamu Tezuka, o criador do mangá (história em quadrinhos produzida no Japão) moderno, decidiu fazer a sua própria versão de Metropólis. Criado no século XIX, por Katsushita Hokusai, o mangá surgiu pelas gravuras de madeira, chamadas Ukiyo-ê, e, ganhou reconhecimento externo, via Rakuten Kitazawa, especialmente, na França. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, o mangá, que já tinha se consolidado na cultura japonesa, voltou-se para os temas bélicos, por exigência do Imperador Hiroito.
Ao término do conflito, quase todas as editoras estavam falidas. Pensando em mudar isso, o mangá, que passou a ser impresso em papel jornal, por ser mais barato, ganhou novas formas nas mãos de Tezuka e do grupo Tokiwa, formado por renomados mangakas (desenhistas de mangás) do Japão. Em “Shintaka Rajima” (A Nova Ilha do Tesouro), Tezuka incorporou ao mangá uma linguagem, um roteiro e uma narrativa cinematográfica, onde as imagens valeriam mais que as palavras, presentes nos quadros. Além disso, as onomatopéias integraram-se as seqüências, buscando trazer uma maior resposta do leitor para a história, aproximando-o da ação.
Em Metropólis, Tezuka mostra os planos do poderoso industrial Duke Reid de construir Tima, uma robô super avançada. Na época, a sua aparência “humana” chocou a classe conservadora nipônica, por estar se criando uma cultura “absurda” e “idealista” de que o destino da humanidade era ser subjugado e subvertido pela tecnologia. No decorrer da história, o filho do Mestre de Metropólis, Rock, planeja destruir, por não gostar de máquinas, “Tima” completamente, iniciando, assim, a um perigoso jogo entre humanos e robôs, que pode trazer a destruição do universo. Apesar de ser uma clara referência ao filme de Lang, Tezuka não conseguiu concluir esse mangá, por ter dado prioridade a outros projetos. Em 2001, Katsuhiro Otomo (Akira e Spriggan) e Rintaro (Astro Boy e Jetter Mars) decidiram dirigir um projeto da japonesa Tezuka Productions de animar Metropólis. A produção foi uma forma de homenagear o mestre dos mangás Tezuka, falecido desde 1989. A aposta funcionou, e, o Metropólis de Tezuka pôde ser finalmente concluído. No Brasil, o filme foi lançado em DVD pela Columbia Tri-Star.
Depois de abandonar Metropólis, Tezuka partiu para um dos seus projetos mais famosos, o mangá de “Astro Boy”, lançado em 1952, pela revista Shonen, da editora Kobunsha, que rendeu um total de 23 “tankohons” (volumes encadernados). Buscando ressuscitar o seu filho Dobio, o doutor Tenma constrói um robô com a mesma aparência do ente querido. Planejando a segurança de sua cria, Tenma desenvolve uma série de armas e as coloca dentre os mecanismos de Dobio. Na seqüência, por não aceitar essa substituição em seu inconsciente, o cientista enlouquece e sua criação é adormecida.
O planeta desenvolve-se, e, chegamos ao ano de 2003, onde robôs passaram a facilitar a vida dos homens. É nesse contexto que o Doutor Ochanomizu, conhecido no ocidente com O’Shay, se encontra com Dobio, e, decide “revivê-lo”. De volta a “vida”, Dobio recebe o nome de Astro, e, por ter aparência humana, vai à escola e faz amigos humanos. Ao saber da volta de sua cria, Tenma decide enviar robôs poderosos para testar Astro, e, fazê-lo liderar a revolta dos robôs contra a humanidade.
Porém, Astro tem “alma” e “coração” humano, e, sonha em trazer a paz para máquinas e homens. Indo no caminho oposto de seu criador, Astro decide lutar para que os seus ideais se tornem realidade. O sucesso do robô “humano” foi imediato, gerando a produção, em 1963, pela Mushi Productions, de uma versão animada de Astro Boy. Dirigido por Osamu Tezuka, esse anime (desenho animado japonês, que teve sua origem em 1917) rendeu 193 episódios em preto e branco.
A fórmula funcionou, e, Astro Boy ganhou mais duas versões: uma de 1980, de 52 capítulos, dirigida por Tetsu Dezaki e Noburo Ishiguro, e, produzida pela Mushi Productions e Tezuka Productions – e outra de 2003, com 50 episódios, dirigida por Kazuya Konaka, e, produzida pela Dentsu, Sony Pictures e Tezuka Productions. Essa última foi exibida por aqui no Brasil, em 2004, no Cartoon Network. Com Tezuka, os robôs a se confrontar entre o respeito ou o confronto com a humanidade que os criou.
A linha pós-moderna de Tezuka consolidou-se, em 1977, quando as japonesas Toei Animation e Tezuka Productions reviveram o relacionamento de robôs e humanos com Jetters Mars. Essa produção de 27 episódios foi dirigida por Rintaro. Assim como em Astro Boy, que é uma máquina com sete poderes diferentes, essa é uma história de um robô que tem suas preocupações e cresce como uma criança humana. O nome Marte, dado ao robô, vem do Deus da Guerra na mitologia romana, o qual tem a mesma denominação. O Doutor Yamanoue, que criou o corpo de Marte, tenta usá-lo em propósitos militares. Porém, o criador da inteligência artificial de Marte, o Doutor Kawashimo, não aceita essa idéia. Marte passa a ficar entre “o corpo para lutar” e “o coração para amar”. Esse conflito mental do protagonista é uma característica típica de humanos, e, era um dos temas preferidos de Osamu Tezuka. No Brasil, a série foi exibida no período de 1982 a 1985, pela TV Record.
Com o uso do robô “humano”, os seguidores da pós-modernidade buscaram criar uma consciência capaz de quebrar com o grande divisor que separava a Arte de vanguarda da Indústria Cultural, buscando unir cada vez mais as esferas públicas eruditas, populares e de massas. Foi acreditando nisso, que, em 1982, o norte-americano Ridley Scott adaptou a obra de Philip Dick, “Do Androids Dream of Electric Shee?”, para criar o longa-metragem Blade Runner – o Caçador de Andróides.
A história se passa em Los Angeles, onde o alimento é escasso e a população vive apertada em arranha-céus. No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve robôs mais fortes, inteligentes e ágeis que os seres humanos, chamados de “Replicantes”, com o objetivo de colonizar e explorar outros planetas. Por terem “alma” humana, os “Replicantes” mais evoluídos decidem fazer uma rebelião, em uma colônia fora da Terra. O incidente leva os humanos a proibirem a entrada desses robôs no nosso planeta, sob a pena de “execução”. Dessa forma, é criado um esquadrão de elite, formado por policiais, conhecidos como Blade Runner.
Passam-se alguns anos, e, chegamos a 2019, onde os humanos são surpreendidos com a vinda de cinco Replicantes a Terra. Para caçá-los, o ex-Blade Runner Rick Deckard, interpretado pelo ator Harrison Ford, é convocado. É nesse contexto que uma batalha catastrófica e exagerada entre homens e robôs começa. A construção cenográfica e no design desse filme é marcada pela fragmentação, pela descontinuidade, pelo pluriculturalismo e pelo caos, todos, elementos típicos da pós-modernidade.
O filme de Scott traz uma Los Angeles, parecida, a princípio, com um asilo de loucos, mostrando um futuro que virá como um pesadelo, que deixará de existir ao acordarmos. Mas, Blade Runner provou que os mitos deixaram de ser um mero um sonho coletivo, para se tornar no pior pesadelo para a humanidade, de ser substituída por máquinas, criadas por ela mesma. Essa questão tornou-se muito mais evidente, em 1989, quando o japonês Masamune Shirow, criou Ghost in the Shell - o Fantasma do Futuro, animado em 1995, sob a direção de Mamoru Oshii.
Nesse novo mundo, surgiram hackers de cérebros. O mais conhecido deles é chamado de Manipulador de Marionetes. Quando ele começa a se envolver na política e na misteriosa seção nove, uma Força Especial da Polícia é chamada para impedi-lo. Isso traz várias dúvidas em relação ao que é utilizado para definir o que seja um ser humano e um robô? Por que o Manipulador de Marionetes atrapalha tanto num mundo onde homens e máquinas estão cada vez mais parecidos?
São essas questões fundamentadas nessa obra do mangaka Masamune Shirow, que fizeram de Ghost in the Shell, um dos maiores clássicos pós-modernos já exibidos por aqui. Esse filme, veiculado no Brasil pela Locomotion, serviria, anos mais tarde, de inspiração para a criação da trilogia Matrix, dos irmãos Wachowski. A partir dessa obra, o conceito da existência de robôs “humanos” ganhou uma nova abordagem, aperfeiçoada, em 1995, quando a Bandai Visual decidiu animar a obra de Akahori Satoru e Negishi Hiroshi, Saber Marionette, publicada pela revista Dragon Magazine.
Produzida inicialmente para vídeo, com três episódios, Saber Marionette “R” narra à história de um mundo habitado somente por homens, onde houve a necessidade de criar mulheres marionetes para suprir essa falta do lado oposto. Em pleno Japão feudal, o jovem Otaru desperta três marionetes guerreiras especiais - Cherry, Bloodberry e Lime – por terem “corações” e “alma humana”.
Junto com elas, Otaru deve impedir as ambições de Fausto de dominar todo o Japão. Devido ao sucesso, esse anime ganhou duas novas versões: Saber Marionette J, de 1996, com 25 episódios, e, Saber Marionette J to X, de 1998, com 26 episódios. Esse seriado ousou ao abandonar a ambientação futurística eternizada pelas antecessoras do gênero. Satoru e Hiroshi buscaram fazer uma espécie de chanchada do Japão Feudal, misturando arquiteturas clássicas orientais com o caos do uso da tecnologia robótica.
A relação entre homem e mulher-robô ganhou ares “perversos” e “satânicos” no anime Dragon Ball, criado por Akira Toriyama e animado pela Toei Animation. Nessa série é possível ver uma máquina, a Andróide Nº. 18, se casando e tendo uma filha com o personagem humano, Kuririn. Em 1999, o conceito de robô “humano” foi elevado a uma categoria surrealista e caótica com a produção da Columbia Pictures de o Homem Bicentenário. Dirigido por Chris Collumbus, o filme começando narrando à aquisição do robô NDR-114 pelo líder da família Martin, Richard Martin.
A máquina, interpretada pelo ator Robin Williams, recebe o nome de Andrew. Em pouco tempo, a família Martin percebe que Andrew não é um robô qualquer, por seu interesse em ler livros sob os mais diversos assuntos para ampliar os seus conhecimentos. Apesar da rejeição inicial, Andrew acaba sendo aceito como membro da família. Os anos vão se passando, e, Andrew descobre o quanto à existência humana é curta se comparada com a sua, que é eterna. Depois de perder tantas pessoas, Andrew parte numa longa jornada em busca de seu outro eu e do motivo de sua existência. Após tanta procura, ele finalmente encontra uma máquina do mesmo modelo que a sua.
No mesmo lugar, Andrew descobre que um cientista está fazendo experiências para a criação de órgãos humanos artificiais. Por ter economizado muito dinheiro, enquanto trabalhava para a família Martin, Andrew decide torna-se um humano, e, morrer como tal. Aos poucos, ele ganha uma pele, um coração, uma espinha dorsal, sentimentos, tato, olfato, e, se apaixona por uma mulher.
A humanidade reluta em conferir o título de humano a um robô. A linha do tempo avança, Andrew torna-se um “autêntico” integrante da sociedade, e, ganha o tão sonhado reconhecimento de sua humanidade pelos próprios humanos. Porém, essa vitória chega tarde demais. No momento em que a justiça era feita, a vida de Andrew se esgota e sua “alma” finalmente descansa ao lado de sua amada. O Homem Bicentenário vai fundo na concepção de dominação da tecnologia sobre a humanidade, mostrando o quanto as máquinas podem ser “cruéis” e “benéficas” para a sociedade.
Em 2001, o futuro caótico voltou a fazer parte das produções do gênero de robôs “humanos”, pelas mãos do diretor americano Steven Spielberg, através do filme “AI - Inteligência Artificial”. Estamos em 2141, onde grande parte da Terra foi inundada com o derretimento da maioria das calotas glaciais. Nessa época, um pai desesperado, pela morte do filho, resolve pedir a uma grande companhia de robótica, que construa um robô semelhante ao seu ente querido.
“AI” traz uma mistura dos conceitos de Tezuka, Lang e Scott. A atuação do ator Haley Joel Osment, o mesmo de o Sexto Sentido, no papel do robô David, ajudou Spielberg a juntar fantasia e ficção numa mesma produção. Originalmente, “AI” foi concebido por Stanley Kubrick, o mesmo de “2001: uma Odisséia no Espaço”, que faleceu antes de ver seu sonho realizado. Para elaborar o roteiro, Kubrick se baseou na obra de Brian Aldiss, “Superbrinquedos duram o verão todo”.
No decorrer do filme, David acaba sendo abandonado por sua “família”, e, decide partir em busca da Fada Azul para se tornar um humano. Seu objetivo com isso é ganhar o amor de sua “mãe”. Depois de percorrer longos caminhos, David chega ao local destinado, e, se decepciona ao verificar que seu desejo era impossível. Ao tentar o suicídio, David tenta se igualar ao homem, mas, sua tentativa fracassa. Perdido no fundo do oceano, David encontra a Fada Azul num parque de diversões inundado.
Na seqüência, ele pede para deixar de ser um robô. Sem obter resposta, David fica, por toda a eternidade, observando a Fada Azul. A Terra entra na Era Glacial novamente, e, David é congelado. Extra-Terrestres encontram-no e o trazem para a uma espaçonave. Interessados em saber sobre a existência humana, eles realizam o desejo de David de ver sua mãe por mais uma vez. A felicidade deles dura pouco, um dia, assim, como a vida humana. Quando o tempo de sua mãe se encerra, David finalmente descansa em paz para sempre.
Em 2002, o relacionamento entre homens e máquinas consolida-se de vez com o anime Chobits, baseado no mangá do Clamp, com roteiro de Nanase Ohkawa e arte de Apapa Mokona, Mick Nekoi e Satsuki Igarashi, publicado na Revista Young Magazine da editora Kodansha. Sob direção de Morio Asaka e animação da japonesa Madhouse, Chobits narra um mundo, onde humanos convivem com robôs iguais a mulheres reais, chamados de Persocons. Certo dia, ao voltar do trabalho, o jovem Hideki Motosuwa encontra no lixo uma persocon bonita, graciosa e de cabelos longos.
Ele passa a chamá-la de “Chi”. Com a ajuda do seu amigo, Hiromu Shinbo, da dona da pousada Chitose Hibiya, do fanático por persocons, Minoru Kokubunji, e de sua amiga Yumi Omura, Hideki começa a ensinar muitas coisas para “Chi”. No decorrer da série de 26 episódios, o protagonista vai percebendo o quanto gosta de sua persocon, dando início a uma bonita relação de amor entre humanos e robôs. Toda essa extensa abordagem, desse conceito pós-moderno, pela mídia, mostra que o maior problema da humanidade é criar algo que seja igual a sua imagem e semelhança. Porém, isso se torna, de certo modo, perigoso para o próprio criador, pois a criatura tende a imitá-lo em todos os seus aspectos existenciais, inclusive o seu lado “perverso” e “agressivo” em relação a tudo que está ao seu redor. Ao criar a tecnologia, o homem pensou em dominar a natureza, mas é o oposto que acontece. Basta vir um Tsunami da vida, para a humanidade verificar o quanto ela é fraca e indefesa perante as criações de Deus, o tempo e a imensidão infinita do universo.
Tentando superar o modernismo, através do pensamento, da ciência e da tecnologia, Isaac Asimov (1920-1992), nascido na Rússia, formulou as três leis da robótica, em 1950, em decorrência da produção do filme Eu, Robô que narrava a investigação de um policial, em um futuro caótico, para desvendar um crime cometido por um robô (1- Os robôs não devem machucar os humanos; 2- O robô deve obedecer todas as regras dos humanos, com a exceção de não contrariar a primeira lei, o que permitia a sua transgressão; 3- O robô deve garantir sua integridade, sem que inflija às duas primeiras regras). Essa “legislação” de Asimov passou a ser seguida, principalmente pelo cinema e pela televisão, como uma espécie de regra para esse complexo relacionamento entre máquinas e humanos.
Apesar de ter trazido um novo conceito para o elo entre a humanidade e a tecnologia no pós-moderno, Asimov não foi o precursor desse ideal. Para esse posto, quem mais se encaixaria é Fritz Lang (1890-1976), nascido em Viena, na Áustria, e, diretor de filmes renomados como: “O Testamento do Doutor Mabuse”, de 1932, que ficou famoso por descrever a filosofia nazista de forma grosseira, a velha moda do pastiche. Devido à tamanha ousadia e jogo com o tema, o longa-metragem de Lang foi proibido, em março de 1933, pelo chefe da propaganda nazista Joseph Goebbels, dois meses depois de o partido nacional-socialista ter tomado o poder na Alemanha.
Em 1936, ao fazer o filme “Fúria”, Fritz buscou tratar da questão do linchamento público de um criminoso, questionando qual seria o posicionamento do Centro hegemônico e dominante em relação a um ato de barbárie cometido pela sociedade periférica “alienada”. O diretor austríaco dirigiu 30 filmes, produzidos na Alemanha e nos Estados Unidos, dos quais, dentre eles, está o longa “Só vivemos uma vez”, de 1937, e, Metropólis, de 1927, sua produção mais famosa, surgida no auge do cinema mudo, a qual seria regravada, anos mais tarde, com áudio na Alemanha. Baseado na obra da esposa de Fritz, Thea Von Harbou, Metropólis mostra como a elite massacra os operários da cidade de mesmo nome da produção, através do uso de robôs e máquinas.
A história se passa no ano de 2026, onde há um cenário evidente de luta de classes, objetivando discutir os modos de produção, criados pela Revolução Industrial, e, de que forma, esse sistema vai determinar o futuro incerto da humanidade. Fritz faz uma espécie de pastiche das teorias marxistas de Karl Marx, presentes na obra “O Capital”. Dessa forma, podemos encontrar, em Metropólis, duas classes bem definidas: a elite poderosa e dominante, que desfruta das belezas da cidade, e, os operários, habitantes de um mundo sombrio e subterrâneo, abaixo do nível das máquinas.
Essas pessoas são responsáveis pelo funcionamento e sobrevivência de toda a estrutura de Metropólis. Nessa parte, Fritz faz questão de banalizar o cotidiano desses trabalhadores, ao mostrá-los como pobres coitados dessa rotina tão degradante. A cidade de Metropólis é governada por Joh Fredersen, o qual simplesmente ignora a existência dos operários, deixando-os a própria sorte. Eles seriam representações simbólicas e pós-estruturalistas dos escravos de um Faraó do Egito Antigo.
Ao criar o Mestre de Metropólis, Fritz fez também uma espécie de sátira à elite capitalista, a “cobra” sempre pronta a dar o primeiro bote a qualquer manifestação por parte dos “coelhinhos indefesos”, os operários. Essa questão pode ser vista no filme, quando Joh passa a achar que os operários estão tramando algo, após encontrar bilhetes aparentemente indecifráveis entre eles. Nesse longa-metragem, há ainda a presença do típico “filhinho de papai”, representado pelo herdeiro de Joh, Freder Fredersen, interpretado no filme pelo ator Gustav Froehlich.
Da mesma forma que seu pai, Freder, em sua vida diária, gosta de aproveitar as belezas e as maravilhas de Metropólis, sem dar a mínima importância para o que acontece nas áreas mais pobres. Porém, certo dia, o destino lhe prega uma peça, em seu lugar favorito, o “Jardim dos Prazeres". Fredersen acaba se apaixonando por Maria, uma operária, que tinha levado os filhos de seus companheiros de trabalho para conhecer a morada capitalista. Em virtude disso, ele decide largar o centro, e, vai para a periferia desconhecida, em sua busca, e, termina por se chocar com a precária condição em que viviam os operários. Revoltado com tudo aquilo, o filho tentar armar um movimento de rebelião para acabar com a repressão de Joh, através das máquinas.
A partir dessa parte, o filme, que aparentemente iria trazer uma série de clichês, aprofunda ainda mais as relações entre humanos e robôs. Isso acontece, quando o cientista Rotwang cria, a pedido de Joh, um robô em forma de mulher, uma operária perfeita, que já mais faria qualquer tipo de movimento contra as suas condições de trabalho. Essa nova máquina tinha “alma” e “aparência humana”.
Dessa forma, Fritz adianta as demissões que iriam acontecer, nos dias atuais, nas fábricas, com o advento de novas tecnologias para o crescimento da produção industrial. No final desse revolucionário longa-metragem, com a morte de Rotwang e a destruição de sua criação “perversa” e “demoníaca”, os operários podem finalmente descobrir que o “salvador”, profetizado por Maria, era Freder, o herói romântico e idealista. O protagonista seria uma espécie de elo entre a elite de Metropólis e a classe operária, sendo uma clara alusão ao Ricardo III, de William Shakespeare, e, a Adolf Hitler, que, na época, ainda estava ganhando força na Alemanha.
Aproveitando-se dessa prerrogativa de Fritz, Osamu Tezuka, o criador do mangá (história em quadrinhos produzida no Japão) moderno, decidiu fazer a sua própria versão de Metropólis. Criado no século XIX, por Katsushita Hokusai, o mangá surgiu pelas gravuras de madeira, chamadas Ukiyo-ê, e, ganhou reconhecimento externo, via Rakuten Kitazawa, especialmente, na França. Com a chegada da Segunda Guerra Mundial, o mangá, que já tinha se consolidado na cultura japonesa, voltou-se para os temas bélicos, por exigência do Imperador Hiroito.
Ao término do conflito, quase todas as editoras estavam falidas. Pensando em mudar isso, o mangá, que passou a ser impresso em papel jornal, por ser mais barato, ganhou novas formas nas mãos de Tezuka e do grupo Tokiwa, formado por renomados mangakas (desenhistas de mangás) do Japão. Em “Shintaka Rajima” (A Nova Ilha do Tesouro), Tezuka incorporou ao mangá uma linguagem, um roteiro e uma narrativa cinematográfica, onde as imagens valeriam mais que as palavras, presentes nos quadros. Além disso, as onomatopéias integraram-se as seqüências, buscando trazer uma maior resposta do leitor para a história, aproximando-o da ação.
Em Metropólis, Tezuka mostra os planos do poderoso industrial Duke Reid de construir Tima, uma robô super avançada. Na época, a sua aparência “humana” chocou a classe conservadora nipônica, por estar se criando uma cultura “absurda” e “idealista” de que o destino da humanidade era ser subjugado e subvertido pela tecnologia. No decorrer da história, o filho do Mestre de Metropólis, Rock, planeja destruir, por não gostar de máquinas, “Tima” completamente, iniciando, assim, a um perigoso jogo entre humanos e robôs, que pode trazer a destruição do universo. Apesar de ser uma clara referência ao filme de Lang, Tezuka não conseguiu concluir esse mangá, por ter dado prioridade a outros projetos. Em 2001, Katsuhiro Otomo (Akira e Spriggan) e Rintaro (Astro Boy e Jetter Mars) decidiram dirigir um projeto da japonesa Tezuka Productions de animar Metropólis. A produção foi uma forma de homenagear o mestre dos mangás Tezuka, falecido desde 1989. A aposta funcionou, e, o Metropólis de Tezuka pôde ser finalmente concluído. No Brasil, o filme foi lançado em DVD pela Columbia Tri-Star.
Depois de abandonar Metropólis, Tezuka partiu para um dos seus projetos mais famosos, o mangá de “Astro Boy”, lançado em 1952, pela revista Shonen, da editora Kobunsha, que rendeu um total de 23 “tankohons” (volumes encadernados). Buscando ressuscitar o seu filho Dobio, o doutor Tenma constrói um robô com a mesma aparência do ente querido. Planejando a segurança de sua cria, Tenma desenvolve uma série de armas e as coloca dentre os mecanismos de Dobio. Na seqüência, por não aceitar essa substituição em seu inconsciente, o cientista enlouquece e sua criação é adormecida.
O planeta desenvolve-se, e, chegamos ao ano de 2003, onde robôs passaram a facilitar a vida dos homens. É nesse contexto que o Doutor Ochanomizu, conhecido no ocidente com O’Shay, se encontra com Dobio, e, decide “revivê-lo”. De volta a “vida”, Dobio recebe o nome de Astro, e, por ter aparência humana, vai à escola e faz amigos humanos. Ao saber da volta de sua cria, Tenma decide enviar robôs poderosos para testar Astro, e, fazê-lo liderar a revolta dos robôs contra a humanidade.
Porém, Astro tem “alma” e “coração” humano, e, sonha em trazer a paz para máquinas e homens. Indo no caminho oposto de seu criador, Astro decide lutar para que os seus ideais se tornem realidade. O sucesso do robô “humano” foi imediato, gerando a produção, em 1963, pela Mushi Productions, de uma versão animada de Astro Boy. Dirigido por Osamu Tezuka, esse anime (desenho animado japonês, que teve sua origem em 1917) rendeu 193 episódios em preto e branco.
A fórmula funcionou, e, Astro Boy ganhou mais duas versões: uma de 1980, de 52 capítulos, dirigida por Tetsu Dezaki e Noburo Ishiguro, e, produzida pela Mushi Productions e Tezuka Productions – e outra de 2003, com 50 episódios, dirigida por Kazuya Konaka, e, produzida pela Dentsu, Sony Pictures e Tezuka Productions. Essa última foi exibida por aqui no Brasil, em 2004, no Cartoon Network. Com Tezuka, os robôs a se confrontar entre o respeito ou o confronto com a humanidade que os criou.
A linha pós-moderna de Tezuka consolidou-se, em 1977, quando as japonesas Toei Animation e Tezuka Productions reviveram o relacionamento de robôs e humanos com Jetters Mars. Essa produção de 27 episódios foi dirigida por Rintaro. Assim como em Astro Boy, que é uma máquina com sete poderes diferentes, essa é uma história de um robô que tem suas preocupações e cresce como uma criança humana. O nome Marte, dado ao robô, vem do Deus da Guerra na mitologia romana, o qual tem a mesma denominação. O Doutor Yamanoue, que criou o corpo de Marte, tenta usá-lo em propósitos militares. Porém, o criador da inteligência artificial de Marte, o Doutor Kawashimo, não aceita essa idéia. Marte passa a ficar entre “o corpo para lutar” e “o coração para amar”. Esse conflito mental do protagonista é uma característica típica de humanos, e, era um dos temas preferidos de Osamu Tezuka. No Brasil, a série foi exibida no período de 1982 a 1985, pela TV Record.
Com o uso do robô “humano”, os seguidores da pós-modernidade buscaram criar uma consciência capaz de quebrar com o grande divisor que separava a Arte de vanguarda da Indústria Cultural, buscando unir cada vez mais as esferas públicas eruditas, populares e de massas. Foi acreditando nisso, que, em 1982, o norte-americano Ridley Scott adaptou a obra de Philip Dick, “Do Androids Dream of Electric Shee?”, para criar o longa-metragem Blade Runner – o Caçador de Andróides.
A história se passa em Los Angeles, onde o alimento é escasso e a população vive apertada em arranha-céus. No início do século XXI, uma grande corporação desenvolve robôs mais fortes, inteligentes e ágeis que os seres humanos, chamados de “Replicantes”, com o objetivo de colonizar e explorar outros planetas. Por terem “alma” humana, os “Replicantes” mais evoluídos decidem fazer uma rebelião, em uma colônia fora da Terra. O incidente leva os humanos a proibirem a entrada desses robôs no nosso planeta, sob a pena de “execução”. Dessa forma, é criado um esquadrão de elite, formado por policiais, conhecidos como Blade Runner.
Passam-se alguns anos, e, chegamos a 2019, onde os humanos são surpreendidos com a vinda de cinco Replicantes a Terra. Para caçá-los, o ex-Blade Runner Rick Deckard, interpretado pelo ator Harrison Ford, é convocado. É nesse contexto que uma batalha catastrófica e exagerada entre homens e robôs começa. A construção cenográfica e no design desse filme é marcada pela fragmentação, pela descontinuidade, pelo pluriculturalismo e pelo caos, todos, elementos típicos da pós-modernidade.
O filme de Scott traz uma Los Angeles, parecida, a princípio, com um asilo de loucos, mostrando um futuro que virá como um pesadelo, que deixará de existir ao acordarmos. Mas, Blade Runner provou que os mitos deixaram de ser um mero um sonho coletivo, para se tornar no pior pesadelo para a humanidade, de ser substituída por máquinas, criadas por ela mesma. Essa questão tornou-se muito mais evidente, em 1989, quando o japonês Masamune Shirow, criou Ghost in the Shell - o Fantasma do Futuro, animado em 1995, sob a direção de Mamoru Oshii.
Nesse novo mundo, surgiram hackers de cérebros. O mais conhecido deles é chamado de Manipulador de Marionetes. Quando ele começa a se envolver na política e na misteriosa seção nove, uma Força Especial da Polícia é chamada para impedi-lo. Isso traz várias dúvidas em relação ao que é utilizado para definir o que seja um ser humano e um robô? Por que o Manipulador de Marionetes atrapalha tanto num mundo onde homens e máquinas estão cada vez mais parecidos?
São essas questões fundamentadas nessa obra do mangaka Masamune Shirow, que fizeram de Ghost in the Shell, um dos maiores clássicos pós-modernos já exibidos por aqui. Esse filme, veiculado no Brasil pela Locomotion, serviria, anos mais tarde, de inspiração para a criação da trilogia Matrix, dos irmãos Wachowski. A partir dessa obra, o conceito da existência de robôs “humanos” ganhou uma nova abordagem, aperfeiçoada, em 1995, quando a Bandai Visual decidiu animar a obra de Akahori Satoru e Negishi Hiroshi, Saber Marionette, publicada pela revista Dragon Magazine.
Produzida inicialmente para vídeo, com três episódios, Saber Marionette “R” narra à história de um mundo habitado somente por homens, onde houve a necessidade de criar mulheres marionetes para suprir essa falta do lado oposto. Em pleno Japão feudal, o jovem Otaru desperta três marionetes guerreiras especiais - Cherry, Bloodberry e Lime – por terem “corações” e “alma humana”.
Junto com elas, Otaru deve impedir as ambições de Fausto de dominar todo o Japão. Devido ao sucesso, esse anime ganhou duas novas versões: Saber Marionette J, de 1996, com 25 episódios, e, Saber Marionette J to X, de 1998, com 26 episódios. Esse seriado ousou ao abandonar a ambientação futurística eternizada pelas antecessoras do gênero. Satoru e Hiroshi buscaram fazer uma espécie de chanchada do Japão Feudal, misturando arquiteturas clássicas orientais com o caos do uso da tecnologia robótica.
A relação entre homem e mulher-robô ganhou ares “perversos” e “satânicos” no anime Dragon Ball, criado por Akira Toriyama e animado pela Toei Animation. Nessa série é possível ver uma máquina, a Andróide Nº. 18, se casando e tendo uma filha com o personagem humano, Kuririn. Em 1999, o conceito de robô “humano” foi elevado a uma categoria surrealista e caótica com a produção da Columbia Pictures de o Homem Bicentenário. Dirigido por Chris Collumbus, o filme começando narrando à aquisição do robô NDR-114 pelo líder da família Martin, Richard Martin.
A máquina, interpretada pelo ator Robin Williams, recebe o nome de Andrew. Em pouco tempo, a família Martin percebe que Andrew não é um robô qualquer, por seu interesse em ler livros sob os mais diversos assuntos para ampliar os seus conhecimentos. Apesar da rejeição inicial, Andrew acaba sendo aceito como membro da família. Os anos vão se passando, e, Andrew descobre o quanto à existência humana é curta se comparada com a sua, que é eterna. Depois de perder tantas pessoas, Andrew parte numa longa jornada em busca de seu outro eu e do motivo de sua existência. Após tanta procura, ele finalmente encontra uma máquina do mesmo modelo que a sua.
No mesmo lugar, Andrew descobre que um cientista está fazendo experiências para a criação de órgãos humanos artificiais. Por ter economizado muito dinheiro, enquanto trabalhava para a família Martin, Andrew decide torna-se um humano, e, morrer como tal. Aos poucos, ele ganha uma pele, um coração, uma espinha dorsal, sentimentos, tato, olfato, e, se apaixona por uma mulher.
A humanidade reluta em conferir o título de humano a um robô. A linha do tempo avança, Andrew torna-se um “autêntico” integrante da sociedade, e, ganha o tão sonhado reconhecimento de sua humanidade pelos próprios humanos. Porém, essa vitória chega tarde demais. No momento em que a justiça era feita, a vida de Andrew se esgota e sua “alma” finalmente descansa ao lado de sua amada. O Homem Bicentenário vai fundo na concepção de dominação da tecnologia sobre a humanidade, mostrando o quanto as máquinas podem ser “cruéis” e “benéficas” para a sociedade.
Em 2001, o futuro caótico voltou a fazer parte das produções do gênero de robôs “humanos”, pelas mãos do diretor americano Steven Spielberg, através do filme “AI - Inteligência Artificial”. Estamos em 2141, onde grande parte da Terra foi inundada com o derretimento da maioria das calotas glaciais. Nessa época, um pai desesperado, pela morte do filho, resolve pedir a uma grande companhia de robótica, que construa um robô semelhante ao seu ente querido.
“AI” traz uma mistura dos conceitos de Tezuka, Lang e Scott. A atuação do ator Haley Joel Osment, o mesmo de o Sexto Sentido, no papel do robô David, ajudou Spielberg a juntar fantasia e ficção numa mesma produção. Originalmente, “AI” foi concebido por Stanley Kubrick, o mesmo de “2001: uma Odisséia no Espaço”, que faleceu antes de ver seu sonho realizado. Para elaborar o roteiro, Kubrick se baseou na obra de Brian Aldiss, “Superbrinquedos duram o verão todo”.
No decorrer do filme, David acaba sendo abandonado por sua “família”, e, decide partir em busca da Fada Azul para se tornar um humano. Seu objetivo com isso é ganhar o amor de sua “mãe”. Depois de percorrer longos caminhos, David chega ao local destinado, e, se decepciona ao verificar que seu desejo era impossível. Ao tentar o suicídio, David tenta se igualar ao homem, mas, sua tentativa fracassa. Perdido no fundo do oceano, David encontra a Fada Azul num parque de diversões inundado.
Na seqüência, ele pede para deixar de ser um robô. Sem obter resposta, David fica, por toda a eternidade, observando a Fada Azul. A Terra entra na Era Glacial novamente, e, David é congelado. Extra-Terrestres encontram-no e o trazem para a uma espaçonave. Interessados em saber sobre a existência humana, eles realizam o desejo de David de ver sua mãe por mais uma vez. A felicidade deles dura pouco, um dia, assim, como a vida humana. Quando o tempo de sua mãe se encerra, David finalmente descansa em paz para sempre.
Em 2002, o relacionamento entre homens e máquinas consolida-se de vez com o anime Chobits, baseado no mangá do Clamp, com roteiro de Nanase Ohkawa e arte de Apapa Mokona, Mick Nekoi e Satsuki Igarashi, publicado na Revista Young Magazine da editora Kodansha. Sob direção de Morio Asaka e animação da japonesa Madhouse, Chobits narra um mundo, onde humanos convivem com robôs iguais a mulheres reais, chamados de Persocons. Certo dia, ao voltar do trabalho, o jovem Hideki Motosuwa encontra no lixo uma persocon bonita, graciosa e de cabelos longos.
Ele passa a chamá-la de “Chi”. Com a ajuda do seu amigo, Hiromu Shinbo, da dona da pousada Chitose Hibiya, do fanático por persocons, Minoru Kokubunji, e de sua amiga Yumi Omura, Hideki começa a ensinar muitas coisas para “Chi”. No decorrer da série de 26 episódios, o protagonista vai percebendo o quanto gosta de sua persocon, dando início a uma bonita relação de amor entre humanos e robôs. Toda essa extensa abordagem, desse conceito pós-moderno, pela mídia, mostra que o maior problema da humanidade é criar algo que seja igual a sua imagem e semelhança. Porém, isso se torna, de certo modo, perigoso para o próprio criador, pois a criatura tende a imitá-lo em todos os seus aspectos existenciais, inclusive o seu lado “perverso” e “agressivo” em relação a tudo que está ao seu redor. Ao criar a tecnologia, o homem pensou em dominar a natureza, mas é o oposto que acontece. Basta vir um Tsunami da vida, para a humanidade verificar o quanto ela é fraca e indefesa perante as criações de Deus, o tempo e a imensidão infinita do universo.
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