segunda-feira, 2 de julho de 2007

A Arte Macabra e Futurista de Fritz Lang

Texto por Tiago Bacelar (autor deste blog)
Já estamos quase no final da década de 20, na Alemanha, onde tanto o cinema mudo quanto o Expressionismo Alemão estão no seu age depois de obras como o Gabinete do Doutor Caligari e Nosferatu. É nesse contexto que surge o diretor austríaco Fritz Lang, que ganhou fama entre os alemães por “O Testamento do Doutor Mabuse” e os “Nibelungos” com a sua primeira parte: Siegfried. A revolução do Expressionismo Alemão influenciou também as artes e a literatura, onde floresce em Frankfurt, na revista “Illustriertes Blatt”, o romance “Metropolis”, de Thea Von Harbou, esposa de Fritz Lang. Foi desta união que surgiu, em 1927, o maior clássico e última produção do Expressionismo Alemão, Metropolis.
Primeiramente é importante ressaltar que devido a Segunda Guerra Mundial, mais de um quatro do filme produzido por Lang na época foi perdido. Dessa forma, a obra teve que ser remontada a partir dos negativos de originais incompletos e cópias mais curtas e re-editadas das cópias lançadas. A versão vista combina todos os elementos que restaram na tentativa de recriar o filme como foi exibido em sua estréia. Para suprir tal ausência, foram adicionados pontos de passagem com fundo preto e textos explicativos às partes que faltavam no intuito de manter a essência de Fritz Lang na obra. Esse ponto foi fortalecido também com a adição de uma trilha sonora composta por Gottfried Huppertz, visto que logo no início do filme, há a presença de uma música de tensão que acompanham os movimentos sem parar das engrenagens das máquinas e do ponteiro do relógio de Metropolis. Essa seqüência dá como primeira impressão ao espectador, que naquela cidade existem muitos trabalhadores, forçados a produzir num processo repetitivo e claramente explorativo.
A seqüência, onde Fritz Lang nos leva ao mundo abaixo de Metropolis, é caracterizada por empregados vestidos com a mesma roupa em tons tristes e melancólicos, carregados de muita maquiagem, sendo levados por um longo corredor a uma espécie de elevador, através de planos frontais, típicos dos irmãos Lumière, e poucos laterais, para, enfim, chegarem à cidade dos trabalhadores. Durante o filme, fica evidente uma característica típica dos quadrinhos japoneses, que é uma preocupação em destacar nos enquadramentos as ações, emoções a flor da pele e interpretações dos personagens da obra, deixando o cenário em segundo plano. Por trás das tiranias do perverso imperador de Metropolis, Joh Frederer, encenado por Alfred Abel Freder, está o seu filho, Freder Frederer, um assíduo freqüentador dos Jardins Eternos, local aonde a elite dominante é exibida de forma glamourosa e sofisticada, usando-se de roupas brancas como status de poder e arrogância.
O encontro entre a operária Maria, interpretada por Brigitte Helm, e Freder, encenado por Gustav Fröhlich, nos Jardins Eternos pode ser enquadrado como num dos clichês mais usados pela Escola Clássica Americana, nos primeiros encontros amorosos, onde há mudanças de planos cada vez mais fechados, ressaltando nos enquadramentos a aproximação e a troca de olhares entre Maria e Freder. Esse ponto serve também como ponto de revolução no pensamento do personagem que passa se questionar se o tratamento dado pelo pai aos operários é o mais correto. Com essa mudança no protagonista e a revelação de que o mesmo seria o mediador, que guiaria a mente, as emoções e o trabalho do povo de Metropolis, remete-me a concluir que Fritz Lang estava prevendo ali a chegada de Hitler ao poder.
Com a visão de Freder da máquina Moloch, onde os operários são jogados ao fogo para abastecer o funcionamento pleno de Metropolis, Fritz Lang vai mais além chegando a prever as ideologias arianas do Nazismo, a perseguição aos judeus e os Campos de Concentração da Alemanha. O próprio cenário de Metropolis do ano de 2026 seria uma alusão ao futuro das grandes Metrópoles, onde a população seria subjugada por um único líder. Dividido em Prelúdio, Intermezzo, Furioso e Conclusão, o filme de Fritz Lang é caracterizado em todas essas partes é caracterizado por closes carregados de interpretações para lá de exageradas do atores, beirando ao cômico e o ridículo, em seqüências de emoções a flor da pele, recheadas de mudanças de planos abertos para fechados, através de posicionamentos de câmeras frontais, laterais, diagonais e até mesmo aéreas. Durante o filme, surge o ponto mais polêmico e fantástico da obra de Lang, um robô igual a um humano, com alma humana, sujeita a “morte” e a ser induzido a cometer algum dos sete pecados capitais. Era uma previsão de um futuro onde a relação entre humanos e máquinas estariam cada vez mais próximas. Entretanto, o que Lang não poderia saber é que o seu Metropolis e o Expressionismo Alemão tinham deixado uma marca que persiste até hoje nos mangás (quadrinhos japoneses), graças a Osamu Tezuka, que ao criar o mangá moderno, resolveu incorporar nele uma linguagem, um roteiro e uma narrativa cinematográfica, onde as imagens valeriam mais que as palavras, presentes nos quadros, além dos próprios exageros nas expressões dos personagens, reforçadas pelo tamanho dos olhos e cabelos. Aproveitando-se da prerrogativa de Lang, Tezuka fez sua própria versão de Metropolis, onde o poderoso industrial Duke Reid planeja construir Tima, uma robô com aparência e alma humana. No decorrer da história, o filho do Mestre de Metropolis, Rock, tenta destruí-la, iniciando, assim, um perigoso jogo entre humanos e robôs, pondo em risco todo o Universo. A temática repetiu-se em Astro Boy, onde na história de Tezuka, existe um robô chamado Astro, com aparência, que vai à escola e tem amigos humanos. Ele sonha em trazer a paz para humanos e robôs. Dessa forma, pode-se concluir que Metropolis é um clássico, pois continua inspirando novas pessoas a reinterpretarem seus conceitos para criarem novas obras tão boas quanto a original.

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