Por Tiago Bacelar
No início dos anos 60, a televisão brasileira dava ainda os seus primeiros passos. Dentre algumas novelas, telejornais e programas de auditório, os quais eram os favoritos do público, começaram a surgir vários seriados vindo do oriente. Os telespectadores ficaram espantados com esses desenhos animados, que não se assemelhavam em nada com os tradicionais clássicos dos estúdios Walt Disney e Hanna Barbera. Os pontos mais chamativos foram os olhos grandes. Eles mostravam tantas emoções quanto os atuais dramalhões mexicanos. Tudo isso era novidade para os brasileiros, os quais passaram a desejar ver mais e mais essas produções japonesas.
Quem não se lembra de animes como o Oitavo Homem, o Homem de Aço e Taro Kid? Ou das aventuras de Fantomas e Super Dínamo? Muitas cenas ficaram guardadas em algum lugar da memória, permeadas por bordões do tipo “O que está acontecendo?”, de o Gênio Maluco, ou pelos clássicos de abertura, como “Os guardiões do universo vão defender o mal”. Irei mostrar como foi toda essa trajetória e quais foram às séries que passaram em cada década, deixando sua marca na história da televisão brasileira.
Tudo começou em dezoito de setembro de 1950, quando o jornalista paraibano Francisco de Assis Chateaubriand, inaugurou a tevê Tupi de São Paulo, a qual foi a primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina. Para que isso se tornasse possível era necessário uma quantidade razoável de profissionais para dar continuidade a esse projeto inovador no Brasil. Chatô fez a seleção de alguns grandes nomes do rádio, principalmente da sua cadeia do Diário Associados. Feito isso, esses radialistas passaram por um período de treinamento para se adaptarem a esse novo veículo de comunicação.
Era o início da aventura de se fazer televisão no Brasil. Essa primeira etapa foi marcada por estúdios pequenos e equipamentos precários, mas, curiosamente, o nascimento da Tupi acabou sendo marcado por uma grande solenidade, organizada pelo próprio Chateubriand. Essa cerimônia de inauguração contou a presença do cantor mexicano, Frei José Mojica, o qual cantou “A Canção da TV”, música composta especialmente para a ocasião. Houve também uma a apresentação de balé, feita por Lia Marques, e, uma declamação feita pela poetisa Rosalina Coelho Lisboa, nomeada madrinha da inauguração. Assim que os festejos foram encerrados, Chateubriand solicitou o início da programação da Tupi.
Os convidados tiveram a oportunidade de acompanhar esse acontecimento, através dos cinco aparelhos instalados no saguão principal do prédio dos Diários Associados. Existem muitos fatos curiosos que aconteceram nesse dia, como a falha de uma das duas câmeras RCA, fazendo com que a tevê no Brasil entrasse em cena com apenas 50% de sua capacidade. Houve também problemas quanto ao preenchimento de toda a programação. Devido a isso, algumas atrações de outros países tiveram que ser importadas para resolver a situação crítica. Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena.
A Tupi dos primeiros anos era uma verdadeira escola. Aos poucos, os programas ganharam forma: o primeiro telejornal, a primeira novela e a primeira série japonesa. Em 1962, surge na Tupi à primeira produção vinda do oriente, o seriado Nacional Kid. O herói, vindo da galáxia de Andrômeda, tinha como missão defender o mundo dos incas venusianos. No total, Nacional Kid protagonizou 39 episódios, divididos em quatro fases. A primeira mostrava os Incas invadindo a Terra.
A segunda narrou a saga dos Seres Abissais, as quais eram terríveis criaturas que provocavam maremotos nas grandes cidades com os torpedos dos seus submarinos. A terceira apresentou seres perversos que habitavam o mundo inferior. A última abordava a história de uma criança vinda de outro planeta. Na Terra, ela acaba se perdendo. Mas, graças a Nacional Kid, o garoto consegue voltar a sua terra natal. Dentre os personagens encontramos o professor Rayusaku Hata, alterego de Nacional Kid, seus cinco alunos (Goro, Yukio, Kura, Mari e Tomokiro), sua assistente Hisako, o doutor Mizuno e o delegado de polícia Takakura. O seriado começa com a invasão de Objetos Voadores Não-Identificados, Óvnis. Espantado com a chegada dos Incas, o governo japonês decide convocar o famoso cientista Mizuno para tentar resolver o problema.
Ao chegar lá, o Doutor se recusa a trabalhar, pois acredita, que o seu colega de trabalho, o professor Hata, seja o mais indicado para combater os aliens. Dessa forma, Hata é convocado, e aceita essa árdua missão. Paralelamente a isso, os Incas conseguem enviar uma mensagem para os japoneses, ressaltando a preocupação com as pesquisas nucleares desenvolvidas por aquele país, pois as radiações poderiam poluir o espaço e ameaçar a integridade do planeta deles. Cansados de protestar, os Incas decidem raptar o Doutor Yamada, em virtude do mesmo estar ajudando a criar uma poderosa arma capaz de aniquilá-los. Ao passar por um equipamento avançado dos invasores, Yamada torna-se um Inca, e, volta a Terra. Sua primeira ação é capturar Mizuno e seu assistente.
Isso acontece, quando os mesmos, estavam ocupados, tentando resolver um problema sério de contaminação em vários alimentos. Os Incas querem a ajuda de Mizuno. Mesmo sob coerção, o cientista não aceita cooperar com eles. Nesse exato momento, Nacional Kid invade a nave e leva seus amigos de volta para casa. Passam-se alguns dias, e, os Incas acabam descobrindo um líquido chamado Raio X. Essa substância é capaz de anular os poderes de Nacional Kid. Dessa forma, os aliens decidem sumir com o trem-bala que transportava vários cientistas, os quais estavam indo para um congresso em Kyoto. Ao mesmo tempo, raptam todos os alunos do professor Hata. O intuito desse plano é atrair Nacional Kid para testar a nova fórmula. Desesperado, o herói parte para ajudar suas crianças, mas acaba sendo atingido pelo Raio X. Aparentemente a substância não o afeta, mas durante a perseguição, um relâmpago o atinge, enfraquecendo-o.
Apesar de ser socorrido, ele não consegue recuperar seus poderes. Aproveitando-se da incapacidade provisória de Nacional Kid, os Incas provocam catástrofes em todo o mundo. Apesar de debilitado, o herói percebe que somente uma energia superior àquela que o derrubou poderá devolver-lhe os poderes. Dessa forma, ele se submete a uma forte radiação e expulsa os Incas. Entretanto, os aliens já tinham contaminado toda a água do Japão. Mizuno e Hata descobrem que vão precisar de uma grande quantidade de Petalúnia para criar o antídoto.
Depois de muitas pesquisas, Nacional Kid vai até as pedras de Água Conga, no interior da África, e, salva a Terra mais uma vez. Revoltados com mais uma derrota, os Incas decidem usar a Máquina Mortífera Alfa para destruir o Japão de uma vez por todas. Nacional Kid acaba sendo preso em uma cilada, e, o ataque começa. Ao mesmo tempo, os Incas convocam uma reunião extraordinária com os representantes de outros planetas do universo. Seu objetivo é criar uma aliança indestrutível para a aniquilação completa dos seres humanos. Porém, as forças do planeta Kasei libertam Nacional Kid, que destrói todas as naves dos Incas, e, a paz volta a Terra.
Em 1964, a Tupi exibiu um especial de duas horas e 40 minutos de duração, produzido pela Toei Company. Ele foi dirigido por Nagayoshi Akasaka. O ator Ichiro Kojima fez Nacional Kid e Taichi Kiwako, o inimigo do protagonista. Essa produção só fez aumentar a popularidade do herói, vindo da Galáxia de Andrômeda, aqui no Brasil. No mesmo ano, a TV Record começou a sua exibição, que durou até 1967. A Rede Globo veiculou Nacional Kid de 1968 a 1969.
Esses episódios, que marcaram toda uma geração, foram perdidos, em sua maioria, num incêndio ocorrido na TV Globo de São Paulo, em 1969. Depois desse acidente, passaram-se muitas e muitas décadas, e, chegamos ao ano de 1993. Nesse período, a série Nacional Kid foi adquirida junto aos japoneses para o mercado de vídeo pela Sato Company, com uma nova dublagem feita na Emérson Camargo, em São Paulo. Três anos depois, Nacional Kid começou a ser exibido pela TV Manchete, aqui no Brasil. Essa foi à primeira série de ficção científica criada direta e exclusivamente para televisão no Japão. Com sua máscara, capacete, uniforme colante e capa, Nacional Kid foi um grande sucesso na época entre as crianças. Os pais tiveram que se acostumar em escutar seus filhos cantando em japonês a música de abertura da série.
Marcou toda uma geração de brasileiros com suas histórias repletas de situações mirabolantes e foi responsável pela vinda de vários animes nesse período. Ela foi fundamental para chamar a atenção do público brasileiro para essas séries, desconhecidas até então. A dublagem original foi dirigida por Amaury Costa. O elenco era formado por Emérson Camargo (Masao Hata – Nacional Kid), Cristina Camargo (Tiako), Maria Inês (Goro), Magaly Sanches (Kurazo), Rafael Marques (Tomohiro), Sônia Regina (Yukio) e Osmano Cardoso (Doutor Mizuno).
Conta-se a lenda que em 1997, foi encontrado, em um sótão, na cidade de Porto Alegre, todos os episódios de Nacional Kid com a dublagem original, feita na Aic, em São Paulo. Até hoje, essa história não foi confirmada.
Nome no Brasil: Nacional Kid – Nome Original.: Nationaro Kido - Estréia no Japão: 1960 - Período de exibição no Brasil: 1962-1964, 64-67, 68-69 e 1996-1997. - Local: Tupi, Record, Rede Globo e Manchete. - Distribuição: Amaury Costa, Emérson Camargo e Sato Company.
Com o sucesso da Tupi, Chateaubriand começa a investir em novos programas como foi o caso da TV de Vanguarda, que revelou, durante a sua exibição, a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças famosas como Hamlet e Romeo e Julieta, de William Shakespeare. Em 1951, a Tupi mostrou o primeiro beijo das telenovelas. Essa cena marcante ocorreu em Tua Vida Me Pertence, quando a atriz Vida Alves deixou-se beijar pelo ator e também galã Walter Forster.
Outros também se tornaram campeões de audiência e de permanência no ar como Alô Doçura, Sítio do Pica-pau Amarelo, O Céu é o Limite, Clube dos Artistas, exibido entre 1952 e 1980, e o famoso telejornal O Repórter Esso, o qual ficou no ar por cerca de 20 anos. Os apresentadores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entraram no ar com as últimas noticias nacionais e internacionais, e, se tornaram num marco da história do jornalismo no Brasil. Nessa primeira década, a Tupi reinou absoluta na audiência.
Em abril de 1965, a TV Globo é inaugurada por Roberto Marinho, no Rio de Janeiro. Nesse período, já existiam 600 mil aparelhos de televisão no Brasil e a família Marinho já se destacava pela credibilidade do jornal O Globo. Em seus seis primeiros meses de vida, a TV Globo não se diferenciou em nada dos demais canais e ficava em último lugar no ranking das emissoras cariocas. Em 1966, Roberto Marinho faz várias mudanças tentando crescer em audiência. Dessa forma, a Globo passa a ser comandada pelo marqueteiro Walter Clark, que começa a criar programas de tevê, que dessem interesse para a inserção de propagandas nos comerciais dos mesmos. Dessa forma, uma empresa só poderia anunciar seu produto no horário nobre se comprasse um pacote que incluía outros horários. Sem pressa, a Globo passou a penetrar nos horários até então desprezados pelos outros canais. No início foram sendo conquistados anunciantes para os horários noturno, vespertino e, mais na frente, os da manhã.
Em 1967, com a TV Globo ainda iniciando, a Tupi começa a investir nos animes. O primeiro deles estreou no começo daquele ano. Foi nada menos que um clássico de Osamu Tezuka, Visitantes do Espaço: O Trio Maravilha. Essa foi à primeira série do estúdio de Tezuka, a Mushi Produções. Toda a equipe de animação participou do desenvolvimento dos personagens e da história.
Embora, mais tarde, Tezuka tenha produzido uma versão mangá, sua intenção original era criar uma série voltada para o público de televisão. Na trama, três astronautas da Terra, Bokko, Bukko e Nokko, são transformados, respectivamente, por alienígenas, em um coelho, um cavalo e um pato. Após esse incidente, eles ficam encarregados de vigiar as atividades de um garoto chamado Hoshi Shinichi e seu irmão mais velho, Hoshi Koichi. Esse último faz parte de um grupo de agentes secretos, onde a ave lendária da Fênix está envolvida na proteção do planeta. Ao descobrir esse fato, o trio volta imediatamente a Terra para decidir se ela é uma ameaça ou não para o universo, podendo assim, se for o caso, destruí-la completamente. Esse foi o primeiro anime produzido onde era designado um técnico para animar as cenas de cada personagem. A série teve 52 episódios.
Nome no Brasil: Visitantes do Espaço: O Trio Maravilha - Nome Original: W3 – Wonder 3. - Exibição no Japão: 30/01/1965 a 07/02/1966 - Período de exibição no Brasil: 02/1967 a 05/1968 - Local: Tupi - Distribuição: Transglobal. - Versão brasileira: Cinecastro.
No mesmo ano, a Tupi exibe o longa-metragem Shintaka Rajima, baseado no mangá de mesmo nome (Veja Capítulo I). Esse clássico de Tezuka, que foi um dos primeiros animes produzidos no Japão, passou despercebido por aqui. A emissora de Chatô exibiu apenas uma vez como tapa-buraco. A produção foi feita pela Mushi.
Nome no Brasil: A Nova Ilha do Tesouro - Nome Original: Shintaka Rajima - Estréia no Japão: 03/01/1965 - Período de exibição no Brasil: 1967 - Local: Tupi - Distribuição: Transglobal (Brasil).
No final de 1967, a Tupi começa a exibir Samurai Kid, produzido pela Toei Animation. Baseada no mangá de Sanpei Shirato, de 1960, Kaze no Fujimaru[1], a série narra as aventuras do jovem Ninja Fujimaru em busca de sua mãe desaparecida. Entretanto, sua história começa quando o mesmo foi raptado por uma Águia, enquanto era apenas um pequeno e indefeso bebê. Sua vida muda radicalmente, depois que o ninja Sasuke o liberta do seu cativeiro de longiquos anos. Disposto a tornar Fujimaru num grande gênio das habilidades milenares do Ninjutsu[2], Sasuke passar a impor a ele um rigoroso treinamento para o domínio completo da espada, da multiplicação, do vento, do raciocínio em situações de extremo perigo e da velocidade.
Terminado o seu treinamento, Fujimaru vai ao Japão do Shogun Tokugawa Ieyasu, e, acaba se encontrando com o renomado cientista Kenshin, a menina Menika e o esquilo Ponkichi, que se tornam, durante a série, em seus melhores amigos. Dessa forma, o herói parte com eles em busca de sua mãe. O mestre ninja do fogo, Konposai, está atrás do manuscrito do Livro de Ryuen, que está nas mãos de Fujimaru. Ieyasu fica sabendo disso e manda seus agentes para roubar esse objeto precioso do protagonista.
Fujimaru passa a enfrentar tanto os ninjas de Konposai quanto os servos de Ieyasu, numa luta que iria definir os rumos do Ninjutsu no Japão. Durante essas batalhas árduas, Fujimaru começa a desenvolver sua confiança, coragem, raciocínio e crescimento interior como um grande ninja tanto pelas técnicas quanto pela sabedoria. A capacidade de Fujimaru dominar o vento era a sua grande técnica secreta. Com a direção de Hayao Miyasaki, Samurai Kid foi uma produção com ótimo roteiro, linguagem cinematográfica, cenas das lutas muito bem filmadas e técnicas de animação simples e eficientes. Essa série conquistou muitos fãs no tempo em que passou na TV Tupi, e abriu caminho para que outras emissoras também investissem nessa área. Em 1974, a série voltou a ser exibida, desta vez pela TV Globo. Teve 65 episódios produzidos.
Nome no Brasil: Samurai Kid. – No Original: Shounen Ninja Kaze no Fujimaru. - Estréia no Japão: 1964. - Período de exibição no Brasil: 1967-68 e 1974-76. - Local: Tupi e Globo. - Distribuição: Transglobal e United Artists (Estados Unidos).
Juntamente com Samurai Kid, a Tupi exibiu um anime, que passou despercebido por aqui, a Tropa Galáctica, feito e produzido pela Mushi. Ele acabou sendo abafado, em virtude de ter sido exibido como um tapa buraco. Esse tipo de atitude era normal nessa época, pois as emissoras ainda não possuíam verba suficiente para preencher toda a cadeia de programação. Foram produzidos 92 episódios, dos quais apenas 17 episódios foram mostrados. Esse anime foi um dos primeiros trabalhos onde não foi empregado o uso de bonecos para representar os personagens criados por Tezuka.
A razão disso era o fato de ser impossível de mostrar algumas cenas com bonecos, como espaçonaves e carros esportivos em alta velocidade. A trama conta o momento em que o Sol perde força, causando, assim, um grande impacto no ecossistema terrestre. A Terra forma a Tropa Galáctica. Sua missão era encontrar no universo uma substância capaz de restaurar o Sol. Cumprida a missão, a Tropa parte para enfrentar alienígenas, que ameaçam destruir a Via Láctea com as suas naves espaciais.
Nome no Brasil: Tropa Galáctica - Nome Original: Galaxy Boy Troop - Estréia no Japão: 07/04/1963 - Período de exibição no Brasil: 1967 - Local: Tupi - Distribuição: Transglobal.
Depois de investir em propagandas, a Globo acabou conseguindo ter finalmente uma boa programação. Foi o início do chamado “Padrão Globo de Qualidade”, e, como resultado disso, a audiência cresceu. Em 1967, a Globo torna-se uma rival a altura da Tupi com a sua primeira telenovela, Eu Compro Esta Mulher, da escritora Glória Magadan.
No ano seguinte, a emissora dos Marinho conseguiu tirar da Tupi o Programa Sílvio Santos, o qual era uma das atrações mais prestigiadas pelo telespectador. Vale-se ressaltar que durante muito tempo, o apresentador Sílvio Santos alugou o horário do seu programa com a TV Globo, ou seja, ele podia fazer o que quiser sem ter a necessidade de apresentar um projeto para a direção da emissora. No mesmo ano, a Tupi contra-ataca, e, lança a novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. Com ela, revoluciona a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. O sucesso dessas novelas levou a Globo e a Tupi para uma verdadeira guerra pela audiência.
No meio disso tudo, estava a TV Record, que tinha sido inaugurada em 27 de setembro de 1953. O primeiro programa exibido foi o musical apresentado por Sandra Amaral e Hélio Ansaldo. Nos primeiros anos, a emissora seguiu essa linha musical com Grandes Espetáculos União, comandado por Blota Jr. e Sandra Amaral. Em 1954, a Record investiu em telejornais e na programação esportiva, como foi o caso da Mesa Redonda, chefiada por Geraldo José de Almeida e Raul Tabajara. Dois anos depois, ela foi a primeira a transmitir, ao vivo, o Grande Prêmio de Turfe do Brasil, direto do Jóquei Clube do Rio de Janeiro. Na década de 60, a Record se destacou por programas de teatro e humor como: Circo do Arrelia, com o palhaço Arrelia, Praça da Alegria, de Manoel da Nóbrega[3] e a novela Éramos Seis. Essa última foi readaptada nos anos 90 pelo SBT. Nesse mesmo período estreou o primeiro programa de calouros da tevê brasileira, A Hora do Chacrinha, apresentado por Abelardo Barbosa, conhecido como o Velho Guerreiro.
Em 1965, entrava na programação, O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. Esse programa trouxe para o cenário musical, talentos como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Depois na mesma linha veio Bossaudade, apresentado por Elizete Cardoso e Ciro Monteiro. Roberto Carlos já estava nas paradas e foi convidado para apresentar o programa Jovem Guarda. Em 1967, estréia A Família Trapo, escrita por Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares. Ele foi o humorístico de maior sucesso da televisão. No elenco, Renata Fronzi, Otelo Zeloni, Cidinha Campos, Ricardo Corte Real, Sônia Ribeiro, Jô Soares e Ronald Golias.
A Família Trapo liderou a audiência no horário durante três anos. Em 1968, a Record começa a investir em programas infantis. Com a estréia de Pullman Júnior, comandado por Cidinha Campos e Durval de Souza, os animes começam a chegar à emissora. Esse programa ficou no ar durante 16 anos. No começo do mesmo ano, entra na programação do Pullman Júnior, O Homem de Aço. Ele foi o primeiro anime exibido pela Record. A trama conta à história de um gigantesco robô, construído pelo cientista Frank para defender o Japão de possíveis inimigos. Ele foi escondido por alguns anos até que seu filho, Luiz Centelha, tivesse idade suficiente para utilizá-lo. Luiz comanda o Homem de Aço através de um controle remoto. Depois de ligado, o robô parte para derrotar os inimigos. A série foi produzida pelo estúdio japonês TCJ Eiken e teve 96 episódios. Esse anime conquistou o seu espaço. Em 1974, um incêndio na Record destruiu várias cópias dos episódios de Homem de Aço.
Nome no Brasil: Homem de Aço - Nome Original: Tetsujin ni-ju-hachi-go - Estréia no Japão: 1963 - Período de exibição no Brasil: 1968-69 - Local: Record
Distribuição: United Artists (Estados Unidos).
No segundo semestre de 1968, estréia Taro Kid, da TCJ Dentsu, na Record. Como em toda história de espionagem, Taro Kid lembrava os filmes de James Bond, de Ian Fleming. Ao todo eram quatro agentes secretos, que representavam os quatro naipes do baralho, sendo liderados por um cientista. Os integrantes do esquadrão eram: Taro Kid, o Ás de Espadas, Sayuri, o Ás de Copas, Sansão, o Ás de Ouros, e Poka, o Ás de Paus. Além da base secreta, ele tinha um veículo que lembrava muito uma nave espacial. Taro Kid não usava somente armas convencionais para cumprir suas missões como possuía um baralho cujas cartas eram arremessadas para combater espiões e agentes secretos inimigos. A série foi criada em 1967 e contava com 12 episódios. Em 1973, a Record exibiu os 39 episódios da segunda temporada, onde Taro Kid estava mais forte do que antes.
Nome no Brasil (Primeira Fase): Taro Kid - Nome Original: Skyers 5 / Estréia no Japão: 1967 - Período de exibição no Brasil: 1968 / Local: Record - Distribuição: United Artists (Estados Unidos).
Nome no Brasil (Segunda Fase): Taro Kid - Nome Original: Shin Skyers - Estréia no Japão: 1969 - Período de exibição no Brasil: 1973-75 - Local: Record - Distribuição: United Artists (Estados Unidos).
Em 1968, com a morte de Assis Chateaubriand, a Tupi dá início a uma longa crise sem solução. Abalada por problemas financeiros, mal administrados, sem investimentos, a Tupi perde qualidade e audiência. As emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira. Ano após ano, a crise se aprofunda. Mesmo assim, ela continuou a exibir vários animes e esses amenizaram um pouco essas questões. No mesmo ano, a TV Globo se aproveita e lança o Oitavo Homem, uma série muito parecida como a trilogia de filmes norte-americanos Robocop. A forma como o policial Hachiro Azuma ganha um corpo cibernético para se transformar no Oitavo Homem, depois de se ferir mortalmente, ocorre da mesma forma que levou o policial Murphy a assumir a identidade de Robocop. Durante a série, Azuma deve derrotar o perverso doutor e cientista Demon Spectra, membro da terrível e poderosa organização Intercrime.
O objetivo da Intercrime é o mesmo de todos os vilões, que é o de dominar o mundo inteiro. Obviamente, a razão da existência de Spectra é arrumar um modo de derrotar aquele que incomoda os seus planos, o Oitavo Homem. Buscando reaver o velho confronto entre robôs e máquinas, presentes nas histórias de Osamu Tezuka, o Oitavo Homem mostra as dúvidas de Azuma em abandonar ou não sua relação amorosa com a jovem Sachiko. Depois de ter sua identidade revelada no mangá, Azuma decide entrar numa jornada rumo às sombras, deixando sua amada a salvo de seus inimigos. É dessa forma melancólica que terminou as aventuras do Oitavo Homem nos quadrinhos de Kazumasa Hirai e Jiro Kuwata.
No anime, a pedido dos fãs da série, esse fato foi alterado. Azuma consegue fazer com que o renomado cientista Tani construa uma máquina capaz de apagar essa descoberta das memórias de Sachiko. Com isso, o Oitavo Homem pode finalmente continuar salvando sua amada dos pervessos vilões da Organização Intercrime. A série teve os seus 56 episódios, produzidos pela TBS, TCJ Animation Center e TCJ Eiken, e, dublados aqui no Brasil pela Cinecastro, no Rio de Janeiro. O Oitavo Homem fez um grande sucesso na Rede Globo, sendo responsável pela vinda de vários animes para o Brasil na década de 70. Na década de 60, os animes foram exibidos em preto e branco, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Apesar de serem mais longas que as atuais, essas séries eram marcadas por capítulos de curta duração.
Nome no Brasil: Oitavo Homem - Nome Original: Eito Man - Estréia no Japão: 1963 - Período de exibição no Brasil: 1968-71 - Local: Globo - Distribuição: Streamline Pictures (Estados Unidos).
Em 1969, a TV Record exibiu As Grandes Aventuras de Hórus, o Príncipe do Sol, produzido pela Toei Animation. Dirigido por Isao Takahata e tendo a participação de Hayao Miyasaki, o longa-metragem conta a história de Hórus, um garoto que mora com seu pai em um vilarejo cercado de gelo. Ele acaba descobrindo que precisa ir ao local onde deverá ser forjada a espada do Sol, única capaz de derrotar o grande demônio. Essa entidade do mal planeja destruir todos que lhe cercam, tendando atrair seu irmão e seu pai para as trevas. A vitória do demônio parecia certa, pois as pessoas estavam com medo de perderem suas vidas. Hórus reverte à situação, encoroja a população local, forja a espada e derrota o demônio. Antes de vir para a telinha, o filme chegou a ser exibido num Festival de Filmes, realizado em São Paulo, nessa época.
Nome no Brasil: Hórus, o Príncipe do Sol. – Nome Original: Taiyou no Ouji: Horusu no Daibouken. - Estréia no Japão: 1968 - Período de exibição no Brasil: 1969. - Local: TV Record. - Distribuição: Toei Vídeo (Japão).
[1] Fujimaru do vento.
[2] Arte marcial dos ninjas.
[3] Pai já falecido de Carlos Alberto de Nóbrega, o qual faria anos mais tarde a Praça é Nossa, no SBT, uma versão moderna da Praça da Alegria.
Quem não se lembra de animes como o Oitavo Homem, o Homem de Aço e Taro Kid? Ou das aventuras de Fantomas e Super Dínamo? Muitas cenas ficaram guardadas em algum lugar da memória, permeadas por bordões do tipo “O que está acontecendo?”, de o Gênio Maluco, ou pelos clássicos de abertura, como “Os guardiões do universo vão defender o mal”. Irei mostrar como foi toda essa trajetória e quais foram às séries que passaram em cada década, deixando sua marca na história da televisão brasileira.
Tudo começou em dezoito de setembro de 1950, quando o jornalista paraibano Francisco de Assis Chateaubriand, inaugurou a tevê Tupi de São Paulo, a qual foi a primeira emissora de televisão do Brasil e da América Latina. Para que isso se tornasse possível era necessário uma quantidade razoável de profissionais para dar continuidade a esse projeto inovador no Brasil. Chatô fez a seleção de alguns grandes nomes do rádio, principalmente da sua cadeia do Diário Associados. Feito isso, esses radialistas passaram por um período de treinamento para se adaptarem a esse novo veículo de comunicação.
Era o início da aventura de se fazer televisão no Brasil. Essa primeira etapa foi marcada por estúdios pequenos e equipamentos precários, mas, curiosamente, o nascimento da Tupi acabou sendo marcado por uma grande solenidade, organizada pelo próprio Chateubriand. Essa cerimônia de inauguração contou a presença do cantor mexicano, Frei José Mojica, o qual cantou “A Canção da TV”, música composta especialmente para a ocasião. Houve também uma a apresentação de balé, feita por Lia Marques, e, uma declamação feita pela poetisa Rosalina Coelho Lisboa, nomeada madrinha da inauguração. Assim que os festejos foram encerrados, Chateubriand solicitou o início da programação da Tupi.
Os convidados tiveram a oportunidade de acompanhar esse acontecimento, através dos cinco aparelhos instalados no saguão principal do prédio dos Diários Associados. Existem muitos fatos curiosos que aconteceram nesse dia, como a falha de uma das duas câmeras RCA, fazendo com que a tevê no Brasil entrasse em cena com apenas 50% de sua capacidade. Houve também problemas quanto ao preenchimento de toda a programação. Devido a isso, algumas atrações de outros países tiveram que ser importadas para resolver a situação crítica. Acostumados à improvisação e rapidez do rádio, os pioneiros não tiveram problemas em se adaptar ao moderno veículo e aprenderam muito: ator virava sonoplasta, autor dirigia, diretor entrava em cena.
A Tupi dos primeiros anos era uma verdadeira escola. Aos poucos, os programas ganharam forma: o primeiro telejornal, a primeira novela e a primeira série japonesa. Em 1962, surge na Tupi à primeira produção vinda do oriente, o seriado Nacional Kid. O herói, vindo da galáxia de Andrômeda, tinha como missão defender o mundo dos incas venusianos. No total, Nacional Kid protagonizou 39 episódios, divididos em quatro fases. A primeira mostrava os Incas invadindo a Terra.
A segunda narrou a saga dos Seres Abissais, as quais eram terríveis criaturas que provocavam maremotos nas grandes cidades com os torpedos dos seus submarinos. A terceira apresentou seres perversos que habitavam o mundo inferior. A última abordava a história de uma criança vinda de outro planeta. Na Terra, ela acaba se perdendo. Mas, graças a Nacional Kid, o garoto consegue voltar a sua terra natal. Dentre os personagens encontramos o professor Rayusaku Hata, alterego de Nacional Kid, seus cinco alunos (Goro, Yukio, Kura, Mari e Tomokiro), sua assistente Hisako, o doutor Mizuno e o delegado de polícia Takakura. O seriado começa com a invasão de Objetos Voadores Não-Identificados, Óvnis. Espantado com a chegada dos Incas, o governo japonês decide convocar o famoso cientista Mizuno para tentar resolver o problema.
Ao chegar lá, o Doutor se recusa a trabalhar, pois acredita, que o seu colega de trabalho, o professor Hata, seja o mais indicado para combater os aliens. Dessa forma, Hata é convocado, e aceita essa árdua missão. Paralelamente a isso, os Incas conseguem enviar uma mensagem para os japoneses, ressaltando a preocupação com as pesquisas nucleares desenvolvidas por aquele país, pois as radiações poderiam poluir o espaço e ameaçar a integridade do planeta deles. Cansados de protestar, os Incas decidem raptar o Doutor Yamada, em virtude do mesmo estar ajudando a criar uma poderosa arma capaz de aniquilá-los. Ao passar por um equipamento avançado dos invasores, Yamada torna-se um Inca, e, volta a Terra. Sua primeira ação é capturar Mizuno e seu assistente.
Isso acontece, quando os mesmos, estavam ocupados, tentando resolver um problema sério de contaminação em vários alimentos. Os Incas querem a ajuda de Mizuno. Mesmo sob coerção, o cientista não aceita cooperar com eles. Nesse exato momento, Nacional Kid invade a nave e leva seus amigos de volta para casa. Passam-se alguns dias, e, os Incas acabam descobrindo um líquido chamado Raio X. Essa substância é capaz de anular os poderes de Nacional Kid. Dessa forma, os aliens decidem sumir com o trem-bala que transportava vários cientistas, os quais estavam indo para um congresso em Kyoto. Ao mesmo tempo, raptam todos os alunos do professor Hata. O intuito desse plano é atrair Nacional Kid para testar a nova fórmula. Desesperado, o herói parte para ajudar suas crianças, mas acaba sendo atingido pelo Raio X. Aparentemente a substância não o afeta, mas durante a perseguição, um relâmpago o atinge, enfraquecendo-o.
Apesar de ser socorrido, ele não consegue recuperar seus poderes. Aproveitando-se da incapacidade provisória de Nacional Kid, os Incas provocam catástrofes em todo o mundo. Apesar de debilitado, o herói percebe que somente uma energia superior àquela que o derrubou poderá devolver-lhe os poderes. Dessa forma, ele se submete a uma forte radiação e expulsa os Incas. Entretanto, os aliens já tinham contaminado toda a água do Japão. Mizuno e Hata descobrem que vão precisar de uma grande quantidade de Petalúnia para criar o antídoto.
Depois de muitas pesquisas, Nacional Kid vai até as pedras de Água Conga, no interior da África, e, salva a Terra mais uma vez. Revoltados com mais uma derrota, os Incas decidem usar a Máquina Mortífera Alfa para destruir o Japão de uma vez por todas. Nacional Kid acaba sendo preso em uma cilada, e, o ataque começa. Ao mesmo tempo, os Incas convocam uma reunião extraordinária com os representantes de outros planetas do universo. Seu objetivo é criar uma aliança indestrutível para a aniquilação completa dos seres humanos. Porém, as forças do planeta Kasei libertam Nacional Kid, que destrói todas as naves dos Incas, e, a paz volta a Terra.
Em 1964, a Tupi exibiu um especial de duas horas e 40 minutos de duração, produzido pela Toei Company. Ele foi dirigido por Nagayoshi Akasaka. O ator Ichiro Kojima fez Nacional Kid e Taichi Kiwako, o inimigo do protagonista. Essa produção só fez aumentar a popularidade do herói, vindo da Galáxia de Andrômeda, aqui no Brasil. No mesmo ano, a TV Record começou a sua exibição, que durou até 1967. A Rede Globo veiculou Nacional Kid de 1968 a 1969.
Esses episódios, que marcaram toda uma geração, foram perdidos, em sua maioria, num incêndio ocorrido na TV Globo de São Paulo, em 1969. Depois desse acidente, passaram-se muitas e muitas décadas, e, chegamos ao ano de 1993. Nesse período, a série Nacional Kid foi adquirida junto aos japoneses para o mercado de vídeo pela Sato Company, com uma nova dublagem feita na Emérson Camargo, em São Paulo. Três anos depois, Nacional Kid começou a ser exibido pela TV Manchete, aqui no Brasil. Essa foi à primeira série de ficção científica criada direta e exclusivamente para televisão no Japão. Com sua máscara, capacete, uniforme colante e capa, Nacional Kid foi um grande sucesso na época entre as crianças. Os pais tiveram que se acostumar em escutar seus filhos cantando em japonês a música de abertura da série.
Marcou toda uma geração de brasileiros com suas histórias repletas de situações mirabolantes e foi responsável pela vinda de vários animes nesse período. Ela foi fundamental para chamar a atenção do público brasileiro para essas séries, desconhecidas até então. A dublagem original foi dirigida por Amaury Costa. O elenco era formado por Emérson Camargo (Masao Hata – Nacional Kid), Cristina Camargo (Tiako), Maria Inês (Goro), Magaly Sanches (Kurazo), Rafael Marques (Tomohiro), Sônia Regina (Yukio) e Osmano Cardoso (Doutor Mizuno).
Conta-se a lenda que em 1997, foi encontrado, em um sótão, na cidade de Porto Alegre, todos os episódios de Nacional Kid com a dublagem original, feita na Aic, em São Paulo. Até hoje, essa história não foi confirmada.
Nome no Brasil: Nacional Kid – Nome Original.: Nationaro Kido - Estréia no Japão: 1960 - Período de exibição no Brasil: 1962-1964, 64-67, 68-69 e 1996-1997. - Local: Tupi, Record, Rede Globo e Manchete. - Distribuição: Amaury Costa, Emérson Camargo e Sato Company.
Com o sucesso da Tupi, Chateaubriand começa a investir em novos programas como foi o caso da TV de Vanguarda, que revelou, durante a sua exibição, a primeira geração de atores, atrizes e diretores. Foram apresentadas peças famosas como Hamlet e Romeo e Julieta, de William Shakespeare. Em 1951, a Tupi mostrou o primeiro beijo das telenovelas. Essa cena marcante ocorreu em Tua Vida Me Pertence, quando a atriz Vida Alves deixou-se beijar pelo ator e também galã Walter Forster.
Outros também se tornaram campeões de audiência e de permanência no ar como Alô Doçura, Sítio do Pica-pau Amarelo, O Céu é o Limite, Clube dos Artistas, exibido entre 1952 e 1980, e o famoso telejornal O Repórter Esso, o qual ficou no ar por cerca de 20 anos. Os apresentadores Heron Domingues e Gontijo Teodoro entraram no ar com as últimas noticias nacionais e internacionais, e, se tornaram num marco da história do jornalismo no Brasil. Nessa primeira década, a Tupi reinou absoluta na audiência.
Em abril de 1965, a TV Globo é inaugurada por Roberto Marinho, no Rio de Janeiro. Nesse período, já existiam 600 mil aparelhos de televisão no Brasil e a família Marinho já se destacava pela credibilidade do jornal O Globo. Em seus seis primeiros meses de vida, a TV Globo não se diferenciou em nada dos demais canais e ficava em último lugar no ranking das emissoras cariocas. Em 1966, Roberto Marinho faz várias mudanças tentando crescer em audiência. Dessa forma, a Globo passa a ser comandada pelo marqueteiro Walter Clark, que começa a criar programas de tevê, que dessem interesse para a inserção de propagandas nos comerciais dos mesmos. Dessa forma, uma empresa só poderia anunciar seu produto no horário nobre se comprasse um pacote que incluía outros horários. Sem pressa, a Globo passou a penetrar nos horários até então desprezados pelos outros canais. No início foram sendo conquistados anunciantes para os horários noturno, vespertino e, mais na frente, os da manhã.
Em 1967, com a TV Globo ainda iniciando, a Tupi começa a investir nos animes. O primeiro deles estreou no começo daquele ano. Foi nada menos que um clássico de Osamu Tezuka, Visitantes do Espaço: O Trio Maravilha. Essa foi à primeira série do estúdio de Tezuka, a Mushi Produções. Toda a equipe de animação participou do desenvolvimento dos personagens e da história.
Embora, mais tarde, Tezuka tenha produzido uma versão mangá, sua intenção original era criar uma série voltada para o público de televisão. Na trama, três astronautas da Terra, Bokko, Bukko e Nokko, são transformados, respectivamente, por alienígenas, em um coelho, um cavalo e um pato. Após esse incidente, eles ficam encarregados de vigiar as atividades de um garoto chamado Hoshi Shinichi e seu irmão mais velho, Hoshi Koichi. Esse último faz parte de um grupo de agentes secretos, onde a ave lendária da Fênix está envolvida na proteção do planeta. Ao descobrir esse fato, o trio volta imediatamente a Terra para decidir se ela é uma ameaça ou não para o universo, podendo assim, se for o caso, destruí-la completamente. Esse foi o primeiro anime produzido onde era designado um técnico para animar as cenas de cada personagem. A série teve 52 episódios.
Nome no Brasil: Visitantes do Espaço: O Trio Maravilha - Nome Original: W3 – Wonder 3. - Exibição no Japão: 30/01/1965 a 07/02/1966 - Período de exibição no Brasil: 02/1967 a 05/1968 - Local: Tupi - Distribuição: Transglobal. - Versão brasileira: Cinecastro.
No mesmo ano, a Tupi exibe o longa-metragem Shintaka Rajima, baseado no mangá de mesmo nome (Veja Capítulo I). Esse clássico de Tezuka, que foi um dos primeiros animes produzidos no Japão, passou despercebido por aqui. A emissora de Chatô exibiu apenas uma vez como tapa-buraco. A produção foi feita pela Mushi.
Nome no Brasil: A Nova Ilha do Tesouro - Nome Original: Shintaka Rajima - Estréia no Japão: 03/01/1965 - Período de exibição no Brasil: 1967 - Local: Tupi - Distribuição: Transglobal (Brasil).
No final de 1967, a Tupi começa a exibir Samurai Kid, produzido pela Toei Animation. Baseada no mangá de Sanpei Shirato, de 1960, Kaze no Fujimaru[1], a série narra as aventuras do jovem Ninja Fujimaru em busca de sua mãe desaparecida. Entretanto, sua história começa quando o mesmo foi raptado por uma Águia, enquanto era apenas um pequeno e indefeso bebê. Sua vida muda radicalmente, depois que o ninja Sasuke o liberta do seu cativeiro de longiquos anos. Disposto a tornar Fujimaru num grande gênio das habilidades milenares do Ninjutsu[2], Sasuke passar a impor a ele um rigoroso treinamento para o domínio completo da espada, da multiplicação, do vento, do raciocínio em situações de extremo perigo e da velocidade.
Terminado o seu treinamento, Fujimaru vai ao Japão do Shogun Tokugawa Ieyasu, e, acaba se encontrando com o renomado cientista Kenshin, a menina Menika e o esquilo Ponkichi, que se tornam, durante a série, em seus melhores amigos. Dessa forma, o herói parte com eles em busca de sua mãe. O mestre ninja do fogo, Konposai, está atrás do manuscrito do Livro de Ryuen, que está nas mãos de Fujimaru. Ieyasu fica sabendo disso e manda seus agentes para roubar esse objeto precioso do protagonista.
Fujimaru passa a enfrentar tanto os ninjas de Konposai quanto os servos de Ieyasu, numa luta que iria definir os rumos do Ninjutsu no Japão. Durante essas batalhas árduas, Fujimaru começa a desenvolver sua confiança, coragem, raciocínio e crescimento interior como um grande ninja tanto pelas técnicas quanto pela sabedoria. A capacidade de Fujimaru dominar o vento era a sua grande técnica secreta. Com a direção de Hayao Miyasaki, Samurai Kid foi uma produção com ótimo roteiro, linguagem cinematográfica, cenas das lutas muito bem filmadas e técnicas de animação simples e eficientes. Essa série conquistou muitos fãs no tempo em que passou na TV Tupi, e abriu caminho para que outras emissoras também investissem nessa área. Em 1974, a série voltou a ser exibida, desta vez pela TV Globo. Teve 65 episódios produzidos.
Nome no Brasil: Samurai Kid. – No Original: Shounen Ninja Kaze no Fujimaru. - Estréia no Japão: 1964. - Período de exibição no Brasil: 1967-68 e 1974-76. - Local: Tupi e Globo. - Distribuição: Transglobal e United Artists (Estados Unidos).
Juntamente com Samurai Kid, a Tupi exibiu um anime, que passou despercebido por aqui, a Tropa Galáctica, feito e produzido pela Mushi. Ele acabou sendo abafado, em virtude de ter sido exibido como um tapa buraco. Esse tipo de atitude era normal nessa época, pois as emissoras ainda não possuíam verba suficiente para preencher toda a cadeia de programação. Foram produzidos 92 episódios, dos quais apenas 17 episódios foram mostrados. Esse anime foi um dos primeiros trabalhos onde não foi empregado o uso de bonecos para representar os personagens criados por Tezuka.
A razão disso era o fato de ser impossível de mostrar algumas cenas com bonecos, como espaçonaves e carros esportivos em alta velocidade. A trama conta o momento em que o Sol perde força, causando, assim, um grande impacto no ecossistema terrestre. A Terra forma a Tropa Galáctica. Sua missão era encontrar no universo uma substância capaz de restaurar o Sol. Cumprida a missão, a Tropa parte para enfrentar alienígenas, que ameaçam destruir a Via Láctea com as suas naves espaciais.
Nome no Brasil: Tropa Galáctica - Nome Original: Galaxy Boy Troop - Estréia no Japão: 07/04/1963 - Período de exibição no Brasil: 1967 - Local: Tupi - Distribuição: Transglobal.
Depois de investir em propagandas, a Globo acabou conseguindo ter finalmente uma boa programação. Foi o início do chamado “Padrão Globo de Qualidade”, e, como resultado disso, a audiência cresceu. Em 1967, a Globo torna-se uma rival a altura da Tupi com a sua primeira telenovela, Eu Compro Esta Mulher, da escritora Glória Magadan.
No ano seguinte, a emissora dos Marinho conseguiu tirar da Tupi o Programa Sílvio Santos, o qual era uma das atrações mais prestigiadas pelo telespectador. Vale-se ressaltar que durante muito tempo, o apresentador Sílvio Santos alugou o horário do seu programa com a TV Globo, ou seja, ele podia fazer o que quiser sem ter a necessidade de apresentar um projeto para a direção da emissora. No mesmo ano, a Tupi contra-ataca, e, lança a novela Beto Rockfeller, de Bráulio Pedroso. Com ela, revoluciona a linguagem da televisão. A partir da figura de um anti-herói, surge um novo estilo de interpretação, mais natural. O sucesso dessas novelas levou a Globo e a Tupi para uma verdadeira guerra pela audiência.
No meio disso tudo, estava a TV Record, que tinha sido inaugurada em 27 de setembro de 1953. O primeiro programa exibido foi o musical apresentado por Sandra Amaral e Hélio Ansaldo. Nos primeiros anos, a emissora seguiu essa linha musical com Grandes Espetáculos União, comandado por Blota Jr. e Sandra Amaral. Em 1954, a Record investiu em telejornais e na programação esportiva, como foi o caso da Mesa Redonda, chefiada por Geraldo José de Almeida e Raul Tabajara. Dois anos depois, ela foi a primeira a transmitir, ao vivo, o Grande Prêmio de Turfe do Brasil, direto do Jóquei Clube do Rio de Janeiro. Na década de 60, a Record se destacou por programas de teatro e humor como: Circo do Arrelia, com o palhaço Arrelia, Praça da Alegria, de Manoel da Nóbrega[3] e a novela Éramos Seis. Essa última foi readaptada nos anos 90 pelo SBT. Nesse mesmo período estreou o primeiro programa de calouros da tevê brasileira, A Hora do Chacrinha, apresentado por Abelardo Barbosa, conhecido como o Velho Guerreiro.
Em 1965, entrava na programação, O Fino da Bossa, apresentado por Elis Regina e Jair Rodrigues. Esse programa trouxe para o cenário musical, talentos como Chico Buarque de Holanda, Gilberto Gil, Caetano Veloso e Maria Bethânia. Depois na mesma linha veio Bossaudade, apresentado por Elizete Cardoso e Ciro Monteiro. Roberto Carlos já estava nas paradas e foi convidado para apresentar o programa Jovem Guarda. Em 1967, estréia A Família Trapo, escrita por Carlos Alberto de Nóbrega e Jô Soares. Ele foi o humorístico de maior sucesso da televisão. No elenco, Renata Fronzi, Otelo Zeloni, Cidinha Campos, Ricardo Corte Real, Sônia Ribeiro, Jô Soares e Ronald Golias.
A Família Trapo liderou a audiência no horário durante três anos. Em 1968, a Record começa a investir em programas infantis. Com a estréia de Pullman Júnior, comandado por Cidinha Campos e Durval de Souza, os animes começam a chegar à emissora. Esse programa ficou no ar durante 16 anos. No começo do mesmo ano, entra na programação do Pullman Júnior, O Homem de Aço. Ele foi o primeiro anime exibido pela Record. A trama conta à história de um gigantesco robô, construído pelo cientista Frank para defender o Japão de possíveis inimigos. Ele foi escondido por alguns anos até que seu filho, Luiz Centelha, tivesse idade suficiente para utilizá-lo. Luiz comanda o Homem de Aço através de um controle remoto. Depois de ligado, o robô parte para derrotar os inimigos. A série foi produzida pelo estúdio japonês TCJ Eiken e teve 96 episódios. Esse anime conquistou o seu espaço. Em 1974, um incêndio na Record destruiu várias cópias dos episódios de Homem de Aço.
Nome no Brasil: Homem de Aço - Nome Original: Tetsujin ni-ju-hachi-go - Estréia no Japão: 1963 - Período de exibição no Brasil: 1968-69 - Local: Record
Distribuição: United Artists (Estados Unidos).
No segundo semestre de 1968, estréia Taro Kid, da TCJ Dentsu, na Record. Como em toda história de espionagem, Taro Kid lembrava os filmes de James Bond, de Ian Fleming. Ao todo eram quatro agentes secretos, que representavam os quatro naipes do baralho, sendo liderados por um cientista. Os integrantes do esquadrão eram: Taro Kid, o Ás de Espadas, Sayuri, o Ás de Copas, Sansão, o Ás de Ouros, e Poka, o Ás de Paus. Além da base secreta, ele tinha um veículo que lembrava muito uma nave espacial. Taro Kid não usava somente armas convencionais para cumprir suas missões como possuía um baralho cujas cartas eram arremessadas para combater espiões e agentes secretos inimigos. A série foi criada em 1967 e contava com 12 episódios. Em 1973, a Record exibiu os 39 episódios da segunda temporada, onde Taro Kid estava mais forte do que antes.
Nome no Brasil (Primeira Fase): Taro Kid - Nome Original: Skyers 5 / Estréia no Japão: 1967 - Período de exibição no Brasil: 1968 / Local: Record - Distribuição: United Artists (Estados Unidos).
Nome no Brasil (Segunda Fase): Taro Kid - Nome Original: Shin Skyers - Estréia no Japão: 1969 - Período de exibição no Brasil: 1973-75 - Local: Record - Distribuição: United Artists (Estados Unidos).
Em 1968, com a morte de Assis Chateaubriand, a Tupi dá início a uma longa crise sem solução. Abalada por problemas financeiros, mal administrados, sem investimentos, a Tupi perde qualidade e audiência. As emissoras concorrentes vão ocupando os espaços vazios deixados pela pioneira. Ano após ano, a crise se aprofunda. Mesmo assim, ela continuou a exibir vários animes e esses amenizaram um pouco essas questões. No mesmo ano, a TV Globo se aproveita e lança o Oitavo Homem, uma série muito parecida como a trilogia de filmes norte-americanos Robocop. A forma como o policial Hachiro Azuma ganha um corpo cibernético para se transformar no Oitavo Homem, depois de se ferir mortalmente, ocorre da mesma forma que levou o policial Murphy a assumir a identidade de Robocop. Durante a série, Azuma deve derrotar o perverso doutor e cientista Demon Spectra, membro da terrível e poderosa organização Intercrime.
O objetivo da Intercrime é o mesmo de todos os vilões, que é o de dominar o mundo inteiro. Obviamente, a razão da existência de Spectra é arrumar um modo de derrotar aquele que incomoda os seus planos, o Oitavo Homem. Buscando reaver o velho confronto entre robôs e máquinas, presentes nas histórias de Osamu Tezuka, o Oitavo Homem mostra as dúvidas de Azuma em abandonar ou não sua relação amorosa com a jovem Sachiko. Depois de ter sua identidade revelada no mangá, Azuma decide entrar numa jornada rumo às sombras, deixando sua amada a salvo de seus inimigos. É dessa forma melancólica que terminou as aventuras do Oitavo Homem nos quadrinhos de Kazumasa Hirai e Jiro Kuwata.
No anime, a pedido dos fãs da série, esse fato foi alterado. Azuma consegue fazer com que o renomado cientista Tani construa uma máquina capaz de apagar essa descoberta das memórias de Sachiko. Com isso, o Oitavo Homem pode finalmente continuar salvando sua amada dos pervessos vilões da Organização Intercrime. A série teve os seus 56 episódios, produzidos pela TBS, TCJ Animation Center e TCJ Eiken, e, dublados aqui no Brasil pela Cinecastro, no Rio de Janeiro. O Oitavo Homem fez um grande sucesso na Rede Globo, sendo responsável pela vinda de vários animes para o Brasil na década de 70. Na década de 60, os animes foram exibidos em preto e branco, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro. Apesar de serem mais longas que as atuais, essas séries eram marcadas por capítulos de curta duração.
Nome no Brasil: Oitavo Homem - Nome Original: Eito Man - Estréia no Japão: 1963 - Período de exibição no Brasil: 1968-71 - Local: Globo - Distribuição: Streamline Pictures (Estados Unidos).
Em 1969, a TV Record exibiu As Grandes Aventuras de Hórus, o Príncipe do Sol, produzido pela Toei Animation. Dirigido por Isao Takahata e tendo a participação de Hayao Miyasaki, o longa-metragem conta a história de Hórus, um garoto que mora com seu pai em um vilarejo cercado de gelo. Ele acaba descobrindo que precisa ir ao local onde deverá ser forjada a espada do Sol, única capaz de derrotar o grande demônio. Essa entidade do mal planeja destruir todos que lhe cercam, tendando atrair seu irmão e seu pai para as trevas. A vitória do demônio parecia certa, pois as pessoas estavam com medo de perderem suas vidas. Hórus reverte à situação, encoroja a população local, forja a espada e derrota o demônio. Antes de vir para a telinha, o filme chegou a ser exibido num Festival de Filmes, realizado em São Paulo, nessa época.
Nome no Brasil: Hórus, o Príncipe do Sol. – Nome Original: Taiyou no Ouji: Horusu no Daibouken. - Estréia no Japão: 1968 - Período de exibição no Brasil: 1969. - Local: TV Record. - Distribuição: Toei Vídeo (Japão).
[1] Fujimaru do vento.
[2] Arte marcial dos ninjas.
[3] Pai já falecido de Carlos Alberto de Nóbrega, o qual faria anos mais tarde a Praça é Nossa, no SBT, uma versão moderna da Praça da Alegria.
Nenhum comentário:
Postar um comentário