Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u440036.shtml
No escuro, um forno-útero dá à luz uma gota de vidro meteórica. Ovos frigem em tripla exposição. A sombra, magnética, movimenta fiapos de ferro numa superfície quase lunar, e uma cabeça é preparada para a trepanação -abertura do crânio para expurgar demônios.
Autodidatas, os artistas portugueses João Maria Gusmão e Pedro Paiva dizem fazer "filosofia selvagem" na primeira individual que montam no Brasil, em cartaz no galpão da galeria Fortes Vilaça, na Barra Funda.
Depois de passar pela última Bienal de São Paulo, em 2006, além da última edição da Bienal do Mercosul, eles mostram seis novos filmes em 16 mm, projetados num cubo negro.
São reflexões visuais sobre o espocar da existência, algo de origem desconhecida que se dá como fenômeno físico em escala imensurável -é tortuoso mesmo o raciocínio. "Tem a ver com o estudo científico dos meteoros", diz Gusmão. "Eles vão do infinito vazio ao cheio."
Como um meteoro surge na atmosfera, a gota de vidro fundido surge, num dos filmes, do fogaréu indistinto do forno. A cirurgia de abertura no crânio, típico em povos primitivos da Antigüidade, recorta uma saída física para um mal só metafísico.
Da mesma forma, três ovos diferentes parecem fritar juntos num filme cujas três seqüências foram gravadas no mesmo negativo, em tentativa de ilustrar o princípio esotérico de colocar no mesmo tempo e espaço eventos não-correlatos.
Embora feitos agora, os filmes em 16 mm carregam o peso de uma estética datada, como se encontrados numa escavação arqueológica audiovisual. "Não é que temos uma relação ruim com a tecnologia", explica Gusmão.
"Mas somos avessos à produção de cultura contemporânea, nada no nosso cinema pode ser consumido."
No que chamam de anacronismo cintilante, Gusmão e Paiva fingem voltar no tempo para resgatar valores perdidos.
João Maria Gusmão e Pedro Paiva
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 27/9
Onde: Fortes Vilaça (r. James Holland, 71, São Paulo; tel. 0/xx/11/3392-3942; livre)
Quanto: grátis
No escuro, um forno-útero dá à luz uma gota de vidro meteórica. Ovos frigem em tripla exposição. A sombra, magnética, movimenta fiapos de ferro numa superfície quase lunar, e uma cabeça é preparada para a trepanação -abertura do crânio para expurgar demônios.
Autodidatas, os artistas portugueses João Maria Gusmão e Pedro Paiva dizem fazer "filosofia selvagem" na primeira individual que montam no Brasil, em cartaz no galpão da galeria Fortes Vilaça, na Barra Funda.
Depois de passar pela última Bienal de São Paulo, em 2006, além da última edição da Bienal do Mercosul, eles mostram seis novos filmes em 16 mm, projetados num cubo negro.
São reflexões visuais sobre o espocar da existência, algo de origem desconhecida que se dá como fenômeno físico em escala imensurável -é tortuoso mesmo o raciocínio. "Tem a ver com o estudo científico dos meteoros", diz Gusmão. "Eles vão do infinito vazio ao cheio."
Como um meteoro surge na atmosfera, a gota de vidro fundido surge, num dos filmes, do fogaréu indistinto do forno. A cirurgia de abertura no crânio, típico em povos primitivos da Antigüidade, recorta uma saída física para um mal só metafísico.
Da mesma forma, três ovos diferentes parecem fritar juntos num filme cujas três seqüências foram gravadas no mesmo negativo, em tentativa de ilustrar o princípio esotérico de colocar no mesmo tempo e espaço eventos não-correlatos.
Embora feitos agora, os filmes em 16 mm carregam o peso de uma estética datada, como se encontrados numa escavação arqueológica audiovisual. "Não é que temos uma relação ruim com a tecnologia", explica Gusmão.
"Mas somos avessos à produção de cultura contemporânea, nada no nosso cinema pode ser consumido."
No que chamam de anacronismo cintilante, Gusmão e Paiva fingem voltar no tempo para resgatar valores perdidos.
João Maria Gusmão e Pedro Paiva
Quando: de ter. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 10h às 17h; até 27/9
Onde: Fortes Vilaça (r. James Holland, 71, São Paulo; tel. 0/xx/11/3392-3942; livre)
Quanto: grátis
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