terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Arnaldo Antunes lança em março um CD solo e um disco infantil


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u494242.shtml

Imóvel, com os olhos arregalados, Arnaldo Antunes está pendurado na parede, acima de uma poltrona Charles Eames, na sala de sua casa, no bairro paulistano do Alto de Pinheiros.
Sim, é ele, mas sob a forma de um boneco, como o que apareceu na capa do CD "Paradeiro", o quarto de sua carreira solo, lançado em 2001 ano em que foi pai, também pela quarta vez. 
Naquela época, Arnaldo morava na mesma região da cidade, mas não na mesma casa. Estava casado com Zaba Moreau, com quem viveu por 15 anos e teve os filhos Rosa, em 1988, Celeste, em 91, Brás, em 97, e o caçula Tomé. 
"Tenho prazer em conviver com crianças. Para mim o bom pai é aquele que tem gosto de ser pai", diz ele, que há cinco anos vive com a artista plástica Márcia Xavier em regime de casamento com endereços separados. "Tem dias que eu durmo na casa dela, tem dias que ela fica na minha casa. É bom assim." É o terceiro casamento. 
O primeiro nasceu no Rio, onde a família foi morar em 1979 --seu pai, engenheiro, físico e professor de matemática, aceitou um convite para trabalhar como consultor de uma empresa de engenharia. Arnaldo, que havia passado no vestibular de letras para a Universidade de São Paulo, tornou-se, durante um ano, estudante da PUC carioca. Foi no Rio que conheceu Regina de Barros Carvalho, a Go, que o acompanhou na volta a São Paulo. 
Com suas três mulheres, Arnaldo conciliou relações amorosas e trabalhos a quatro mãos. Com Go, fez caligrafias; com Zaba, shows e projetos gráficos. As duas fizeram parte da banda Garotas do Centro, que existiu no início da década de 80. Agora, Márcia Xavier é parceira em capas de disco e autora de um vídeo que serviu de cenário para o show do CD "Qualquer". Felipe
No mês de março, o autor de "Saiba", cuja melodia foi criada para ninar o filho Tomé, vai colocar no mundo dois novos rebentos. Um deles será um CD infantil, gravado com amigos do meio musical, que fizeram canções para seus respectivos filhos. 
O convite partiu de Taciana Barros, ex-Gang 90 e as Absurdetes, que participa do projeto com o guitarrista Edgar Scandurra, do Ira!, e o compositor Antonio Pinto, autor de trilhas para cinema --entre elas as de "Cidade de Deus" e "O Senhor das Armas", com Nicholas Cage. 
O disco vai se chamar "Pequeno Cidadão", título que pode sugerir uma intenção pedagógica, na realidade inexistente. "O disco não tem preocupação 'educativa', é tudo muito lúdico. Na verdade, a música-título [leia letra à pág. 36] é uma grande brincadeira", explica. 
O outro filhote também já tem nome: chama-se "Iê Iê Iê" e é o décimo CD solo que esse paulistano de 48 anos, voz grave e múltiplos talentos lança desde que decidiu deixar os Titãs, em 1992. Como o título indica, o novo disco será um passeio pelo estilo rock melódico que animava festinhas da juventude no início da década de 60. 
"É ainda cedo para falar, mas será mais dançante, com som de banda. O 'Qualquer' não tinha bateria e soava como um acústico. Eu queria realçar a clareza das canções. Agora, sem perder essa clareza, a bateria volta e o som é mais pesado e conciso. Será um disco de gênero, mas com uma visão contemporânea, sem saudosismo." 
"Iê Iê Iê" terá duas faixas compostas com os tribalistas Marisa Monte e Carlinhos Brown, trio que também nasceu em 2001, na gravação da parceria "Paradeiro". 
"Eu tinha convidado o Carlinhos e o Alê Siqueira para produzir o disco e chamei a Marisa para participar. Estávamos gravando no estúdio do Candeal, em Salvador. Ela foi pra lá e rolou uma coisa mágica. Começamos a compor loucamente e fizemos umas 20 músicas! Com isso, decidimos que tínhamos de gravar e surgiu a ideia dos Tribalistas. A gravação aconteceu um ano depois, quando as agendas permitiram que nos encontrássemos." 
Ainda hoje os três são abordados por fãs ansiosos em saber notícias sobre um possível novo CD dos Tribalistas, fenômeno que varreu o Brasil e escalou as paradas de sucesso de países como a Itália e a Espanha. 
Alguma chance de um novo disco? "Nós continuamos a compor. A Marisa, que teve a Helena há três meses, já está animada e me ligou recentemente para fazermos coisas. Podemos nos encontrar para cantar, como aconteceu no DVD do 'Qualquer', mas não existe o projeto de um novo CD dos Tribalistas", responde. 
"Pequeno Cidadão" e "Iê Iê Iê" não são os únicos projetos para este ano, são apenas os que estão mais perto do lançamento. Arnaldo quer fazer um disco com Edgar Scandurra, que já está a meio caminho andado. Não parece muito convencional: só terá voz, guitarra e... bumbo. Também pretende lançar um novo volume de artigos, intitulado "Outros 40", que dará sequência a "40 Escritos" (2000, editora Iluminuras), reunião de textos originalmente feitos para jornais, revistas e outras publicações. 
Se não bastasse, planeja um livro com imagens de placas de ruas, que há anos vem fotografando pelas cidades por onde passa. 
"Gostaria de usar esse material para criar um enredo, como se fosse uma HQ. É um projeto grande e mais demorado. Vou usar as imagens que tenho e produzir outras para poder amarrar a narrativa." 
Por fim, pretende lançar "Luz Escrita", com poemas visuais de sua autoria e de Walter Silveira, fotografados por Fernando Lazslo. "A vantagem desse é que já está pronto." 
O princípio no verbo 
Sempre classificado de artista "multimídia", Arnaldo tem mesmo facilidade para transitar por diversas áreas. 
Uma passada por sua trajetória revela atividades tão variadas quanto participar da Bienal de Havana, expor trabalhos na galeria Laura Marsiaj, no Rio, projetar poemas em ruas de São Paulo, editar livrinhos em cópias xerox, criar trilha para uma performance do artista plástico Tunga, produzir poemas em animação digital, escrever artigos para a imprensa, atuar no cinema, compor rock e cantar samba. 
De onde vem tanta diversidade? O princípio está no verbo: a palavra é o big-bang, a explosão que cria seu universo estético. "Tudo que eu faço acaba dialogando, mas a palavra é o centro gerador, é a partir dela que eu me aventuro por outras áreas", diz. 
Ligado em seu Macintosh, Arnaldo sempre se animou com novidades tecnológicas e com as possibilidades que elas oferecem para expandir o repertório da arte. 
Como artista da música pop, no entanto, vai experimentando o lado perverso da moeda: "A música popular vem sentindo de maneira avassaladora o efeito das novas linguagens e possibilidades digitais. As formas tradicionais de produção e circulação estão sendo muito impactadas pela internet e pelos novos formatos". 
O lado bom dessa novidade seria a maior facilidade de fazer coisas. "Isso é maravilhoso, houve uma democratização, hoje é muito mais fácil você produzir um disco ou um vídeo, editar e mostrar." 
O lado preocupante é a ameaça às regras que regem os direitos dos artistas. "Eu acho que o artista viver de seus direitos autorais pagos pelo mercado é uma grande conquista, que agora está em risco. A indústria fonográfica está buscando alternativas, mas caiu muito o que se ganhava antes". 
Para compensar o encolhimento dos recursos, muitas estrelas da música popular têm firmado contratos publicitários e parcerias com marcas famosas. Arnaldo acredita que essa é uma opção legítima. 
"Estamos numa sociedade capitalista e não tenho a ilusão de que se possa viver à margem desse mundo." Ele lembra que a relação de artistas com comerciais não é nova. "No Brasil, os próprios Mutantes, nos anos 60, fizeram música para a Shell e depois incluíram num disco deles". 
A conclusão é que cada artista "tem seus limites éticos e estéticos", que condicionam suas escolhas. 
"Eu fiz duas coisas na área de publicidade: uma locução para um comercial do Pão de Açúcar e uma participação numa publicidade do portal Terra, com o Nando Reis e o Rappin' Hood. Foram coisas pensadas, dentro dos meus limites." 
E o que esperar do futuro? "É difícil dizer. Estamos vivendo um momento de transição. Falta ainda uma equalização. O equilíbrio ainda está por ser encontrado."

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