quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Quadrinista recria São Paulo em versão futurística de game

Bairro da Liberdade, São Paulo, em imagem do jogo, baseado no "Grand Theft Auto"

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u493056.shtml

George W. Bush deixou a Casa Branca anteontem, mas o mundo ainda não se livrou dele. Pelo menos na realidade virtual, o ex-presidente foi clonado e agora patrulha as ruas de São Paulo, de uniforme cinza e em carros da Polícia Militar. Qualquer um, no entanto, pode sacar uma arma e derrubá-lo. Ou dar-lhe um croque na cabeça e roubar seu carro.
A história está no jogo para PC "Grand Theft Auto São Paulo 2013", feito pelo quadrinista e animador paulista Luís Schiavon. A obra é uma paródia futurística e pop baseada no Grand Theft Auto (GTA), cuja empresa oferece a plataforma do jogo original na internet para uma legião de fãs que criam personagens, mapas e carros. 
O GTA, criado há dez anos, com várias versões oficiais, conquistou a molecada com sua anarquia, mas ficou famoso pela violência desenfreada --o jogador atropela e mata para realizar suas missões. 
Schiavon, 38, ficou quatro anos customizando o jogo antes de exibi-lo numa exposição do Santander Cultural, em Porto Alegre, em 2008. Desde dezembro, está à venda na galeria Choque Cultural, por R$ 20. 
Ele fotografou prédios de São Paulo, mudou placas, usou grafites de artistas conhecidos, dublou personagens e criou empresas fictícias, como a loja de tintas "Cuvinil". Tem também o Moe's Bar, com Homer Simpson tomando cerveja. 
"Usei vários materiais de outros artistas muito bons e especialistas nisso, fiz um 'mash-up', um conceito importante na minha obra", afirma Schiavon, sobre a técnica muitas vezes polêmica de retrabalhar imagens, áudios e vídeos de terceiros para criar uma nova obra. 
Como exemplo, ele cita o robô Bender, do desenho "Futurama". Alguém criou e disponibilizou na internet o personagem para ser o jogador do GTA. Schiavon ficou dois anos para transformar Bender numa gangue de clones que circula pela cidade. Há também uma caricatura de Jô Soares e o grupo de encrenqueiros Bofe de Elite. 
"É arte, assim como as animações ou os quadrinhos. É um tipo novo de arte", diz Schiavon, quadrinista da extinta revista Animal e do site Tiras Tonto, onde publica a "Liga da Vesga", uma sátira aos super-heróis, com uma tartaruga cubana e uma heroína seminua. 
O autor afirma que procurou a produtora do GTA, a Rockstar Games, e mandou cópias do jogo. Em troca, recebeu apenas um "parece divertido". 
Paródia e crítica social 
A trama do jogo se passa em 2013, com a popularização da clonagem. São Paulo não é reconhecida logo de cara. Faltam clichês como museus ou a avenida Paulista --mas há um pedacinho do bairro da Liberdade. 
Os grafites e os carros da polícia, que trazem até o 190, dão o clima paulistano. As 30 novas missões criadas por Schiavon são um tanto esdrúxulas, assumindo o tom paródico do jogo. Jan Klebz, Netinhu e Mallandru são alguns personagens que passam desafios aos jogadores, como salvar a indústria das pegadinhas. 
"O jogo abrange desde puro entretenimento até crítica social", diz Schiavon, que deu classificação 18 anos ao game. 
Trabalhar com a plataforma aberta de jogos é mania de jogadores e também um estilo de arte chamado "game art". Em 2002, artistas fizeram grafites pacifistas nos muros do "Counter-Strike", outro jogo violento bastante famoso que, por sua vez, surgiu do trabalho de um fã em cima do game "Half-Life".

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