sábado, 20 de dezembro de 2008

"Casseta" tinha humor mais adolescente


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u481780.shtml

Se não faltasse mulher no curso de engenharia da UFRJ, não haveria "Casseta". 
Em 1978, como nos anos anteriores, garotas eram um artigo raro naqueles corredores do Fundão. E apenas uma entre as inflamadas publicações estudantis do lugar registrou a dimensão do problema. "O que querem os rapazes da engenharia?", estampou, em setembro, uma certa "Casseta Popular".
A campanha por mais mulheres na faculdade, movida pelos alunos Helio de La Peña, Marcelo Madureira e Beto Silva, foi infrutífera. Tampouco teve resultado a tentativa de lançar um candidato a papa --após a percepção de que a morte de papas tinha virado moda, com a adesão quase simultânea de Paulo 6º e João Paulo 1º. 
Aquelas idéias, no entanto, deram margem para a "Casseta Popular" superar os limites do campus e alcançar público na zona sul do Rio. Surgia ali o braço mais antigo e, digamos, menos sofisticado do Casseta & Planeta --a outra parte da história começaria seis anos depois, com a criação do "Planeta Diário" de Hubert e Reinaldo. 
Os melhores momentos desses primórdios da trupe foram organizados pelo jornalista Arthur Dapieve e estão reunidos, agora, na "Antologia Casseta Popular", que sai pela Desiderata, mesma editora que lançou "O Planeta Diário - O Melhor do Maior Jornal do Planeta". 
Popular e cult 
Embora fosse a origem do humor mais "babaca e adolescente" (segundo Helio de La Peña) da trupe, a "Casseta Popular" era mais cult que popular naqueles primeiros anos. 
Tiradas infames como "onde você comprou essa camisa tinha pra homem?", que ainda freqüentam o repertório do Casseta & Planeta, conquistaram de cara um público carente de um humor renovado naqueles anos de abertura política. 
"Até chegarmos às bancas, o que só ocorreu em 1986, éramos lidos por uma elite da zona sul. Depois, o público ampliou", diz Beto Silva. No meio tempo, Bussunda e Claudio Manoel já tinham sido agregados. 
"O Bussunda [1962-2006] era um pirralho que vivia no meio da galera. Era fisicamente uma figura, e uma figura muito espirituosa. Quando quisemos abordar uma temática mais ampla, chamamos ele e o Claudio, que também circulava por ali", diz La Peña. Bussunda virou imediatamente o corpinho preferido da "Casseta" --aparecia bancando a Luma de Oliveira, a Demi Moore, e em aulas de como manter a barriga. 
A temática mais ampla incluiu um aprofundamento na cobertura política. Dois momentos marcam essa fase da "Casseta", no auge da fama pré-Globo: as eleições municipais de 1988 e as federais de 1989. 
Em 1988, quando as eleições corriam mornas no Rio, a revista adotou o macaco Tião, do zoológico do Rio, e iniciou uma campanha incisiva que levaria o animal ao terceiro lugar naquele pleito, com 9,5% do total de votos para prefeito. 
No ano seguinte, os cassetas iriam à rua pesquisar, por exemplo, "quem é o candidato mais viado" (categoria vencida por Fernando Gabeira) e "de qual candidato você colaria numa prova" ("A carteira atrás do Brizola ficaria apinhada de gente", conclui a "Casseta"). 
Paródias de jornais como "O Globo" e a Folha faziam parte (veja ao lado uma paródia do Folhateen). "Zoações" mais, por assim dizer, pesadas ficaram de fora da antologia. La Peña especula: "Acho que o Dapieve deixou de fora em deferência ao órgão de vocês..."

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