Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u427248.shtml
"Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988) foi o primeiro grande sucesso comercial e de crítica do diretor espanhol Pedro Almodóvar. O mundo do cinema era então apresentado a um cineasta cujas marcas registradas eram a imaginação, a originalidade e as tintas barrocas, na trama, nas atuações, na direção de arte e até no mesmo figurino.
Aparentemente tão espontâneo, o diretor se revela bem mais reflexivo no recém-lançado "Conversas com Almodóvar", livro do francês Frédéric Strauss. Jornalista, crítico de cinema, ex-chefe de Redação da conceituada revista francesa "Cahiers du Cinéma", Strauss é dono de um feito: ter conseguido, ao longo de cerca de 15 anos, convencer Almodóvar a dar extensas entrevistas, algo a que é normalmente avesso.
Strauss, que dividiu seu livro por filmes e temas, disse que inicialmente não esperava do diretor uma reflexão mais profunda sobre o cinema ou sobre sua obra. "Então me surpreendeu ver o nível de reflexão que ele tem sobre seu próprio trabalho. Almodóvar realmente sabe o que quer fazer; seu trabalho é muito pensado, refletido. O que não o impede de ser muito espontâneo. Seus filmes não são intelectuais ou cerebrais, mas vivos e generosos, há um equilíbrio nele entre a inteligência e o instintivo, o espírito e o corpo", diz Strauss.
O livro de Strauss pode ser encarado como uma espécie de biografia de Almodóvar contada por meio de seu cinema. O jornalista diz que é possível encontrar, ao longo da carreira de Almodóvar, toda sua trajetória.
"Podemos seguir a evolução do homem. Por exemplo, nas entrevistas que tivemos acerca de "Volver", ele fala coisas sobre o tempo que passa, sua experiência com a vida até então etc. É sua própria trajetória como um ser humano que está em jogo. O cinema de Almodóvar está cheio de marcas muito pessoais, uma mistura que é possível e harmoniosa", afirma.
Sexualidade
Essa é uma reflexão que o próprio Almodóvar faz em suas entrevistas. Em filmes como "Má Educação" (2004) e "Volver" (2006), o cineasta conta histórias muito próximas daquilo que ele mesmo vivenciou. No primeiro, estão as questões ligadas à sua educação religiosa. Já o segundo diz respeito mais à região de onde ele vem.
Na linha do tempo traçada pela filmografia de Almodóvar, Strauss identifica uma mudança na maneira como o diretor aborda a sexualidade, um de seus temas mais caros.
"Nos primeiros filmes há uma vontade de abordar coisas que são tabus, de mostrar a sexualidade no centro das histórias, de maneira fantasiada e ao mesmo tempo séria. À medida que o tempo passa, no entanto, vemos que a sexualidade se torna algo mais complexo, quase filosófico. Caso de "Fale com Ela", em que se trata do desejo proibido. E, novamente, de um tabu terrível, porque é o desejo de fazer amor com uma mulher que está em coma", diz Strauss.
Nos 15 anos de conversas com Almodóvar, Strauss também percebeu mudanças na personalidade do diretor. No começo da década de 90, Almodóvar ainda refletia a grande agitação cultural que a Espanha experimentava. E mais: o diretor acabava de encontrar sua independência com a produtora El Deseo. "No começo da carreira, o grande objetivo de Almodóvar era fazer filmes e viver algo intenso.
Mas, pouco a pouco, ele, que sempre foi alguém com paixão pelo cinema, passou a ser um diretor que tem muito mais controle das coisas e desejo de refletir sua prática do cinema. Sua ambição, hoje, é ser um grande artista."
Conversas com Almodóvar
Autor: Frédéric Strauss
Tradução: Sandra Monteiro e João de Freire
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 44,90 (312 págs.)
"Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos" (1988) foi o primeiro grande sucesso comercial e de crítica do diretor espanhol Pedro Almodóvar. O mundo do cinema era então apresentado a um cineasta cujas marcas registradas eram a imaginação, a originalidade e as tintas barrocas, na trama, nas atuações, na direção de arte e até no mesmo figurino.
Aparentemente tão espontâneo, o diretor se revela bem mais reflexivo no recém-lançado "Conversas com Almodóvar", livro do francês Frédéric Strauss. Jornalista, crítico de cinema, ex-chefe de Redação da conceituada revista francesa "Cahiers du Cinéma", Strauss é dono de um feito: ter conseguido, ao longo de cerca de 15 anos, convencer Almodóvar a dar extensas entrevistas, algo a que é normalmente avesso.
Strauss, que dividiu seu livro por filmes e temas, disse que inicialmente não esperava do diretor uma reflexão mais profunda sobre o cinema ou sobre sua obra. "Então me surpreendeu ver o nível de reflexão que ele tem sobre seu próprio trabalho. Almodóvar realmente sabe o que quer fazer; seu trabalho é muito pensado, refletido. O que não o impede de ser muito espontâneo. Seus filmes não são intelectuais ou cerebrais, mas vivos e generosos, há um equilíbrio nele entre a inteligência e o instintivo, o espírito e o corpo", diz Strauss.
O livro de Strauss pode ser encarado como uma espécie de biografia de Almodóvar contada por meio de seu cinema. O jornalista diz que é possível encontrar, ao longo da carreira de Almodóvar, toda sua trajetória.
"Podemos seguir a evolução do homem. Por exemplo, nas entrevistas que tivemos acerca de "Volver", ele fala coisas sobre o tempo que passa, sua experiência com a vida até então etc. É sua própria trajetória como um ser humano que está em jogo. O cinema de Almodóvar está cheio de marcas muito pessoais, uma mistura que é possível e harmoniosa", afirma.
Sexualidade
Essa é uma reflexão que o próprio Almodóvar faz em suas entrevistas. Em filmes como "Má Educação" (2004) e "Volver" (2006), o cineasta conta histórias muito próximas daquilo que ele mesmo vivenciou. No primeiro, estão as questões ligadas à sua educação religiosa. Já o segundo diz respeito mais à região de onde ele vem.
Na linha do tempo traçada pela filmografia de Almodóvar, Strauss identifica uma mudança na maneira como o diretor aborda a sexualidade, um de seus temas mais caros.
"Nos primeiros filmes há uma vontade de abordar coisas que são tabus, de mostrar a sexualidade no centro das histórias, de maneira fantasiada e ao mesmo tempo séria. À medida que o tempo passa, no entanto, vemos que a sexualidade se torna algo mais complexo, quase filosófico. Caso de "Fale com Ela", em que se trata do desejo proibido. E, novamente, de um tabu terrível, porque é o desejo de fazer amor com uma mulher que está em coma", diz Strauss.
Nos 15 anos de conversas com Almodóvar, Strauss também percebeu mudanças na personalidade do diretor. No começo da década de 90, Almodóvar ainda refletia a grande agitação cultural que a Espanha experimentava. E mais: o diretor acabava de encontrar sua independência com a produtora El Deseo. "No começo da carreira, o grande objetivo de Almodóvar era fazer filmes e viver algo intenso.
Mas, pouco a pouco, ele, que sempre foi alguém com paixão pelo cinema, passou a ser um diretor que tem muito mais controle das coisas e desejo de refletir sua prática do cinema. Sua ambição, hoje, é ser um grande artista."
Conversas com Almodóvar
Autor: Frédéric Strauss
Tradução: Sandra Monteiro e João de Freire
Editora: Jorge Zahar
Quanto: R$ 44,90 (312 págs.)
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